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Review de Românticos Anônimos (Netflix): O Doce Afeto Que Derruba Barreiras

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Temos aqui um dorama que conecta duas pessoas e transforma fobias em laços, devolvendo segurança a quem sempre viveu isolado socialmente e dentro de si mesmo. Confira mais informações na nossa análise abaixo!

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revisado por Tabata Marques

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A Trama de Românticos Anônimos

A história gira em torno da protagonista Hana Lee, que é uma chocolatier brilhante, extremamente talentosa e delicada. Mas Hana vive atormentada pela sua condição: ela sofre de escopofobia, ou seja, tem tanto medo de contatos sociais que teme até mesmo olhar nos olhos de alguém; por isso, prefere manter sua identidade anônima ao trabalhar em uma importante chocolateria.

Sosuke Fujiwara, por outro lado, é herdeiro de uma grande empresa de doces/confeitaria, mas convive com haphephobia (ou germofobia). Graças a um trauma de infância, acredita que é sujo demais para tocar outros. Por isso, não consegue tocar outras pessoas, e isso potencializa seu isolamento.

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Quando Sosuke assume a empresa, o destino o leva à chocolatier misteriosa, Hana. Nesse momento, suas vidas sofrem grandes mudanças. Apesar de suas fobias, esses dois se percebem “imunes” um ao outro, espalhados em suas condições. Assim, ao se conhecerem melhor, respeitarem e entenderem suas fobias, ambos têm o mesmo objetivo: salvar a chocolateria.

O romance que se desenvolve não explora declarações intensas ou drama exagerado. Em vez disso, cresce com sutileza, trejeitos tímidos, olhares desconfortáveis, toques hesitantes e pequenos gestos de coragem interior. A série aposta no minimalismo emocional, na empatia e no humor em muitos trechos, deixando o tema menos pesado e menos propenso a gatilhos para os mais sensíveis, sem, no entanto, cair no caricato. Em resumo, ela mostra que vulnerabilidade também pode se tornar força.

Há também a construção de identidade, a autoaceitação, a superação de traumas e a busca por conexão profunda e humana.

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A série é uma adaptação asiática do filme franco-belga de 2010 de mesmo nome, e estreou em 2025 como produção original da Netflix, em uma coprodução entre Japão e Coreia.

Criada por Park So-yeon, com roteiro de Kim Ji-hyun e Yoshikazu Okada e direção de Sho Tsukikawa, conta com Shun Oguri interpretando Sosuke Fujiwara e Han Hyo-joo interpretando Hana Lee no elenco principal.

A aceitação geral aponta para o tom delicado e calmo e a narrativa sensível e contemplativa, ideal para quem quer ver um romance leve.

A química entre os protagonistas também é elogiada, assim como a forma como a série lida com medos e vulnerabilidades sem exagero, respeitando o tema sobre fobias e o desenvolvendo de forma natural.

Fobias

Para entender como o relacionamento se torna tão importante a ponto de ajudá-los contra suas dificuldades, é bom compreender um pouco sobre as condições de Hana e Sosuke.

Hana é uma coreana que se mudou quando pequena para o Japão e sofre de escopofobia. Desde a morte de sua mãe, Hana não mantém contato com praticamente ninguém, isolando-se do mundo e vivendo satisfeita por apenas produzir seus chocolates e “observar seu amado”.

A escopofobia é o medo intenso de ser observado. Não é timidez, não é vergonha de falar em público: é um pavor que aciona uma grande ansiedade e reflexos físicos no portador dessa condição. Quem tem escopofobia costuma sentir que está sob julgamento constante, mesmo em situações simples: atravessar uma rua, entrar em uma sala, pedir algo em um balcão. O olhar do outro parece ameaçador, não porque o outro seja realmente hostil, mas porque o corpo interpreta aquela atenção como um risco.

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O impacto é imenso: a pessoa evita contato visual, recusa convites sociais, prefere trabalhar em ambientes isolados e, às vezes, até altera sua rotina para escapar de ser notada. E isso cria um ciclo cruel, pois a sensação é de que, quanto mais tenta não chamar atenção, mais se sente exposta.

O pior é que a escopofobia não rouba apenas a presença social: ela rouba experiências de vida. A pessoa deixa de conhecer gente, de tentar oportunidades, de participar de situações porque o medo de ser vista a paralisa.

O tratamento indicado seria terapia e estratégias de enfrentamento. Em ambientes seguros, a pessoa aprende, aos poucos, a devolver ao próprio olhar como se vê e como vê o mundo.

Já Sosuke se transformou após uma morte também: a de seu irmão mais velho. De algum modo, o rapaz se sente responsável por isso e acabou desenvolvendo haphephobia, que é uma fobia caracterizada por um medo intenso, irracional e persistente de ser tocado ou de tocar em alguém.

Não se trata apenas de evitar toques: é um medo que gera sofrimento real, frequentemente desproporcional à situação e que interfere no dia a dia da pessoa.

Quando alguém com haphephobia pensa na possibilidade de ser tocado ou se depara com um toque, mesmo que leve ou acidental, pode apresentar reações físicas e emocionais muito fortes. Entre os sintomas mais comuns estão palpitações, sudorese, tremores, sensação de desmaio ou tontura, náusea ou urticária, podendo piorar até chegarem a ataques de pânico.

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Além disso, a tendência é evitar situações em que o toque possa ocorrer. Isso pode incluir evitar abraços, beijos, apertos de mão, convívio próximo, transporte público, locais lotados, relacionamentos íntimos ou até mesmo exames médicos.

Isso também pode gerar isolamento social, dificuldades em relacionamentos, prejuízo na vida profissional ou escolar, sentimento de alienação, culpa, solidão ou desvalorização pessoal.

O tratamento também envolve terapias e terapias de exposição gradual, onde a pessoa, com apoio, vai gradualmente se acostumando ao contato, reconfigurando a resposta do cérebro ao medo.

Em certos casos, quando a ansiedade ou o pânico são muito fortes, pode haver uso, por um período curto e bem controlado, de medicação ansiolítica. Além disso, práticas de autocuidado, como exercícios de respiração, comunicação clara de limites com pessoas próximas, acolhimento psicológico e suporte em ambientes seguros, ajudam bastante no dia a dia.

Então, o que a série faz é mostrar como essas duas pessoas, que sempre evitaram contatos até mesmo visuais, se conhecem, se reconhecem um no outro e se relacionam, apesar de todos os contras da situação.

Há o respeito e o entendimento das limitações de ambos, e isso faz com que o relacionamento se torne saudável e sincero.

É mais até do que amor: é acolhimento.

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O Romance

Hana, que vive com medo de ser observada e passa a vida fugindo de qualquer situação em que possa ser vista, julgada ou exposta, conhece Sosuke e algo extraordinário acontece: ela encontra um homem que não a pressiona a ser observável.

Ele não força contato visual, não exige presença social, não a joga ao centro das atenções. Pelo contrário, ele reconhece o mesmo desconforto nela que carrega em si. E isso cria a primeira fresta no muro da escopofobia: a sensação de não estar sozinha numa condição que sempre a isolou.

O romance, que se inicia com um tipo de relação chefe/empregada e depois amizade, oferece a Hana uma zona segura onde ela pode viver sem medo de ser analisada.

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Já Sosuke entende o que é sentir pavor do julgamento; isso tira dele a sensação ameaçadora do contato. Eles passam por uma exposição controlada entre si, como um acordo em que estão “treinando” juntos para melhorar de suas fobias.

E, ao trabalhar juntos, ela consegue mostrar seu talento. Não porque superou a fobia, mas porque está sendo vista por alguém que não a fere com o olhar. Ver que alguém a enxerga com bondade ajuda a desmontar, aos poucos, a crença de que ser vista é o mesmo que ser “machucada”. Acontece uma reestruturação emocional.

Mas o ponto mais importante da série é que o romance não elimina a escopofobia ou a haphephobia; porém, cria um ambiente onde eles podem respirar, reaprender e confiar.

Já com Sosuke, que vive preso à ideia de que o toque é ameaça e cujo corpo reage com repulsa, medo e desconforto extremo diante da proximidade física, ao se aproximar de Hana, tem uma experiência inversa até então. Ele encontra alguém que não invade, não encosta, não exige intimidade física.

Hana respeita limites naturalmente, porque também carrega seus medos. Essa compatibilidade é transformadora. É um espaço onde o toque não é obrigação, mas escolha.

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Ele consegue a possibilidade de experimentar contato físico como algo seguro. Com Hana, o toque é sempre perguntado, nunca presumido, e isso muda a forma como ele interpreta a experiência.

Para quem tem haphephobia, uma relação em que a proximidade emocional antecede a física é muito importante, porque ele pode se conectar primeiro pela confiança, depois pelo corpo.

Ao perceber que o toque dela não dispara pânico, Sosuke começa a reconfigurar o próprio sentido de intimidade e a vê não como risco, mas como gesto de cuidado.

A história funciona porque não transforma o amor em “cura mágica”. Nada é resolvido de um dia para o outro. O que acontece é mais real, mais bonito. Eles se tornam imunes um ao outro.

Não no sentido literal, mas emocional, porque o que despertava pânico no mundo exterior, nos braços certos, vira acolhimento.

Empatia

A série também mostra a dificuldade de outro casal em se relacionar, por culpa de traumas infantis gerados pelo abandono.

Como o medo de se colocar em segundo lugar para dar espaço ao amor pode fazer com que alguém perca a coragem de viver ao lado de quem ama.

Por isso, a maioria das análises concorda que o grande trunfo da série é a empatia, porque transforma dores e medos em delicadeza, vulnerabilidade em intimidade. Para quem se conecta com fragilidades humanas, com a timidez, o medo, o desejo de ser visto, mas, ao mesmo tempo, o receio de exposição, a série acerta em cheio.

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Por outro lado, se você busca ritmo acelerado, tensão ou dramas intensos, “Românticos Anônimos” pode parecer fraco. A sensibilidade ao decorrer da trama pode ser vista como lentidão.

Ou seja: o valor da série acaba dependendo muito da expectativa de quem assiste. É para quem gosta de histórias que se desenvolvem devagar até chegar ao ápice, onde os personagens entendem que estar ao lado de quem te ama e acolhe também é um modo de enfrentar a fobia.

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Vale a pena assistir Românticos Anônimos?

Claro que vale!

Se procura por uma série curtinha, emocional, com pitadas de humor e drama sem cair para o sofrimento agudo, fica a dica.

Agora, se você acha que o tema é muito sensível ou que a série deveria carregar mais no assunto sobre as fobias em si, talvez não seja a melhor opção.

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Agora me diz aí: se alguém enxergasse suas vulnerabilidades com a mesma delicadeza que Hana e Sosuke enxergam as do outro, permitiria que esse amor entrasse em sua vida ou continuaria se escondendo?

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