Inspirado em Uma Experiência Real
A série é um drama estrelado por Park Bo-young, Yeon Woo-jin, Jang Dong-yoon e Lee Jung-eun, dirigido por Lee Jae-kyoo (diretor de "All of Us Are Dead") e baseado na webtoon criada pela autora Lee Ra-ha, que, como ex-enfermeira, produziu uma obra inspirada em suas experiências profissionais.
A história acompanha Jung Da-eun (Park Bo-young), uma enfermeira clínica geral do Hospital Universitário Myungshin, que, por sugestão da médica de sua equipe, se transfere para o departamento psiquiátrico do hospital para auxiliar as enfermeiras dessa ala.

Jung Da-eun é extremamente empática, colocando o bem-estar dos pacientes como uma de suas prioridades, o que a torna querida por eles. No entanto, essa empatia também a faz sentir-se mal, acreditando ser um estorvo para as colegas de trabalho, pois pensa que atrasa o andamento ao dar atenção exagerada a um paciente. Nesse aspecto, percebemos sua falta de confiança e autoestima, características que mais tarde pesarão em sua vida.

No mesmo hospital está o Dr. Go-yun (Yeon Woo-jin), um proctologista e genial cirurgião colorretal que sofre de TOC, com o hábito compulsivo de estalar os dedos. Seu transtorno gera situações cômicas entre ele e seus pacientes, já que as juntas de seus dedos engrossam devido à mania. Em contraste com Da-eun, Go-yun tem uma personalidade prática, mas leve, servindo, em várias ocasiões, como uma âncora emocional para os amigos e se tornando um grande apoio para Da-eun no futuro.
Temas Complexos, Desenrolar Sensível
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Estudos mostram que a exposição saudável ao sol promove a produção de vitamina D, substância que pode desempenhar um papel neuroprotetor, influenciando a síntese de serotonina e a plasticidade cerebral – fatores importantes em condições como ansiedade e depressão. Em contrapartida, a deficiência de vitamina D está associada a riscos maiores de depressão, TDAH, ansiedade e até suicídio.
Nesse contexto, a série acerta ao escolher o título “Uma Dose Diária de Sol”, apresentando temas delicados como uma luz cálida que aquece, mas não machuca.
Essa sensibilidade é evidente desde o primeiro episódio, em que Da-eun cuida de sua primeira paciente, Oh Ri-na, que sofre de transtorno bipolar. Em uma cena onde sua condição se revela ao público, Oh Ri-na se despe e dança pelos corredores da ala psiquiátrica. Essa dança é retratada de forma sublime, como um ato de libertação: Oh Ri-na dança livremente dentro de sua mente, despida das pressões e alheia às expectativas impostas pela sociedade.

Esse ato simbólico ilustra bem o transtorno da paciente, assim como a cena seguinte, onde, ao ser coberta pelos enfermeiros, Oh Ri-na acaba urinando-se, expondo a dura realidade de lidar com essas situações – tanto para quem sofre quanto para quem cuida.
Em outro episódio, que aborda a síndrome do pânico, Song Yu-chan (Jang Dong-yoon), melhor amigo de Da-eun, sente-se cercado por água, preso e se afogando, incapaz de respirar ou emergir do turbilhão mental e emocional que caracteriza um ataque de pânico.

Sabemos que muitos transtornos mentais não podem ser plenamente explicados em palavras. Mesmo quem sofre tem dificuldade para compreendê-los completamente. Por isso, o uso de representações simbólicas torna mais fácil para os que estão de fora entenderem.
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Um Tabu
Quase metade dos sul-coreanos já teve ou tem depressão, mas o medo do estigma – seja familiar, escolar ou profissional – impede que essas pessoas falem sobre o assunto. Um estudo conjunto do Chosun Ilbo e do Grupo de Pesquisa em Cultura da Saúde da Universidade Nacional de Seul entrevistou 1.000 sul-coreanos com 18 anos ou mais. Os resultados mostraram que, em 2025, 49,9% deles relataram depressão, comparado a 11,5% em 2018 e 26,2% em 2021. Pensamentos suicidas e automutilação também se tornaram mais comuns: 22,2% declararam ter tais pensamentos este ano, frente a 4,6% em 2018.

Mesmo assim, 88,3% dos entrevistados afirmaram que tendem a ignorar, minimizar e suportar os problemas de saúde mental. Um em cada quatro (25,7%) não compartilha seus sentimentos nem com familiares, nem com amigos.
Eles relutam em procurar ajuda ou se abrir, devido ao estigma social e à discriminação no trabalho, o que pode custar empregos ou amizades.
Com esses dados, podemos admirar o mérito da série ao tratar de um tema tabu na Coreia do Sul e contribuir para a conscientização dos telespectadores. Esse tipo de influência transforma um simples dorama em uma obra essencial.

No Brasil, estamos mais abertos a discutir saúde mental, mas ainda longe do ideal, em grande parte devido à falta de acesso a profissionais e clínicas públicas especializadas. Além disso, o estigma persiste, representado por atitudes como a ideia de que “psiquiatra é coisa de maluco.”
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Séries como “Uma Dose Diária de Sol” são importantes para sensibilizar o público sobre a saúde mental e deveriam ser recomendadas a todos aqueles que podem assistir sem sofrer gatilhos.
Cuidado, Gatilho
Como era de se esperar, o dorama aborda transtornos como automutilação e suicídio, temas que podem ser difíceis para algumas pessoas. É importante estar atento a possíveis gatilhos emocionais.

Alguns episódios, mais intensos, são melhores digeridos com pausas. Para muitos, a série talvez não seja ideal para maratonar, mas sim para assistir aos poucos, refletindo sobre os temas abordados. No entanto, se você der uma chance, o dorama certamente valerá a pena.

O Lado Humano
Outro ponto interessante de “Uma Dose Diária de Sol” é como a série retrata as enfermeiras ao redor de Da-eun, destacando seus conflitos e problemas pessoais.
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A série mostra o lado humano: elas sofrem e enfrentam desafios diários, mas continuam se doando para cuidar dos pacientes, cientes de como essas pessoas necessitam de atenção especial. Essas personagens não estão ali apenas para apoio; elas enriquecem a trama, aprendendo com os pacientes e reconhecendo seus próprios limites.

De Enfermeira a Paciente
Em uma reviravolta na trama, vemos Da-eun sucumbir após uma tragédia. A empática e querida enfermeira torna-se a paciente, precisando ser medicada e monitorada. Ela tem dificuldade em aceitar que sua saúde mental está comprometida.
Isso reflete o que muitas pessoas enfrentam, não é? Talvez até mesmo nós.

“Como assim eu tenho depressão? Como assim eu tenho Transtorno de Ansiedade Generalizada?”
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É comum não aceitarmos que temos transtornos, como se isso nos tornasse fracos ou inferiores. Mas isso pode acontecer a qualquer pessoa, e não é culpa nossa. Aprendemos, junto com Da-eun, a aceitar nossa condição e permitir que cuidem de nós. A nos valorizar e nos amar.

Já passou da hora de deixarmos o preconceito de lado e buscarmos informação. Precisamos cuidar de nós mesmos e aprender a conviver com possíveis transtornos, sem deixar que eles nos definam.
Meu Lugar de Fala
Como uma pessoa que tem autismo nível 1, TDAH e que sofre com ataques de pânico, essa série me tocou profundamente. Fiquei feliz ao ver o respeito com que os atores e a direção trataram um assunto ainda tão tabu, mas que faz parte do meu dia a dia.

Precisamos de mais produções assim, que abordem o tema de forma sensível e informativa, respeitando os pacientes e mostrando como bons profissionais podem ajudar na evolução dos casos.
Deixo minha recomendação, do meu lugar de fala.
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E você, daria uma chance para “Uma Dose Diária de Sol” e veria a saúde mental sob uma nova perspectiva?

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