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Review de Dept Q: vale ou não o play?

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Dept. Q chegou há pouco tempo no catálogo da Netflix e se destaca por trazer uma proposta diferente de séries policiais, Mas será que isso é bom mesmo?

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Dept Q: veja os prós e os contras da série que chegou recentemente à Netflix

No final de maio, chegou ao catálogo da Netflix a série Dept. Q, uma produção do gênero investigação policial com 9 episódios. Ela vem figurando entre os 10 mais assistidos do streaming, então resolvi entender o que justificava essa popularidade e se ela era realmente boa, ou seja, se vale o play.

Primeiramente, vale destacar que séries de investigação sempre fazem muito sucesso. A própria Netflix tem algumas no currículo que, além de populares, são muito boas. Exemplos: Mindhunter, The Sinner e DNA do Crime. Isso indica uma popularidade consolidada do gênero dentro da plataforma. Por isso, se o formato faz sucesso, obviamente eles continuarão investindo.

Veja o trailer da série "Dept. Q"

Dept. Q é baseado nos romances policiais do autor dinamarquês Jussi Adler-Olsen, o que acaba atraindo ainda mais público, já que quem conhece as obras do autor vai querer conferir as adaptações dos livros. A série foi adaptada por Scott Frank, que tem duas indicações ao Oscar como roteirista por Out Of Sight (1998) e Logan (2018), mas que não chegou a levar as estatuetas para casa. Já em 2021, ele venceu o Emmy pela série O Gambito da Rainha, que também faz parte do catálogo da Netflix. Tudo isso junto já dá uma bagagem muito interessante para a série, gerando burburinho e despertando a curiosidade do espectador.

Na trama, acompanhamos o detetive Carl Morck, interpretado por Matthew Goode, que recentemente passou por um evento traumático durante uma de suas investigações: ele foi baleado, um de seus colegas foi morto e o outro ficou paraplégico. Depois de um tempo afastado de suas atividades, Carl retoma o trabalho, mas descobre que o local onde atua está passando por mudanças e que ele foi rebaixado.

Carl fica responsável pela unidade de casos arquivados, o Dept. Q. Ele passa a liderar uma equipe de desajustados: Akram Salim (Alexej Manvelov), Rose (Leah Byrne) e seu ex-parceiro Hardy (Jamie Sives), que também foi baleado e agora está em uma cadeira de rodas. Juntos, eles reabrem o caso do desaparecimento da promotora Merritt Lingard (Chloe Pirrie), ocorrido quatro anos antes.

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Ao longo da série, acompanhamos os dois lados da história: o dos policiais e o da própria Merritt. De um lado, a equipe percebe falhas graves na segurança do estado e, com o tempo, vai entendendo que está sendo manipulada, já que há corrupção dentro da polícia, funcionando como um braço de interesses maiores. Enquanto isso, Merritt está viva e segue presa em um cativeiro. O motivo e os responsáveis por isso vão sendo revelados aos poucos ao longo dos nove episódios.

Por que vale dar o play: os acertos de Dept. Q

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Algumas das características já mencionadas são os 9 episódios, mas fique atento porque, apesar de serem poucos, alguns podem ter mais de uma hora de duração. O gênero é um grande atributo e, provavelmente, o principal atrativo: investigação policial. Tem um roteirista renomado, mas sobre tudo isso já falamos.

As críticas positivas sobre a série se dão muito pela atmosfera sombria e pela profundidade emocional dos personagens. O grande destaque fica a cargo de Matthew Goode, por sua interpretação de Morck, trazendo complexidade ao personagem atormentado e marcado pela tragédia recente. Além disso, a dinâmica com seus colegas do departamento foi bem construída, interessante e, por vezes, até divertida.

Apesar da atmosfera mais sombria e dramática, Morck tem um sarcasmo que lembra muito o Dr. Gregory House (Hugh Laurie), da série Dr. House. A relação dele com seus colegas é sempre abusiva, parecendo uma forma de descontar sua frustração de quem foi rebaixado, mas que ainda exerce algum tipo de poder sobre alguém.

Dept. Q evita clichês típicos de investigação e dramas policiais, focando no aprofundamento e desenvolvimento dos personagens e em suas lutas internas. Em resumo, o foco da série é muito o arco dos seus personagens. Todos são bem aproveitados e desenvolvidos. Para quem gosta desse formato, a série cumpre muito bem o seu dever.

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O lado sombrio… mas no bom sentido

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Dept. Q é como uma moeda: se, por um lado, suas características positivas já mencionadas podem agradar alguns, por outro, podem espantar outros espectadores. O primeiro episódio da temporada, apesar de longo, é intrigante: os policiais chegam a um cenário de crime, o assassino ainda está no local, reage e consegue escapar. Você automaticamente pensa: "Eu preciso continuar vendo isso!"

O problema é que a série não entrega o ritmo e a pegada do seu piloto. Muito pelo contrário: ela é lenta, triste, dramática demais para uma série policial que, querendo ou não, pede mais ação, pede um ritmo mais condizente com o gênero. Os clichês que ela tenta evitar para ser diferentona, de fato, ela evita, mas evita tanto que pode causar aversão em quem gosta de dinamismo e fluidez.

A gente vê a Merritt presa, mas não sentimos nenhuma empatia. Queremos que Morck chegue a algum lugar, que ele desvende esses crimes sem solução e, de repente, recupere sua autoestima, mas é só isso. Acaba que seu assistente, o Akram, se torna um personagem mais cativante que ele. Akram parece ter um propósito e motivações maiores do que o próprio protagonista.

O ritmo lento poderia ser preenchido com histórias do passado dos personagens, desdobramentos dentro da polícia, algo que ampliasse essa teia de corrupção e crime. Qualquer coisa que mudasse a dinâmica da série, tornando-a mais atrativa. Mas não adianta: o foco é o drama e os traumas dos personagens no momento presente, sem mais delongas.

Se for pelo play, vá por sua conta e risco

Se dependesse da minha opinião, eu não indicaria a série a ninguém. É mais fácil assistir a alguma das séries antigas que talvez ofereça alguma garantia de serem melhores e terem elementos do gênero policial. Porque, se a obra se propõe a ser um drama, que seja ele todo, como, por exemplo, a série Inacreditável, em que uma mulher denuncia um estupro, mas é acusada de fazer uma denúncia falsa. Anos depois, casos idênticos ao dela surgem, e duas investigadoras reabrem o caso e começam uma intensa busca por esse agressor.

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O que quero dizer é que a premissa da série não é muito clara. Há várias coisas acontecendo dentro daquela delegacia: uma teia de crimes, corrupção e outros elementos que não são bem explorados. Se você ainda adiciona isso tudo ao ritmo, que mesmo no 1.5x fica normal, é uma série para os fortes ou para quem gosta de séries policiais com clima denso, foco no psicológico e um ritmo mais lento. Não espere tiroteios a cada cinco minutos nem soluções rápidas.

É uma produção mais de atmosfera do que de ação. Se isso combina com o seu gosto, vale conferir. Caso contrário, pode passar para o próximo da lista.

Até o próximo artigo!