A Série The Untamed e a cena danmei
Antes de se tornar conhecida na Netflix, o c-drama The Untamed nasceu de forma muito mais discreta, como uma webnovel (Mo Dao Zu Shi) publicada online pela autora sob o pseudônimo de Mo Xiang Tong Xiu, uma das mais influentes da cena danmei, gênero literário chinês focado em histórias de romance entre personagens masculinos, popular entre um público feminino, é uma adaptação do gênero japonês Boys' Love/BL.

O romance original, Mo Dao Zu Shi, era uma história ousada dentro do contexto chinês com profundidade emocional, explicitamente romântica e centrada na relação entre dois rapazes, Wei Wuxian e Lan Wangji. Publicada capítulo a capítulo na plataforma JJWXC, a obra rapidamente conquistou milhares de fãs e foi essa força orgânica do público que chamou a atenção da Tencent, uma gigante chinesa do entretenimento.
A adaptação televisiva da obra teve lançamento em 2019, com investimento em figurinos elaborados, coreografias marcantes e uma atmosfera dramática que conversava com o espírito da novel. Os atores Xiao Zhan e Wang Yibo trouxeram à tela bastante química, mesmo que contida pela censura. A série foi um sucesso imediato na China, alcançando números gigantescos de visualizações e transformando seus protagonistas em fenômenos midiáticos.

Não muito depois veio a expansão global, a Netflix adquiriu os direitos e disponibilizou The Untamed para públicos do mundo todo. Tudo isso transformou a série em um divisor de águas para o danmei no Ocidente. Milhões de espectadores descobriram, pela primeira vez, um drama chinês baseado em romance BL, ainda que suavizado, e se encantaram pelo universo emocional construído a partir da obra de MXTX.
O impacto foi tão grande que a novel, antes limitada a nichos de leitores, virou referência mundial.
Mas, apesar do sucesso, The Untamed não é uma adaptação absolutamente fiel e a diferença mais marcante está no próprio coração da trama, o romance entre os protagonistas. Na novel, Wei Wuxian e Lan Wangji são explicitamente um casal, com declarações, intimidade e um vínculo assumido. A série, em contrapartida, transforma essa relação em um laço de “amizade profunda”, demonstrada por olhares, gestos e simbolismos, mas sem manifestações diretas de afeto. Essa alteração não foi uma escolha artística, foi uma exigência da censura chinesa.
Outras diferenças incluem o tom geral da narrativa. Enquanto a novel é mais sombria, a série suaviza cenas de violência, reduz elementos mais trágicos e reorganiza acontecimentos para torná-los aceitáveis. Personagens secundários também tiveram arcos modificados ou encurtados, e algumas revelações consideradas muito explícitas foram substituídas narrativamente.

Ainda assim, The Untamed mantém o espírito da obra original, o vínculo inabalável entre dois homens que se reconhecem, se completam e se transformam, e a força dessa relação, dita ou não dita, foi o que conquistou públicos e fez da série um marco cultural.
Não à toa é profundamente simbólico que uma história nascida de um gênero perseguido na China tenha encontrado sua liberdade no público internacional.

A História do Danmei
Antes de falar sobre como o gênero que deu origem à série tem sofrido uma acirrada perseguição em seu país, vamos descobrir um pouco sobre sua história.
O danmei na China começa muito antes de existir a palavra “danmei”. Sua origem se mistura com o fascínio milenar chinês por narrativas de forte amizade entre homens, histórias em que laços masculinos eram descritos com devoção, lealdade absoluta e emoções profundas. Eram contos que, embora não declaradamente românticos, deixavam espaço para a imaginação.
Já o danmei, como o conhecemos hoje, só ganha forma no final do século XX, impulsionado principalmente pela internet e pelo acesso a influências externas, como o Boys’ Love japonês.

Nos anos 90, com a abertura econômica e maior circulação cultural, jovens chinesas começaram a ler BL do Japão, especialmente mangás e animes que retratavam romances entre homens com estética idealizada, delicada, andrógina. Foi nesse período que o termo “danmei” começou a ser usado na China para designar essas narrativas, inicialmente importadas, mas rapidamente adaptadas ao gosto e às sensibilidades locais. À medida que o acesso à internet crescia, fóruns e comunidades começaram a se multiplicar, e as leitoras passaram de consumidoras a criadoras. O danmei deixou de ser apenas uma leitura estrangeira e tornou-se uma escrita com raiz chinesa.
O grande marco dessa transformação foi o surgimento das plataformas de webnovels, especialmente a JJWXC. Pela primeira vez, autoras comuns, estudantes, donas de casa, professoras, jovens que escreviam escondidas, podiam publicar romances seriados para milhares de leitoras.
O danmei cresceu com força inesperada, surgiram histórias que misturavam fantasia xianxia (gênero de fantasia que se foca em histórias de cultivo, imortais, poderes sobrenaturais, com forte influência da mitologia chinesa, taoísmo, budismo e artes marciais, é uma "alta fantasia" que explora o desenvolvimento de um personagem para alcançar poderes imortais, elementos que incluem deuses, demônios, espíritos, criaturas míticas e a busca pela transcendência), política de clãs, reencarnação, guerra, e, no centro de tudo, o vínculo entre dois protagonistas masculinos.
Esse movimento criou não só um gênero literário, mas um ecossistema inteiro: fandoms, fanarts, traduções, comunidades de leitura, economia criativa e até pequenas convenções.

Pesquisadoras acadêmicas apontam que o gênero surgiu como um espaço simbólico onde autoras podiam explorar dinâmicas afetivas, poder, identidade e liberdade emocional de formas que a ficção tradicional raramente permitia.
Catálogos como o da Seven Seas Entertainment, hoje uma das maiores editoras de danmei no Ocidente, funcionam como um laboratório emocional, criam modelos de romance idealizados, mais trágicos ou mais espirituais, onde o vínculo entre dois protagonistas não é apenas amoroso, mas também moral, épico e, muitas vezes, metafísico. Ou seja, um cenário perfeito para tratar sentimentos profundos com intensidade.
Entre todas as obras que moldaram o alcance global do danmei, nenhuma brilhou tanto quanto Mo Dao Zu Shi, entre 2015 e 2016. Publicada originalmente na JJWXC, a novel se tornou um fenômeno. A profundidade emocional da relação entre Wei Wuxian e Lan Wangji, ao mesmo tempo silenciosa, épica e construída por anos de mágoas e redenção, foi suficiente para transformar a obra em um marco da literatura digital chinesa. O sucesso não ficou apenas na web, veio uma adaptação em animação (o donghua premiado), um drama live-action e uma expansão gigantesca de fandoms, traduções, fanarts e até estudos acadêmicos.
Hoje, universidades, jornais culturais e veículos especializados destacam Mo Dao Zu Shi como a porta de entrada do público global no danmei moderno, exatamente porque ela combina narrativa complexa, estética mística e uma relação amorosa que se desenrola sob camadas de simbolismo.

A produção de danmei, portanto, não é um fenômeno isolado, é a expressão criativa que reúne mulheres escritoras, plataformas digitais gigantescas, fãs ativos e uma cultura que, mesmo dentro de limitações políticas, não deixa de produzir narrativas profundas. Para leitoras e autoras do mundo inteiro, o danmei tornou-se não apenas um gênero, mas um espaço de liberdade imaginativa, e, como mostram obras como Mo Dao Zu Shi, um terreno fértil onde o romance cresce tanto na escrita quanto em suas múltiplas adaptações.
O sucesso estrondoso de The Untamed colocou o danmei no mapa global e, de repente, o gênero que antes vivia à margem da cultura pop se tornou um dos maiores produtos de exportação da ficção chinesa contemporânea. Fãs de todo o mundo descobriram as narrativas xianxia, mas foi justamente quando o danmei alcançou visibilidade que também começou a enfrentar sérios problemas.

Com a ascensão de políticas mais conservadoras na China, o governo passou a ver o danmei como um risco à “moral pública”. A censura aumentou, adaptações foram suavizadas e autoras começaram a ser vigiadas. O que antes era apenas romance virou assunto político.
Hoje, o danmei vive em dois mundos: reprimido em seu país natal, celebrado globalmente. É um gênero que nasceu do desejo feminino de criar histórias, mas só continua vivo porque imaginação e afeto não se curvam facilmente à censura.
Literatura Sob Cerco
Nos últimos anos, a China tem intensificado uma campanha de repressão contra autoras de danmei. O fenômeno, antes restrito ao ambiente digital e cercado de tolerância ambígua, tornou-se alvo direto do estado em um movimento que envolve prisões, censura de plataformas e vigilância digital. Reportagens como as da Associated Press (AP News), Le Monde e TheM.us revelam um panorama claro: escrever danmei tornou-se verdadeiramente arriscado.
A mudança de tom ficou clara a partir de 2020, mas ganhou força real após 2021, quando o governo lançou diretrizes voltadas a “retificar” conteúdos considerados prejudiciais aos valores oficiais. Essas diretrizes classificavam romances e fanfics danmeis como “pornografia” e “estética anormal". Segundo o Le Monde, investigações policiais começaram a mirar diretamente jovens mulheres que publicavam romances danmei online, muitas delas completamente fora do mercado editorial formal, escrevendo apenas para pequenas comunidades digitais.
Um dos casos mais emblemáticos é o da escritora conhecida pelo pseudônimo Tianyi, condenada a 10 anos de prisão após publicar um romance com conteúdo considerado “lucrativamente obsceno”. A severidade da sentença chamou atenção mundial, sendo amplamente noticiada pelo AP News e pelo TheM.us, que destacaram que escritores de ficção erótica heterossexual raramente recebem punições assim tão duras.
A desigualdade na aplicação da lei mostra que o alvo não é apenas o erotismo, mas o erotismo especialmente quando produzido por mulheres.

Outra investigação indica que a polícia passou a usar algoritmos de rastreamento para identificar escritoras de danmei, perseguindo inclusive quem vende PDFs caseiros, fanfics impressas artesanalmente ou cobra pequenas quantias por capítulos extras. Jovens universitárias, donas de casa e até adolescentes foram interrogadas, e algumas tiveram computadores apreendidos. Muitas relataram ao jornal francês que policiais se referiam à sua escrita como “perversão”, “corrupção moral” e “propaganda nociva”. Ainda há oferta de recompensa a quem denunciar "material pornográfico" para a polícia.
Segundo o AP News, a repressão também está ligada a um temor estatal em relação ao poder dos fandoms, comunidades femininas ativas, engajadas e economicamente expressivas que orbitam o danmei. O sucesso global de adaptações como The Untamed e o enorme mercado subterrâneo de fanfics e produtos derivados só aumentaram a vigilância.
Além das prisões, há uma campanha mais ampla de apagamento cultural, plataformas de leitura online foram obrigadas a remover categorias inteiras de danmei, contas de autoras foram suspensas ou apagadas sem aviso, adaptações audiovisuais deixaram de usar termos românticos explícitos, e milhares de obras sumiram da internet da noite para o dia.
Para muitas escritoras, publicar online se transformou em um exercício de autocensura, onde toda palavra pode ser interpretada como proibida.

O fenômeno é parte de uma estratégia maior, aproximar a cultura de um ideal moral, restringir o espaço de expressão feminina e controlar narrativas que escapam ao modelo oficial estabelecido. Essa perseguição atinge especialmente mulheres porque elas constituem a grande maioria das autoras de danmei e, simbolicamente, contestam um espaço monopolizado por narrativas masculinas sobre o masculino.
A onda de repressão, portanto, não é apenas um ataque literário, é um ataque à autonomia criativa das mulheres, à pluralidade de afetos e à imaginação que escapa ao controle. O danmei, que durante anos permaneceu como refúgio emocional e criação coletiva, virou um campo de batalha onde ficção e política se misturam.
No fim, a questão vai além da literatura, trata-se de entender como poderes reagem quando milhões de mulheres criam e compartilham narrativas que desafiam o que consideram ideal, redefinem o papel da masculinidade e constroem comunidades próprias. A perseguição às autoras de danmei é um sintoma do medo da imaginação feminina quando ela se organiza, se expande e se torna impossível de conter.

Na Clandestinidade
Com a escalada da repressão contra o danmei, autoras chinesas vivem numa espécie de “clandestinidade literária”: o que antes era um fenômeno nas plataformas de webnovel, agora se tornou um campo minado. Ainda assim, essas escritoras não desapareceram, elas se adaptaram. O cenário agora é o de uma criatividade perseguida, mas resistente.
A primeira reação observada por jornalistas internacionais é o autopoliciamento. Autoras passaram a escrever tramas que, à primeira vista, parecem sobre “uma grande amizade”, “irmandade espiritual”. O subtexto romântico subsiste, mas fica escondido sob camadas simbólicas. Algo como “escrever amor onde ninguém pode alegar que há amor”. Uma zona cinzenta.
Além disso, muitas escritoras tomaram um caminho que o Le Monde chama de fragmentação narrativa: histórias completas deixam de ser publicadas em plataformas grandes e, em vez disso, aparecem picotadas, trechos privados, enviados apenas para grupos limitados de leitoras. Não há mais um “livro” inteiro na internet, apenas trechos do livro.

Outro movimento é o uso de metáforas: em vez de falar de amor, usam outros termos. Em vez de beijo, falam de “troca”. A repressão cria novas linguagens, e a criatividade feminina se apoia nessas lacunas para continuar existindo.
Há ainda a migração para plataformas menores, menos conhecidas ou mantidas por comunidades fechadas. As autoras têm reduzido drasticamente o uso de sites populares e migrado para pequenos fóruns privados, servidores limitados, newsletters protegidas por convite, onde é necessário aprovação manual para entrar. Nada disso garante segurança total, mas cria camadas de proteção.
Um fenômeno curioso é que algumas autoras começaram a enviar versões muito resumidas, quase sinopses ampliadas, para tradutoras estrangeiras ou fãs que vivem fora da China. Assim, uma obra não existe mais apenas dentro do país, o que dificulta seu apagamento total. Não são edições formais nem completas, são fragmentos que viajam para sobreviver.

Outra estratégia é o deslocamento temático. A autora escreve um “danmei que não é danmei”, guerreiros, cultivadores, príncipes, generais, todos homens, todos com dinâmica dupla, mas sem qualquer expressão explícita de romance. O subtexto está lá, mas o texto não o admite; é uma distância milimétrica entre o que se pode escrever e o que se quer dizer.
Muitas dessas obras funcionam, para as fãs: quem sabe, lê, quem não sabe, passa por cima.
Por fim, há as comunidades de leitoras. Reportagens destacam que grupos de fãs criam redes de apoio, salvam arquivos antes que sejam apagados, preservam fanfics, criam cópias de segurança, mantêm viva a memória de obras banidas. Em muitos casos, o fandom virou arquivo, museu e refúgio, uma espécie de biblioteca oculta onde mulheres continuam compartilhando seus mundos imaginários, mesmo sob ameaça.
No fim, o danmei não desaparece porque é, acima de tudo, um idioma emocional feminino, e idiomas sobrevivem mesmo quando tentam silenciá-los. A censura endurece, as autoras se tornam mais sutis, mais criativas.

O futuro do danmei
A atual perseguição às autoras de danmei na China não é apenas um ataque ao presente do gênero, é um golpe que diz o que ele poderá, ou não, se tornar no futuro. A literatura que nasceu da ousadia e da imaginação feminina agora vive entre dois extremos, o sufocamento interno e a expansão internacional. De um lado, se esganam as liberdades criativas, de outro, o mundo abre espaço para essas narrativas com curiosidade e admiração. O resultado é um futuro dividido, imprevisível.
Dentro da China, a tendência apontada por estudiosas sugere que o danmei sofrerá um processo de subterraneização. O gênero não deve desaparecer, ele é grande demais, emocional demais, culturalmente entranhado para sumir, mas sua forma deve se alterar.
Provavelmente veremos histórias cada vez mais codificadas, mais simbólicas, menos explícitas. A relação deixará de ser uma narrativa direta e se tornará metáfora, alegoria, subtexto. O danmei pode se transformar num gênero de “amor secreto”, escrito nas entrelinhas, cheio de códigos que apenas quem faz parte da comunidade entende. A criatividade das autoras tende a crescer na mesma proporção da censura; não porque é interessante, mas porque é necessário.

Outra mudança provável é a desprofissionalização forçada. Plataformas que antes pagavam bem às autoras estão sob vigilância rígida, muitas escritoras já migraram para fóruns pequenos, grupos privados e sistemas de envio limitado. Isso faz com que o danmei se torne menos centralizado e menos lucrativo dentro do país. Mas, paradoxalmente, também pode torná-lo mais artesanal, íntimo e comunitário. Histórias menores, distribuídas entre leitoras específicas, podem fortalecer laços e preservar o sentido original do gênero como espaço de liberdade emocional feminina.
No entanto, há um ponto crítico: a repressão pode criar uma geração de autoras amedrontadas, que deixarão de escrever por medo real de punição. Esse trauma cultural poderá reduzir a inovação, limitar temas ousados e atrasar o desenvolvimento estético do danmei. Autoras jovens poderão crescer acreditando que o gênero é perigoso demais, e isso representa o maior risco: não o fim do danmei, mas o fim de novas vozes.
Por outro lado, o que se vê fora da China é o oposto. Editoras como Seven Seas Entertainment, Penguin Random House e plataformas internacionais estão traduzindo danmeis, adaptando, promovendo, e o público global está absorvendo tudo com entusiasmo. O sucesso de The Untamed, Heaven Official’s Blessing e The Husky and His White Cat Shizun mostra que o gênero encontrou um lar fora das fronteiras chinesas.

Essa internacionalização cria um cenário onde o futuro mais livre do danmei talvez não esteja em seu país de origem, mas em leitores estrangeiros que o acolhem sem restrições. Para autoras que conseguem publicar anonimamente, sob pseudônimo ou por vias indiretas, isso abre portas para que suas histórias circulem globalmente mesmo sob repressão doméstica.
E mais, a repressão poderá provocar um fenômeno de dispersão criativa. Autoras poderão migrar para escrever em inglês, ou para plataformas internacionais, ou mesmo para mercados como Tailândia, Coreia e Vietnã, todos mais receptivos ao BL. É possível que surja um “danmei globalizado”, ainda carregando a estética chinesa, mas produzido fora da China. Se isso acontecer, o gênero poderá evoluir de maneira híbrida, metade clandestino e poético dentro da China, metade ousado e expansivo fora dela.
O que permanece inalterado, e talvez até se intensifique, é a força simbólica do danmei como espaço de imaginação feminina. A repressão tenta calar, mas não consegue eliminar a necessidade de escrever. A história mostra que gêneros perseguidos tendem a ficar mais sofisticados, mais carregados de resistência emocional. É possível que o danmei do futuro carregue essa marca, o amor como insurgência silenciosa.
No fim, pode-se controlar as plataformas, mas não a necessidade humana, especialmente feminina, de criar. O futuro do danmei é incerto, mas uma coisa é clara: quanto mais tentam apagá-lo, mais ele se reinventará. Assim como toda história.

Conclusão - e nós?
Sabendo agora que o danmei nasceu como um espaço de liberdade, um gênero criado por mulheres, lido por mulheres e alimentado pelo desejo de imaginar vínculos que ultrapassam normas e fronteiras. Que cresceu silencioso, floresceu na internet, explodiu em fenômenos globais como The Untamed, e hoje vive seu momento mais contraditório, celebrado no mundo inteiro enquanto suas autoras, dentro da China, enfrentam censura, vigilância e até prisão por escreverem ficção.
Vale perguntar a você que lê esse texto: conhece realmente o danmei? Já mergulhou em uma de suas histórias, já sentiu o impacto emocional que esse gênero é capaz de provocar?

Como você reage ao fato de que mulheres estão sendo perseguidas simplesmente por criarem mundos imaginários fora do padrão? Acredita que é justamente a literatura que incomoda porque amplia horizontes?
Acha que o danmei seguirá se reinventando apesar da opressão? Encontrará plenitude longe das fronteiras de seu país natal? Ou talvez sobreviva em duas versões, silencioso e simbólico no Leste, expansivo e livre no Ocidente?
No fim, a reflexão é inevitável: que papel nós, leitores, desempenhamos nisso tudo? O que escolhemos apoiar, preservar, divulgar? E qual futuro imaginamos para um gênero que nasceu da coragem criativa de tantas mulheres, e que agora depende da coragem de quem lê para continuar existindo?












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