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Review de Unhas e Dentes (Ziam) – Matando Zumbis no Soco!

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Será que finalmente alguém deu um soco no já desgastado gênero dos mortos-vivos? Confira neste artigo a nossa análise sobre Unhas e Dentes!

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revisado por Tabata Marques

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Produção e Premissa

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Unhas e Dentes, com o título original Ziam, estreou na Netflix em 9 de julho de 2025. Produzido na Tailândia, o longa é dirigido por Kulp Kaljareuk e estrelado por Prin Suparat, Nuttanicha Dungwattanawanich e Wanvayla Boonnithipaisit.

Uma curiosidade do título original é que Ziam é uma junção de Siam (Sião, que foi o nome oficial da Tailândia até o ano de 1939) com a letra "Z", de Zumbi.

Em Ziam, o mundo foi devastado por uma doença misteriosa. O que resta da civilização encaixa-se perfeitamente no clássico cenário pós-apocalíptico: sujo, seco, desolado, com gangues lutando a cada beco, prontas para atacar. As pessoas passam tanta fome que são capazes de comer até baratas.

elenco de Ziam
elenco de Ziam

É nesse ambiente hostil que conhecemos Singh, um ex-lutador de muay thai que agora trabalha como caminhoneiro. Seu sonho é simples: se mudar da cidade para o interior com sua namorada Rin, uma médica que trabalha em um hospital local.

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Mas tudo começa a desmoronar quando Vasu, um figurão influente cuja esposa está em coma, resolve testar um tratamento experimental baseado na ingestão de um peixe de aparência quase abissal, um daqueles seres que parecem ter saído direto de um alerta: “não toque”. Um de seus subordinados também consome a criatura. Pouco depois, é levado ao hospital com convulsões. Morre. Ou quase.

O hospital vira o ponto zero do surto. Os mortos voltam. E voltam com fome.

Singh corre para salvar Rin, presa dentro do prédio tomado por zumbis. No caminho, ele encontra Buddy, um menino esperto e corajoso, com quem cria uma amizade relâmpago. Agora, Singh e Buddy precisam enfrentar uma horda de mortos-vivos, sem armas pesadas, sem plano, apenas com o que têm: coragem, punhos e o desejo desesperado de sobreviver.

Empolgação

Os atores Prin Suparat e Wanvayla Boonnithipaisit, que interpretam Singh e Buddy, respectivamente, entregam bem seus papéis, mesmo que o roteiro não ofereça praticamente nenhum background sobre eles. Apesar da escassez de desenvolvimento, seus tempos em tela não decepcionam, e seus personagens, especialmente o pequeno Buddy, têm carisma suficiente para nos fazer importar, pelo menos um pouco, com suas jornadas.

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As lutas são muito bem coreografadas, e é aí que o filme realmente brilha. Dá para dizer que esse é o verdadeiro foco da direção: mostrar zumbis levando porrada. E não é pouca. Isso se destaca em um gênero que geralmente aposta em armas de fogo, facas ou o bom e velho taco de baseball. Aqui, a proposta é outra: usar o muay thai como principal ferramenta de sobrevivência. E sim, ver Singh colocando técnica em mortos-vivos é tão satisfatório quanto parece.

A ambientação também não faz feio. Tirando uma exceção (à qual volto mais adiante), o filme consegue transmitir bem o clima opressivo e desesperançoso do mundo pós-pandemia. A degradação dos personagens e dos figurinos é visível cena após cena, o que é de se esperar em filmes ou séries do gênero (não é mesmo TLoU temporada 2?).

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Outro ponto que chama atenção é o uso de efeitos visuais e o design dos zumbis. A maquiagem impressiona: grotesca, sanguínea, deformada. E lá pelo clímax, o filme nos brinda com uma ideia original: a versão de zumbis a partir do consumo de carne de peixe abissal. Muito bom.

A iniciativa tailandesa de produzir Ziam merece aplausos. Afinal, o gênero zumbi é quase um monopólio histórico de Hollywood e só recentemente passou a ser explorado por Coreia, Japão e Índia. Ter essa visão reinterpretada por um país como a Tailândia é um sopro de ar fresco. Existe ali uma estética própria, um olhar local sobre o fim do mundo, e isso, por si só, já tornaria Ziam interessante.

Decepção

E é isso.

Daqui em diante, infelizmente, cessam os elogios. O filme, que já de início não entrega um roteiro inspirado, rapidamente revela sua verdadeira intenção: ser apenas mais uma desculpa para cenas de ação no mundo dos zumbis.

É o velho arroz com feijão mal temperado: um filme de mortos-vivos para mostrar porrada. Nada de sustos, nada de suspense, nada de medo. Há tentativas aqui e ali, sutis tentativas de criar tensão, mas todas são frustradas pela velocidade com que tudo acontece, quase atropelado.

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Personagens são apresentados como se fossem peças-chave, apenas para sumirem em seguida, esquecidos ou mortos sem cerimônia. Nenhum deles é aprofundado. Nenhuma relação realmente se desenvolve. E a ala militar, claro, está lá apenas para cumprir tabela: introduz o clássico ticking clock, aquela sensação de urgência que deveria deixar o espectador em alerta. Só que não funciona. Porque os próprios personagens não demonstram essa urgência em momento algum.

Temos também um melodrama entre Buddy e sua mãe. Clichê. Conveniente. Raso. E, mesmo que só servisse para que o garoto se juntasse à trama de Singh e Rin, o roteiro ainda poderia ter tratado o pesar do menino com mais verdade, ou ao menos com mais tempo. Mas tempo é luxo em Ziam. O filme pisa fundo no acelerador e passa por cima do próprio roteiro.

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E por falar em tropeços, vamos ao ponto da ambientação: no geral, o mundo de Ziam é decadente, sujo, desesperançoso. Só que, curiosamente, o hospital onde Rin trabalha é o contrário disso. Iluminação impecável, pisos reluzentes, nenhum sinal da crise do lado de fora. Um contraste gritante e totalmente sem lógica. Mesmo considerando que hospitais devem prezar por limpeza, é impossível acreditar que, naquele cenário de colapso, o hospital estaria em tão perfeito estado, ainda mais ficando óbvio que ele não se localiza em uma zona à parte, uma zona ‘nobre’ ou algo assim.

Talvez a ideia fosse mostrar como tudo se degrada após o surto. Mas até isso acontece de forma apressada e superficial. A decadência do hospital é visual, não contextual. Não há coerência com o restante do mundo apresentado.

Rin, a personagem que deveria ser um dos centros emocionais do filme, tem quase nenhuma relevância. Ela está ali apenas como o gatilho para Singh entrar no hospital e distribuir socos. Não toma decisões, não tem agência, não reage a quase nada. Quase todas as suas ações são passivas ou a colocam em risco. Exceto por uma única cena em que auxilia Singh, Rin é apenas um recurso narrativo. Não é um personagem.

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Os vilões? Também inexistem. Vasu, o responsável por alimentar a esposa doente com carne do tal peixe sinistro, aparece em pouquíssimas cenas. Sem carisma, sem motivação, sem história. Só está ali para acionar o surto e ser consumido por ele.

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No fim, Ziam é isso: um desfile de zumbis levando porrada e só. Nenhuma preocupação real em contar uma boa história. Nenhum aprofundamento. É uma sessão de pancadaria apocalíptica que até entretém em seus melhores momentos, mas que falha miseravelmente em dar profundidade ao universo que tenta criar. Um verdadeiro sanduíche de nó nos dedos, servido gelado, sem alma, e com gosto de déjà vu.

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Vale a Pena assistir Ziam?

Se você quer desligar o cérebro, encher um balde de pipoca e se jogar num filme só para curtir bons efeitos visuais e pancadaria, Ziam pode até te satisfazer. As cenas de luta, a maquiagem caprichada e os efeitos de CGI realmente valem a pena; além disso, é muito divertido ver zumbis levando porrada.

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Mas, se você já está saturado de filmes genéricos de zumbi, onde os mortos correm mais que maratonistas, gente grita quando deveria fazer silêncio, vilões aparecem só para cumprir função, e o desenvolvimento psicológico dos personagens é praticamente inexistente... então melhor passar longe.

Vai por mim: tem coisa melhor por aí. E pode deixar que em breve trago reviews de filmes do gênero que realmente valem o seu tempo!

Agora me conta: você é do time “ação desenfreada” ou prefere um terror mais psicológico, cheio de tensão e atmosfera sufocante? Depois desse review, você ainda assistiria Ziam?

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