Depois de “28 Days Later” e seu sucessor, “28 Weeks Later”, a franquia retorna para seu terceiro filme, quase 20 anos depois. Dirigido por Danny Boyle (que também dirige os outros dois filmes da franquia e outros sucessos como "Trainspotting") e escrito pelo premiado Alex Garland (que também escreve o primeiro filme da franquia e outros como “Ex-Machina”), a franquia volta ao time criativo original e propõem caminhos e abordagens completamente novas nesse universo.
Abraçando uma estética ousada e imbuído de uma direção prepositiva, o filme empolgou muito os fãs da franquia e os apreciadores do gênero. A publicidade agressiva vendeu o filme como um grande retorno, com uma pegada de terror ainda mais forte e com novos personagens, uma nova trama e o seguimento da expansão desse universo. Infelizmente a entrega pode ser um pouco frustrante.
Enredo
Durante a publicidade do filme, pouco do enredo foi contado, suspendendo a narrativa e criando um mistério sobre o que ela poderia ser.
A trama gira em torno de uma família que mora em uma ilha que não foi contaminada pelo vírus. A ilha vive em perfeita harmonia, tem animais e plantações. Recursos escassos mas racionais para um bom funcionamento.
A chegada de novos recursos depende do pai da família, que é um caçador, que sai em busca de utensílios e mantimentos para a ilha. A trama começa quando o filho, de 12 anos, vai caçar pela primeira vez com o pai. Deixando a mãe, doente e delirante em casa.

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A missão é um fracasso, pai e filho quase morrem e são salvos por pouco do que é introduzido como um Zumbi “Alfa”. Ao retornar para ilha, mesmo sem trazer nada de relevante, pai e filho são tratados como heróis, mas o jovem filho descobre que o pai se utiliza do sucesso para trair a mãe.
Num misto de ódio e irresponsabilidade, o jovem descobre sobre um estranho médico na região, que curiosamente nunca havia sido mencionado antes, mesmo com o quadro insistente de delírios da mãe doente, e decide sair da ilha com a mãe a fim de buscar a cura para o que ela tem.
Uma decisão completamente impulsiva, beirando a estupidez, visto que na missão anterior o garoto já tinha demonstrado não conseguir acertar uma flecha em um alvo que não estivesse completamente parado. Ainda sim, a missão mais importante começa: Salvar a vida da própria mãe.

Pontos fortes
A direção do filme é um grande acerto, inegavelmente. Desde a construção dos cenários, figurinos e universo, com uma direção de arte impecável, até a construção de tensão presente em cada enquadramento e em cada movimentação de personagem. As ousadas proposições de Danny Boyle, surpreendem.
Tecnicamente falando, o filme também propõe inovação no cinema! Usando iPhones, o diretor filmou a mesma cena em vários ângulos, transformando a ação em um movimento original que soa quase como um movimento de “execução” de vídeogame.
Diferente dos outros dois filmes, a direção de Boyle aqui parece ter um comentário. Decidir filmar e montar dessa maneira é quase como dizer que cada morte ali tem um impacto. Mesmo o infectado mais patético parece morrer com um peso único.
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A trilha sonora, que mistura sons do mundo real, como chamados de exército, junto a uma trilha musical forte, acentuada pelos sons do ambiente, cria uma atmosfera singular em que você está sempre tensa.
É inegável a ousadia do diretor de fazer isso numa franquia de zumbis. Sobretudo numa franquia com uma proposta já consolidada, se permitir inovar e criar em cima disso é arriscado, mas aqui foi muito recompensador.

Pontos fracos
O principal problema do filme é seu desprendimento deliberado em construir um bom roteiro. A narrativa é dramática e até tem um tom e linha temática clara, mas é brutalmente jogada fora em um roteiro obsoletamente repleto de conveniências, incoerências e pontas soltas sem sentido.
O desenvolvimento das duas “missões” fora da comunidade não surpreende em nada. É cheio de desafios, encontros com aliados que ajudaram a passar de certos obstáculos e quando não são mais úteis são brutalmente descartados pela simples conveniência da trama.
O final é direto, previsível e quase infantil, de maneira que chega a ser desanimador. O desejo de que o filme tenha uma parte dois, amarrada por uma cena de abertura sem nexo conectado a um encerramento forçado e completamente fora do tom do filme, chega a ser maior que a própria mensagem temática que o filme estabelece. Afinal ela é tão vazia que qualquer cena de ação pirotécnica consegue chamar mais atenção.

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Opinião pessoal
Honestamente, parece que aqui a ganância pela inovação e o desejo de mais um filme para a franquia apaga a possibilidade de um desenvolvimento sólido. A trama parece ter pressa para acabar e tentar expandir, sem sucesso, um interesse no universo, mas esquece de desenvolver isso narrativamente.
A insistência em abrir tramas e mistérios que parecem interessantes a princípio, mas são esquecidos e jogados fora sem nenhuma mísera explicação é frustrante e ao final do filme só te levam a encarar o filme como um grande primeiro ato.
Por fim, é necessário falar que é de um mau gosto imenso que o gancho para o próximo filme seja uma alusão à uma figura pública conhecida amplamente por violentar centenas de menores de idade. (Acredite, isso não é nenhum spoiler sobre a trama do filme) Difícil ter interesse em ver uma sequência.
Conclusões
Um filme com um bom roteiro, mas com uma direção ruim, ainda é uma boa história. Um filme com um roteiro decadente, mas com imagens bonitas, é só um álbum de fotografia.
28 Years Later promete, mas não consegue cumprir quase nada. Se perde em ambições megalomaníacas e esquece de fazer o básico: Te contar uma história cativante.
E você? O que achou do terceiro filme da franquia? Conta pra gente nos comentários!
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