Dirigido por Elliott Lester, roteirizado por Chris Kelley e Joe R. Lansdale, The Thicket voltou a ficar popular no streaming. No HBO Max o filme segue como um dos mais vistos na plataforma, fazendo questionar: O gênero Western suspira?
Em 2025 o gênero Western é quase um fóssil. O clássico filme de bang bang já não faz sucesso nas telinhas há um bom tempo e já soa quase como esquecido, considerando que houve uma espécie de atualização moderna para filmes de espião ou até de ação urbana. O público jovem, por exemplo, mal reconhece a estética Western fora dos filtros do Instagram.
Propondo voltar ao deserto para sequestrar mocinhas, o diretor e os roteiristas abraçam a estética Western com unhas e dentes, levando desde a estrutura clássica até a direção de arte (que, diga-se de passagem, é impecável) muito a sério.

Enredo de The Thicket
O enredo de The Thicket parte de um casal de irmãos, que acabaram de perder pai e mãe para a varíola. Um avô distante aparece e promete lhe levar para a casa de uma tia. Infelizmente no meio do caminho, acabam cruzando com “Cut Throat Bill” interpretada por Juliette Lewis. A assassina famosa mata o avô, deixa o irmão, Jack desacordado e sequestra a irmã, Lula.
O desenrolar da trama segue em Jack procurando por sua irmã e montando um grupo que cada um tem seu motivo para se encontrar com Bill. Dentre esse o mais importante caçador de recompensas Reginald Jones, interpretado por Peter Dinklage. Jones até tenta fugir do arquétipo de herói do Western, mas é tomado no meio da trama pelo puro altruísmo característico de seu arquétipo.
Outros personagens são somados no bando, mas nenhum que tenha efeito significativo para ser comentado aqui, trama secundárias tão dispensáveis quanto areia em um deserto (ou nesse caso, neve no inverno).
A vilã ser uma mulher é uma proposta um tanto quanto curiosa, contudo esse discurso se perde com facilidade ao tentar explicar sua origem como assassina e sua apresentação social, que é lida como masculina pela maior parte das pessoas o filme inteiro. Sua falta de motivação para o sequestro também é curiosa, mas nunca justificada.
A mocinha não tem agência nenhuma. Existe para ser sequestrada e salva. O final do filme se rega de morte sem sentido tentando criar uma sensação de que se paga um preço pela liberdade, mas honestamente passamos tão pouco tempo com os personagens que não é possível sentir o peso de nada. Decepcionante.

A Fórmula do Western
Os filmes do gênero Western sempre tiveram a mesma fórmula. Território indomado, figura heróica, dualidade bem/mal, mocinha em perigo, duelo com revólveres, morte trágica por condições adversas.
Nesse sentido, The Thicket faz uma grande acerto em traduzir essa estrutura clássica dentro do roteiro, contudo, infelizmente não é levado em consideração como que esses códigos vêm de uma época do cinema norte-americano que reforçava uma visão de mundo colonial, patriarcal e até racista.
Não que o filme perpetue nenhum discurso problemático. Dá para ver que há desejo em questionar algumas dessas normas, mas se apegando tanto à fidelidade do gênero, talvez a misoginia e o colonialismo entranhados no gênero sobrepuseram qualquer desejo de propor algo novo.

O Peso da Iconografia
Se existe um aspecto em que The Thicket brilha, é na iconografia. Chapéus amassados, casacos puídos, cavalos percorrendo trilhas secas e um senso de cenário que recria com precisão o imaginário do faroeste clássico. A direção de arte é cuidadosa, e o figurino beira o artesanal, tentando nos colocar dentro de um tempo que parece suspenso, como se o Velho Oeste ainda estivesse vivo no fundo de algum deserto da cultura pop.
Mas quando o visual é o que mais impressiona em um filme, surge a pergunta incômoda: a imagem está servindo à narrativa ou tentando compensá-la? Em The Thicket, a estética se impõe com tanta força que por vezes parece um cosplay de Western. Uma reconstrução impecável de uma arquitetura emocional que já não se sustenta. Vemos a poeira, os revólveres, as expressões duras, mas sentimos pouco. É o faroeste como fetiche visual: bonito de ver, difícil de acreditar.
Essa obsessão com os códigos visuais do gênero, sem reinventá-los ou subvertê-los, transforma o filme em um museu ambulante. E museus, por mais belos que sejam, guardam coisas mortas.

Morte e transfiguração do Western
A teoria dos gêneros no cinema nos ensina que eles não morrem, apenas se transformam, e talvez nenhum tenha passado por tantas mutações quanto o Western. O pesquisador John G. Cawelti, em seu livro The Six-Gun Mystique, já sugeria que o faroeste clássico esgotou suas possibilidades quando o mundo passou a rejeitar os mitos que ele sustentava: o heroísmo branco, a conquista de terras, a masculinidade violenta como ideal. O que acontece depois disso? O gênero não desaparece, mas passa a sobreviver de forma camuflada, híbrida, incorporando novas roupagens e dilemas contemporâneos.
Foi assim que surgiram os chamados revisionist westerns, como Unforgiven (1992) ou Dead Man (1995), que revisitam os arquétipos tradicionais com olhos cínicos e desencantados. Mais recentemente, o faroeste se fundiu ao horror em Bone Tomahawk, ao sci-fi em Westworld, à fantasia em The Mandalorian, e até ao discurso racial em The Harder They Fall. O velho oeste não é mais o mesmo, e justamente por isso, quando alguém tenta resgatá-lo em sua forma mais pura, como em The Thicket, o esforço soa deslocado, como um pastiche involuntário.
Talvez o Western ainda possa ser pop, sim. Mas só se tiver coragem de enterrar seus mitos junto com seus heróis. E começar de novo, com outros olhos.

Conclusão
Talvez o que precise morrer não seja o gênero, mas a nostalgia de um tempo que nunca foi tão heroico assim. O Western teve de fato seu momento pop, e se transformou ao longo do tempo para se tornar novas coisas, mas é difícil de continuar perpetuando os velhos estereótipos em filmes novos.
Quando um filme resgata ou revoluciona um gênero, ele tende a ser lembrado e congratulado. Infelizmente, The Thicket não reinventa o Western. Mas deixa claro que ele não pode continuar sendo o mesmo.
E você, o que achou do filme? Conta para a gente nos comentários!
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