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Review de A Reserva: suspense, silêncios e críticas sociais na minissérie da Netflix

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Neste artigo, falaremos sobre a minissérie dinamarquesa A Reserva e como ela aborda questões sociais relevantes através de uma narrativa envolvente de suspense. Exploraremos a crítica social presente na trama, o contexto por trás da história e a recepção do público e da crítica.

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Com apenas seis episódios e uma produção visual caprichada, A Reserva chegou à Netflix trazendo bem mais do que uma narrativa policial convencional. Criada por Ingeborg Topsøe e dirigida por Per Fly, a minissérie dinamarquesa se passa em um dos bairros mais ricos de Copenhague e explora, de forma sutil e incômoda, os bastidores da vida da elite, expondo as desigualdades que ela prefere esconder.

Trailer Oficial da Série:

Contexto social dinamarquês: A série dialoga diretamente com questões reais da sociedade dinamarquesa, especialmente em relação à imigração e ao trabalho doméstico.

Na Dinamarca, como em muitos países europeus, trabalhadores imigrantes muitas vezes enfrentam condições precárias e invisibilidade social, apesar de exercerem funções essenciais no dia a dia das famílias de classe alta. Além disso, a desigualdade social e o racismo estrutural ainda são temas delicados e presentes, embora pouco discutidos abertamente.

Um desaparecimento que expõe o que há por trás das aparências

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A história começa com o sumiço de Ruby, uma jovem babá filipina, pouco depois de pedir ajuda de forma discreta à vizinha Cecilie. Como as autoridades não demonstram interesse em investigar, a responsabilidade pela busca recai sobre a própria Cecilie e Angel, sua babá, também filipina.

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Enquanto isso, a policial novata Aicha tenta dar continuidade à investigação, enfrentando obstáculos institucionais e a indiferença da comunidade local. A trama se desenvolve entre tensões crescentes e silêncios ensurdecedores, revelando um contexto onde o problema não é só o desaparecimento em si, mas tudo o que ele representa: desigualdade social, racismo estrutural e uma elite acostumada a olhar para o outro lado.

Uma pausa para reflexão e crítica

Mais do que descobrir um culpado, a minissérie está interessada em mostrar por que certos crimes são ignorados. A Reserva mergulha com sobriedade em temas delicados, como o tratamento desumano dado a trabalhadores imigrantes e o elitismo mascarado de boas maneiras.

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A narrativa é conduzida com realismo, sem exageros dramáticos ou soluções fáceis. O desconforto que surge ao longo da série não é gratuito. É justamente esse incômodo que provoca reflexão.

Um dos pontos fortes da série está no protagonismo feminino. Cecilie (Marie Bach Hansen), no início resignada com seu mundo protegido, passa por um despertar ético ao longo dos episódios. Angel (Excel Busano) e Ruby (Donna Levkovski), por sua vez, representam a parcela mais invisibilizada da sociedade, mas são retratadas com humanidade e força silenciosa.

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A personagem Katarina (Danica Ćurčić) se destaca ao representar o lado mais frio e indiferente da elite. Sua presença funciona quase como um lembrete constante de como o poder pode ser exercido com sutileza e crueldade.

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A ambientação é outro recurso narrativo interessante aqui. As mansões à beira-mar, os jantares elegantes e os jardins meticulosamente cuidados criam uma imagem de perfeição que entra em contraste direto com a tensão e as injustiças que se desenrolam por trás dessas fachadas.

A direção firme de Per Fly, aliada a uma fotografia limpa e precisa, reforça esse contraste. A trilha sonora discreta e a edição contida contribuem para uma atmosfera de opressão silenciosa.

Ritmo da série e previsibilidade

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Apesar dos muitos acertos, a minissérie também apresenta alguns deslizes. Há momentos em que o ritmo desacelera demais e a trama se torna previsível, perdendo parte do impacto. Embora o elenco principal esteja bem, o restante das atuações acaba passando despercebido.

Algumas falas e atitudes que reproduzem comportamentos racistas podem causar incômodo. Ainda que façam parte da crítica construída pela série, nem sempre são apresentadas de maneira que incentivem uma reflexão mais profunda.

O silêncio coletivo incomoda

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Mais do que o paradeiro de Ruby, o grande enigma da série está na escolha de muitos personagens por não agir. Em um ambiente onde manter as aparências é mais importante do que fazer o certo, o silêncio se torna parte do sistema.

A série convida o espectador a pensar até que ponto todos nós, de alguma forma, somos cúmplices justamente por estar em silêncio em algumas situações.

Recepção crítica e do público

A Reserva recebeu avaliações positivas, embora com algumas críticas. No Rotten Tomatoes, a série tem 82% de aprovação entre 50 críticos, que elogiam a direção e as atuações, especialmente das personagens femininas. No Metacritic, a minissérie alcança 74 pontos, indicando críticas geralmente favoráveis, destacando o realismo e a crítica social, mesmo com ritmo mais lento e poucas reviravoltas.

Entre o público, no IMDb, a série tem nota 7,2/10 com mais de 3 mil avaliações. Os espectadores valorizam a construção dos personagens e o tom sóbrio, mas alguns acham o ritmo lento e o desfecho previsível. A naturalização do racismo presente em algumas falas pode causar desconforto, mas faz parte da proposta da série provocar reflexão.

No geral, A Reserva é vista como uma produção madura que prioriza o debate social, ainda que nem todos apreciem seu estilo mais contido.

Opinião pessoal - A Reserva

A Reserva é uma série de suspense que cumpre bem o papel de prender a atenção do espectador. Ainda que o "plot twist" final seja relativamente previsível, a narrativa sabe construir tensão de forma eficaz. A série espalha pistas ao longo do caminho, algumas bem evidentes, mas mesmo assim nos vemos torcendo para que talvez o desfecho não seja exatamente aquilo que já suspeitamos. É um pouco como na vida real, quando preferimos não enxergar o óbvio porque ele é desconfortável demais.

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O roteiro acerta ao nos envolver na angústia dos personagens, fazendo com que compartilhemos da ansiedade, da dor e da busca desesperada por respostas. Há momentos de tensão real, e o sentimento de urgência é bem construído.

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Além disso, a série se destaca por inserir críticas sociais importantes. Uma delas diz respeito à forma como criamos nossas crianças em um mundo hiper conectado, um tema que vem ganhando cada vez mais espaço em produções contemporâneas. Um bom paralelo pode ser feito com a série Adolescência, que também aborda as consequências do excesso de informação e da exposição à internet desde cedo. Nas duas produções, vemos como o sexo e as relações pessoais se tornam confusas e até prejudiciais quando os jovens não têm suporte para lidar com esse universo digital que lhes é acessível com tanta facilidade. A linha entre realidade e fantasia se embaralha, e o resultado muitas vezes é solidão, culpa ou repressão.

Outro ponto forte é o retrato do racismo estrutural e das desigualdades de classe. A maneira como a elite lida com problemas que afetam quem está fora do seu círculo social chega a ser quase caricata, não por exagero, mas pela frieza e indiferença com que situações graves são tratadas.

A série expõe esse abismo de forma sutil, mas incisiva, mostrando como certas vidas valem menos em um sistema onde o poder está concentrado nas mãos de poucos.

Vale a pena assistir A Reserva?

A Reserva é uma produção que aposta em uma abordagem mais contida e madura, fugindo do entretenimento fácil para provocar questionamentos importantes. Não entrega respostas prontas nem se apoia em reviravoltas espetaculares, mas se destaca justamente pela maneira como conecta mistério e crítica social de forma equilibrada.

Mesmo com alguns tropeços no ritmo, é uma minissérie que marca presença no catálogo da Netflix e aborda temas importantes. Se você gosta de suspense e parar pra refletir um pouco sobre como a sociedade atual funciona, a série é para você!

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Onde assistir A Reserva (Secrets We Keep)

A Reserva (Secrets We Keep) está disponível na Netflix. Com pouco mais de três horas de duração, é possível maratonar toda a história em uma tarde.

Ficha técnica

- Título original: Reservatet

- Título internacional: Secrets We Keep

- Ano de lançamento: 2024

- Plataforma: Netflix

- País: Dinamarca

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- Criadora: Ingeborg Topsøe

- Diretor: Per Fly

- Episódios: 6

- Duração total: Aproximadamente 3h20

- Gênero: Drama, Suspense, Mistério Social

- Elenco principal:

- Marie Bach Hansen como Cecilie

- Excel Busano como Angel

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- Donna Levkovski como Ruby

- Danica Ćurčić como Katarina

- Jason Hendil-Forssell como Martin

- Nanna Cecilie Bang como Aicha