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Review de Caramelo: Patrimônio Brasileiro Conquistando o Mundo

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Repleto de resiliência e afeto, o longa pode ajudar a traçar um paralelo entre o espírito do vira-lata e a alma do brasileiro, assim como marcar em definitivo o “caramelo” como símbolo nacional para o mundo.

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revisado por Tabata Marques

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O Enredo de Caramelo

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O novo longa Caramelo, dirigido por Diego Freitas, chegou à Netflix em 9 de outubro de 2025 e não demorou para se tornar um dos maiores sucessos recentes da plataforma, não apenas no Brasil, mas também no ranking internacional.

Produzido pela Migdal Filmes em parceria com a Netflix, com uma história simples, mas carregada de humanidade, Caramelo traz em seu elenco Rafael Vitti (Pedro), Amendoim (Caramelo), Arianne Botelho, Noemia Oliveira, entre outros. E roteiro do próprio Diego Freitas, Rod Azevedo e Vitor Brandt.

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A história acompanha Pedro (Rafael Vitti), um jovem sous chef que sonha em se tornar chef. E quando seu sonho parece estar se realizando, um diagnóstico médico desconfigura seus planos e o obriga a encarar sua própria vulnerabilidade.

No meio dessa reviravolta emocional, ele conhece Caramelo, um vira-lata de pelagem dourada interpretado pelo carismático cão Amendoim. Esse encontro improvável transforma o percurso de Pedro e o dog se torna um símbolo de força, afeto e recomeço.

Caramelo caiu no gosto do público e, nos rankings da Netflix, já figura entre os mais assistidos no mundo e nos EUA. A repercussão foi muito positiva, com espectadores emocionados e elogiando a química entre Pedro e Caramelo.

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Com a crítica especializada também não fez feio: A Common Sense Media, por exemplo, aponta que Caramelo é um drama emocional e intenso, com temas fortes como câncer e os perigos que os animais correm por viverem nas ruas.

Já o Rotten Tomatoes, assim como outras plataformas, destaca que o filme "destrói corações" e emociona bastante, sendo chamado de filme “feel-good” com toque dramático.

Outros reviews elogiam a simplicidade, não é espetacular, nem ambicioso, mas funciona bem como um filme sincero, com foco no vínculo afetivo.

O Vira-Lata Brasileiro

No Brasil, a palavra “vira-lata”, por muito tempo, foi usada de forma pejorativa.

Era o “cachorro de lata”, a pessoa em destino, sem futuro como "bicho" sem dono, sem status, sem pedigree, ou seja, pessoas sem condições sociais.

A expressão "síndrome de vira-lata" também se refere ao lado brasileiro de preferir consumir produtos da cultura internacional, colocando-os acima do produto nacional. Como um cão vira-latas que vive dos restos das mesas alheias.

Na cultura urbana, o vira-lata era quase sinônimo de desordem, pobreza, acaso.

Por outro lado, a expressão “vira-lata caramelo”, no imaginário brasileiro, aquele cachorro sem raça definida, de pelagem dourada ou amarelada, que parece estar em todo lugar, nas esquinas, nas praças, nos postos de gasolina, nos portões das casas simples, ou dormindo sob o sol do meio-dia. É o cachorro que atravessa gerações e geografias, aquele que todos já tiveram, ou ao menos já viram passando, com olhar manso, língua para fora e orelhas alertas.

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Esse dog de aparência tão comum ganhou o posto de mascote nacional, um arquétipo do Brasil cotidiano, não o Brasil das vitrines, mas o das calçadas. Ele não é fruto de criação planejada, mas da convivência espontânea entre raças, da mistura que faz do país o que ele é, um mosaico de origens.

Então, na era digital, o cachorro caramelo não demorou para ganhar as redes sociais, e hoje é um meme consolidado mundialmente. Sua ascensão nas redes sociais figura desde meados de 2019, como um “símbolo de brasilidade universal”.

Deixou de ser um cachorro genérico para se tornar um personagem coletivo, tão cultural quanto o Cristo Redentor ou o café brasileiro.

Tornou-se presença constante em memes, campanhas de adoção e até protestos simbólicos. Frases como “isso representa o Brasil mais do que samba ou futebol” circulam pela internet, consolidando sua imagem como uma metáfora viva do povo brasileiro: mestiço, esperto, resiliente e incrivelmente sociável.

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O KnowYourMeme registra o caramelo como um dos memes culturais mais icônicos da América Latina, destacando como a expressão “vira-lata” ganhou novos contornos de pertencimento e ternura. Já a AP News comenta o fenômeno sob uma visão mais antropológica: o cachorro sem dono se tornou o retrato de um país que encontra beleza no improviso e força na fragilidade.

O vira-latas caramelo é um tipo de cão comum que, sem perceber, virou alegoria de um país inteiro.

O Brasileiro e o Vira-Latas

Talvez, um dos motivos pelos quais os brasileiros amam tanto o caramelo é o fato de esse vira-latas, mistura de pai sem raça e mãe sem nome, fazer um paralelo tão fácil ao que é legitimamente do país. Aspectos do que ele representa, de como ele sobrevive e de como é tão sem dono e ao mesmo tempo por todos conhecido.

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Uma alegoria viva do que significa ser brasileiro em sua forma mais essencial, adaptável, resistente, generoso e, acima de tudo, improvável.

Esse paralelo entre o cão e o povo nasce da capacidade simbólica que o Brasil tem de se reconhecer no que é imperfeito, de ver beleza e/ou utilidade no que o mundo descartaria.

A sobreposição entre o real e o simbólico

No plano real, o caramelo é o cão de rua, sem raça, sem dono, sem privilégios.

No plano simbólico, ele representa o brasileiro médio, o cidadão comum que enfrenta o dia com o que tem, e não com o que gostaria de ter. Ambos partilham o mesmo território da sobrevivência cotidiana, as ruas, os improvisos, as soluções criativas diante da escassez.

O caramelo, assim como o brasileiro, não nasceu para o conforto, mas para a adaptação.

A transformação da marginalidade em identidade

Durante décadas, “vira-lata” era insulto. Na linguagem popular, designava o que era inferior, misturado, sem pureza, a herança da ideia colonial de que o valor vinha de fora, da Europa, do “pedigree”. Mas o Brasil tem um talento quase alquímico, o de transformar a falta em oportunidade.

Com o tempo, o vira-lata caramelo deixou de ser símbolo de abandono e virou bandeira de pertencimento. O mesmo aconteceu com o próprio brasileiro, que aprendeu a rir da tragédia, a criar arte no caos, a tirar música da dor.

É essa virada simbólica que torna o caramelo um espelho, ele reflete a habilidade nacional de transformar estigma em estilo.

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A ética do improviso

O caramelo não segue manual, ele inventa o caminho. Ele aprende onde dormir, com quem andar, como conseguir comida.

Essa lógica do improviso, tão brasileira, é o que move tanto o cachorro quanto o povo. É o mesmo espírito que construiu o carnaval, o samba, a gambiarra, o “jeitinho” (quando nobre/legal), a arte de resolver o insolúvel com criatividade e humor.

O caramelo simboliza essa ética de quem não tem tudo planejado, mas dá um jeito, e, às vezes, é esse jeito que nos salva.

O valor no simples

Enquanto o mundo exalta o exótico e o luxuoso, o caramelo nos lembra o valor do comum. Ele não tem coleira importada, não aparece em comerciais, mas está em todo lugar.

Do mesmo modo, o brasileiro se reconhece nas pequenas coisas, o café de coador, a roda de conversa, o abraço apertado. O caramelo é o antipersonagem que nos reaproxima da humanidade, uma espécie de lembrete de que o essencial nunca precisou de pedigree.

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A emoção como força

No Brasil, emoção e razão sempre andam de mãos dadas. É um povo que sente antes de pensar, que reage com o coração, e o caramelo encarna isso.

Ele é emoção pura, afeto instintivo, fidelidade cega. É o símbolo da ternura desarmada, da empatia espontânea, o mesmo impulso que faz o brasileiro ajudar um desconhecido, chorar com uma novela, rir de si mesmo no meio da crise.

O espelho do coletivo

O caramelo não é propriedade de ninguém, e talvez por isso pertença a todos.

Ele é símbolo coletivo, uma identidade compartilhada entre ricos e pobres, norte e sul, cidade e interior. É um arquétipo que ultrapassa classe e ideologia, o bicho comum que se tornou ícone daquilo que nos une.

Quando o Brasil se vê nesse cão, não é apenas empatia, é reconhecimento.

É como olhar no espelho e enxergar, naquele pelo dourado, o reflexo de uma nação inteira tentando continuar, cansada, confusa, ansiosa, mas viva.

A conclusão é que fazer o paralelo entre o vira-lata caramelo e o espírito brasileiro é reconhecer que a identidade nacional não está nas vitórias grandiosas, mas nas resistências miúdas. Ele representa o Brasil que sobrevive, que se reinventa, e encontra alegria mesmo nos dias chuvosos.

Ele é, ao mesmo tempo, a nossa carência e o nosso encanto, a nossa tragédia e o nosso riso.

E certamente o longa conquistou o coração do brasileiro e está conquistando o mundo, por causa dessa identificação automática de uns e do encanto que causa a outros.

Destrinchando o Filme Caramelo

O filme cumpre bem o papel de divertir, identificar e emocionar, mas claro, tem pontos altos e outros que podiam ser melhores, apesar de tudo.

Vamos dar uma listada neles para quem prefere saber para assistir com a expectativa correta.

Pontos Fortes

O carisma absoluto de Amendoim (o cão Caramelo)

O filme é um triunfo canino. Amendoim não atua, ele existe em tela com uma naturalidade tão humana que faz a gente esquecer que é um animal.

Os olhares, as expressões... Impossível não se encantar com os olhos escuros do Caramelo. Sério, melhor ator do filme!

Fotografia e ambientação emocional

A paleta quente, os tons de entardecer, a luz naturalista, tudo conversa com a simbologia do “caramelo”, a cor do dog, do cotidiano, do Brasil.

O diretor Diego Freitas criou uma intimidade visual agradável para o filme, as cenas no quintal, nas ruas e na cozinha do protagonista têm alma. É um filme visualmente acolhedor.

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Roteiro que mistura dor e ternura

Mesmo sem ser revolucionário, o texto acerta no tom emocional. Ele não tenta ser “triste apenas pelo drama”, mas também não banaliza a dor. Há lições simples, mas universais: amizade, despedida, recomeço, narradas com delicadeza.

Identidade cultural brasileira

Caramelo é uma carta de amor ao Brasil das ruas. O Brasil da música, dos sotaques, das casas simples, das comidas nas panelas de mães.

Não tem glamour e isso é lindo. Ele devolve ao público a sensação de que o ordinário pode ser poético, de que aquele dog de rua pode ser o motivo de alguém para continuar mais um dia.

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Pontos Fracos

Ritmo irregular por Plots demais

Há momentos em que o filme parece indeciso entre ser drama humano, comédia leve ou história de superação.

Alguns subplots, como o conflito profissional de Pedro ou o problema com o abrigo de cães, são apressados e não têm peso suficiente para justificar o tempo de tela que recebem. O segundo, aliás, não seria necessário e o uso do food truck de coxinha poderia ser por outro motivo.

Trilha sonora repetitiva

A trilha é bonita, mas uma das músicas se repete bastante e isso pode cansar em determinado ponto.

Em algumas cenas, o silêncio falaria mais alto, e isso faz falta para momentos pontuais da trama.

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Algumas atuações secundárias

Enquanto Vitti e Amendoim carregam o filme, alguns coadjuvantes soam artificiais, especialmente nas cenas cômicas ou sentimentais.

Isso destoa do tom naturalista que o protagonista sustenta, deixando o espectador um pouco fora da imersão.

Vale a pena assistir Caramelo?

Caramelo é um filme gentil, com cheiro de pão de queijo e cafezinho brasileiro numa tardezinha de chuva.

Ele te abraça e você sente familiaridade naquele abraço, porque se vê nele, seja um brasileiro especialista em caramelos ou um dono que ama seu pet.

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Ele é o tipo de filme que o Brasil precisava sem saber, sem novos discursos sobre como a ditadura é ruim (sim, sabemos disso), sem drogas e troca de tiros entre traficantes e policiais nas comunidades (o Brasil é mais do que isso).

Não tenta reinventar a roda, e nem precisa. Sua força está na simplicidade honesta, um homem, um cachorro, e o mundo que continua em volta deles. Foi feito não para ensinar algo novo, repetir o que sempre é apresentado como cultura brasileira, mas para lembrar o que somos: Vira-latas caramelo sobrevivendo, amando e dançando entre os escombros.

Se você se vê assim e quer sentir esse abraço, pega a pipoca e aperta o play.

Já viu Caramelo na Netflix? Conta para mim: chorou, riu, ou se apaixonou pelo doguinho também?

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