"Orb: On the Movements of the Earth" (ou Chi: Chikyuu no Undou ni Tsuite, no original japonês) é uma obra que mistura ficção e fatos históricos para criar uma narrativa envolvente sobre a busca pelo conhecimento e o confronto entre ciência e religião no século XV.
O principal ponto de discussão está entre o modelo Heliocêntrico vs. Geocentrismo. Um afirma que a terra está no centro do universo, enquanto o heliocentrismo afirma que o sol está no centro do universo. A teoria heliocêntrica desafiou o pensamento bíblico e, por isso, seus pensadores eram perseguidos pela igreja.
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Este artigo analisa o que é real e o que é ficção nesta história premiada e cheia de nuances.
Fatos Históricos Presentes na Obra
1. Menções a personagens históricos
O desenho de Rafal representa o modelo Ptolomaico. Ptolomeu desenvolveu um sistema matemático detalhado para explicar o movimento dos corpos celestes com base na ideia de que a Terra era o centro do universo. Para explicar os movimentos retrógrados dos planetas (quando parecem se mover para trás no céu), ele sugeriu que os planetas se movem em pequenos círculos (epiciclos) que, por sua vez, giram em torno de círculos maiores (deferentes) centrados na Terra.
O modelo desenhado logo depois, em seu livro, está diretamente ligado ao modelo heliocêntrico proposto por Nicolau Copérnico no século XVI. Essa representação foi uma das principais mudanças na astronomia e marcou a transição do geocentrismo para o heliocentrismo. Historicamente, um modelo com essas características não existia no século XV (o período em que o mangá é ambientado). Nicolau Copérnico só publicou sua obra-prima, De Revolutionibus Orbium Coelestium (Sobre as Revoluções das Esferas Celestes), em 1543.
2. A visão de fato era muito importante
Galileo Galilei inventou o telescópio no início do século XVII. Até sua invenção, a visão a olho nu era necessária, podendo no máximo utilizar de instrumentos rudimentares como astrolábios e quadrantes. Esses dispositivos exigiam visão clara para alinhar objetos no céu com marcadores na ferramenta.
Tycho Brahe (1546–1601) foi um dos maiores observadores a olho nu e fez sua fama ao registrar as posições dos planetas. Sua visão clara foi crucial para suas medições. Johannes Kepler (1571–1630) trabalhou com os dados de Brahe, Kepler não dependia tanto da observação direta, mas sim dos cálculos matemáticos. Ele usou os registros detalhados de Brahe para formular as Leis do Movimento Planetário. Talvez o personagem Piast tenha sido uma tentativa da obra de retratas essas figuras históricas.
3. Contexto do Século XV
A ambientação de Orb reflete a Europa do século XV, um período de transição entre a Idade Média e o Renascimento. Essa era foi marcada por uma tensão significativa entre o domínio religioso e o florescimento da ciência. A Igreja Católica era a principal autoridade cultural e política, e qualquer ideia que desafiasse seus dogmas era considerada herética. Mulheres de fato eram vistas como pecadoras e não podiam representar os cientistas. Isso é mostrado no enredo, onde as descobertas científicas enfrentam forte resistência da Inquisição.
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4. A Heresia do Heliocentrismo
O conceito central da obra — que a Terra orbita o Sol — era de fato considerado herético. Embora o heliocentrismo só tenha sido formalmente introduzido por Copérnico no século XVI, as ideias que desafiaram o geocentrismo já circulavam em círculos intelectuais antes disso. A resistência enfrentada por figuras como Giordano Bruno e, mais tarde, Galileo Galilei, é uma prova do perigo associado a desafiar o pensamento estabelecido da época
5. A Inquisição
A Inquisição, um braço da Igreja responsável por investigar e punir heresias, desempenha um papel central no conflito da história. Na realidade, tribunais inquisitoriais realmente condenaram cientistas e pensadores cujas ideias eram vistas como ameaças à ortodoxia religiosa. Queimar "hereges" na fogueira era uma prática conhecida, embora não tão frequente quanto muitos imaginam. Essa ameaça real permeia o enredo de Orb, trazendo um peso histórico autêntico.
6. A Busca pelo Conhecimento
Um dos temas centrais do mangá é a busca incessante pela verdade científica, mesmo diante de perigos extremos. Essa luta reflete o espírito do Renascimento, quando pensadores começaram a questionar verdades estabelecidas e a valorizar a razão acima da tradição. Esse movimento pavimentou o caminho para a Revolução Científica nos séculos subsequentes.
Elementos de Ficção na Obra
A obra ocorre no "Reino de P", o que provavelmente indica Polônia.
1. Personagens Fictícios
No século XV, teorias heliocêntricas ainda eram amplamente desconhecidas, e figuras como Galileo e Copérnico ainda não haviam publicado suas obras fundamentais. Isso faz de Hubert e Rafal personagens fictícios com um papel "visionário" que representa pensadores de eras posteriores.
2. Artefatos e Narrativas
O mangá apresenta um artefato fictício, um baú de pedra contendo a pesquisa de Rafal, que é descoberto anos após sua morte. Embora funcione como um elo entre os diferentes períodos da história, esse elemento é uma licença criativa. Ele simboliza a transmissão de ideias e a luta para preservar o conhecimento contra a censura e a destruição.
3. Dramaticidade
Embora o medo da perseguição religiosa seja baseado em eventos reais, sentenças de morte por heresia eram raras e há diversas evidências de que, na verdade, a igreja era patrocinadora de diversos estudos científicos. Os detalhes específicos da perseguição de Rafal e sua relação com outros personagens são dramatizados para criar uma narrativa mais emocionante e envolvente, mas o que seria da série sem sua cota de drama?
Verdade ou ficção?
Misturando história e ficção, o autor Uoto cria um retrato vívido de um período crucial para a ciência e a humanidade. A obra não apenas informa sobre os perigos enfrentados pelos pioneiros do conhecimento, mas também inspira reflexões sobre o valor da razão, da curiosidade e da coragem.
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A mensagem de Orb — a coragem de questionar o status quo em busca da verdade — ressoa tanto no contexto histórico quanto no mundo moderno. A luta contra a censura, o medo do progresso científico e o desejo de preservar o conhecimento são questões que continuam relevantes.
Veja Orb não para estudar história, mas para entender a luta pela verdade.
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