A Ideia era Boa...

Essa versão do clássico romance de H.G. Wells de 1898 foi filme foi dirigido por Rich Lee, escrito por Kenneth A. Golde e Marc Hyman, e estrelado por Ice Cube e Eva Longoria nos papeis de mais destaque. Foi lançado pela Universal Pictures no Amazon Prime Video.
O filme acompanha Will (Ice Cube), um homem comum tentando proteger a família durante uma invasão alienígena e analista de segurança interna dos EUA, que controla o programa Golias. O programa vigia a tudo e a todos, podendo até mesmo ouvir o que qualquer pessoa fala ao celular, ou descobrir o que está jogando na Steam e apagar o jogo (?).
Will passa os dias preso em chamadas de vídeo, evitando problemas de segurança do governo americano, até que sua tela se transforma em palco de uma catástrofe global. Só que, em vez de tripods gigantes destruindo cidades, os inimigos aqui são… alienígenas que atacam a rede. Que se alimentam de dados.
Toda a narrativa acontece em formato “screenlife”, ou seja, através da tela de um computador: videochamadas, notificações, pop-ups, etc. Bem inspirado em filmes como o excelente Searching.

É assim que acompanhamos Will interagindo com colegas de trabalho, autoridades governamentais e sua própria família, com quem tem uma relação controladora, enquanto o mundo vai colapsando.
O filme começou a ser produzido em 2020, na época da pandemia, quando o isolamento social estava em seu pico, ou seja, era uma boa ideia sobre estar isolado numa espécie de bunker enquanto vê o mundo desabar com seus familiares e amigos sendo do lado de fora.
No papel, a ideia até parecia promissora. Reimaginar a Guerra dos Mundos no século XXI tinha potencial: trocar raios por ataques digitais, mostrar alienígenas explorando a vulnerabilidade da humanidade diante da dependência tecnológica. O formato “screenlife”, com a trama acontecendo na tela de um computador, poderia ser ousado, no melhor estilo Black Mirror, e havia até chance de criticar o poder das grandes corporações na nossa vida.
A premissa era boa. O problema foi a execução.
...Mas a Execução
Aqui é onde tudo desmorona: desde a escolha de Ice Cube como protagonista e sua completa falta de expressões faciais, até a terrível montagem do filme.
Enredo incoerente e diálogos constrangedores
Com um diálogo incoerente e por vezes constrangedores, o filme nos apresenta alienígenas famintos por dados, hackers adolescentes, Microsoft como salvadora da humanidade. Se o roteiro fosse escrito pelos macacos de Lex Luthor do Superman de James Gunn, talvez tivesse um resultado melhor.
O modo como Will consegue descobrir o endereço físico de um hacker é tão fácil que faria qualquer profissional de TI chorar sangue.
As falas são constrangedoras e arrancam mais risadas de vergonha alheia do que fazem sentido narrativamente, como as piadinhas e frases de efeito de Will em momentos terríveis onde o mundo está um caos.
A falta de verossimilhança é latente e nos impede de acreditar minimamente nesse cenário. Situações absurdas como: Uma cientista da NASA que faz contato imediato de primeiro grau com um meteoro/objeto voador não identificado que acabou de cair na Terra, sem a menor pesquisa, sem uma distância segura, sem equipamentos de segurança, sem ao menos um par de luvas. Ou uma bióloga premiada que desconhece que médico algum recomendaria arrancar um pedaço de ferro de um ferimento para evitar uma hemorragia.

O tempo da narrativa é tão bagunçado que, ao mesmo tempo em que uma decisão de tomar a ofensiva contra os invasores é tomada, todos os governos mundiais unem seus exércitos e partem em comboios para o contra-ataque, o que levaria dias para organizar, e nesse mesmo tempo a filha de Will fica presa em escombros no meio da rua, com a perna ferida, esperando o pai salvá-la usando um... Tesla.
Simplesmente não sabemos se a mulher ficou ali por dias, ou se o mundo está em velocidade 4x, para todos os exércitos do planeta se organizarem e contra-atacar nos mesmos minutos que a filha de Will espera por socorro através de um Tesla facilmente hackeado.
Aliás, acho que nenhum dono de Tesla, assim como a empresa, achou de bom-tom parecer que seus carros são tão fáceis de hackear, não?
E por que não falar do plot twist previsível que surpreende zero pessoas? Ele se apresenta logo no início do filme e não precisa ser um exímio conhecedor narrativo para pescá-lo. Mas vale a pena só para rir no final do filme ao ver Will roubar uma ideia/trabalho e levar os créditos por ele.

Formato “screenlife” em excesso

Contar a história inteira pela tela de um computador poderia funcionar se bem editado e no ritmo certo. Mas aqui vira tortura: duas horas de chamadas de vídeo, notificações e janelas pipocando sem parar. Zoom em rostos a todo momento.
A edição opta por um exagero de janelas e sobreposições que não dá um respiro e o que devia ser um formato dinâmico causa uma sensação incomoda, o telespectador mal se acostuma com um detalhe e outro pipoca na frente.
Como uma página da web com milhares de spams vibrantes piscando na sua frente. É desagradável de assistir.

CGIs Medíocres
Aqui poderia se usar a desculpa de que as imagens dos alienígenas não estão ótimas porque foram feitas por celulares em tempo real, mas em pleno 2025, quando o filme é lançado, temos celulares que filmam em 8K, então não tem desculpas para os efeitos tão ruins.
Tudo bem que o orçamento pode não ter sido alto, mas parecer um filme "B" genérico dos anos 90 é brincar demais com a boa vontade do público.

Ice Cube, o Cubo de Gelo
Se Ice tem carisma, não sabemos, porque nem isso o roteiro nos mostrou. O personagem é só um pai viúvo controlador que invade até a geladeira da filha para verificar a quantidade de calorias que ela está consumindo. E esse é o máximo da explicação de sua paternidade apática.

Ice também parece acreditar que o ápice de sua atuação em momentos onde se pede uma emoção extrema é um olhar congelado e uma boca aberta. E talvez um "Oh-My-God!", depois que a amiga explode ao vivo, enquanto a câmera se aproxima a cada sílaba verbalizada.
Sério, alguém dÊ um troféu framboesa para nossa estrela!
Propaganda Descarada
Tudo bem que sabemos que o filme é produzido pela Amazon Prime com a colaboração da Microsoft, etc., mas não precisa nos tirar da emersão a cada cinco minutos para nos lembrar disso, não é mesmo?
Fica parecendo que o verdadeiro invasor não são os alienígenas: é a Amazon. Drones heroicos, logos tomando a tela, serviço de entregas que, apesar do fim do mundo eminente, não para só para salvar o planeta. A empresa não se contenta em apenas financiar o filme, ela quer ser a heroína dele.

O Massacre
Por esses e por vários outros motivos que não vou citar aqui (pois o review ficaria enorme, maior que o roteiro do filme em si provavelmente), a crítica massacrou Guerra dos Mundos de 2025.
O filme entrou direto para o ranking dos 100 piores já feitos. O The New York Post chamou de “um dos piores da década”, a Wired o descreveu como “propaganda disfarçada de cinema”; e até veículos menos maldosos disseram que é "risível, incoerente e constrangedor".

No Rotten Tomatoes, em sua estreia, o filme abriu com uma nota de 0% de aprovação pelos críticos, mas, conforme foram aparecendo mais reviews, esse número se elevou um pouco, chegando a 3% de aprovação.
Já pelo público, os números são um pouco melhores: começou em cerca de 12% e subiu para cerca de 22% de aprovação.
Entre os 10 Mais Assistidos?
Muitos podem se perguntar por que um filme tão ruim, tão detonado pela crítica e por quem assiste, ficou entre os tops 10 mais assistidos e a resposta é bem simples:
O filme virou uma espécie de evento trash coletivo. As pessoas não estão vendo porque é bom, estão vendo porque virou assunto, é absurdo e porque o próprio fracasso o transformou em uma atração bizarra.

Isso acontece quando a internet inteira começa a falar que um filme é um dos piores já feitos, aí muita gente vai assistir só por curiosidade. É o clássico efeito meme: ver com os próprios olhos para depois comentar nas redes.
E também é preciso levar em conta o fato da Amazon empurrar o filme no catálogo com toda força, banners, trailers e destaque na home do Prime Video. E claro: sendo um filme produzido pela própria Amazon, ele já chega com holofote garantido.
Vale a Pipoca?
Se você estiver ocioso, quiser passar vergonha alheia, raiva, perder tempo e não levar nada de interessante dessa experiência, sim.
Agora, se quer poupar seus olhos e sua mente dessa bizarrice, pode ficar com a versão do Spielberg de 2005 (embora muitos não gostem, é com certeza uma versão muito, muito melhor).
Ou com a versão de 1953, que entrou para o Hall da Fama da Academy of Science Fiction, Fantasy & Horror Films em 1978 e foi aclamada pelos críticos como uma excelente produção e até hoje tem 89% de aprovação dos críticos e 71% do público no Rotten Tomatoes.
Mas me diga, você é do tipo que assiste para falar com propriedade o quanto é ruim ou prefere gastar seu tempo com algo de melhor qualidade? Nos conte nos comentários!

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