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Análise de The Paper: O herdeiro de The Office, humor e nostalgia

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Você sente falta de The Office? The Paper pode ser o que mais se aproxima, mas também o que mais se afasta. Nesta análise, falamos sobre o humor, os personagens e a nostalgia que a nova série desperta.

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Sobre The Paper

Lançada em 4 de setembro de 2025 pela Peacock nos Estados Unidos, e chegando à HBO Max no Brasil e na América Latina em 18 de setembro de 2025, The Paper é uma série de comédia criada por Greg Daniels (o mesmo de The Office) e Michael Koman (Nathan for You, Saturday Night Live).

A trama acompanha o dia a dia caótico do Toledo Truth Teller, um antigo jornal local de Ohio tentando sobreviver em meio a cortes de verba, fake news e a transição para o mundo digital.

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O elenco traz Domhnall Gleeson (About Time, Star Wars) como Ollie, o novo editor que tenta “modernizar” a redação com ideias questionáveis, e Sabrina Impacciatore (The White Lotus) como Valerie, uma repórter veterana que ainda acredita na ética jornalística.

O destaque fica para Oscar Núñez, que reprisa seu papel como Oscar Martinez de The Office, agora atuando como consultor financeiro do jornal (uma conexão direta com o universo original!).

Com 10 episódios de aproximadamente 30 minutos, The Paper mantém o formato de mockumentary, com câmeras observando os bastidores do trabalho e capturando olhares constrangidos, silêncios incômodos e situações tragicômicas.

The Paper: Trailer Oficial

Dados da Crítica

Pontos Positivos

The Paper foi o título de comédia mais assistido da Peacock em setembro de 2025, estreando no top 5 global de séries de humor segundo o IMDb Pro.

– A crítica internacional elogiou o roteiro ágil e observacional, que mistura humor constrangedor com comentários sociais sobre o colapso da mídia tradicional.

Domhnall Gleeson recebeu destaque por sua atuação como o chefe bem-intencionado, mas desastrado; um paralelo moderno ao clássico Michael Scott de Steve Carell, porém com um tom mais contido e realista.

– O formato documental continua eficaz: as pausas, olhares para a câmera e microexpressões dos personagens rendem momentos de humor genuíno, mantendo o DNA de The Office.

Pontos Negativos

– Parte do público considerou o início da temporada lento e excessivamente autoconsciente, tentando se distanciar de The Office enquanto ainda depende de sua fórmula.

– A sátira ao jornalismo digital, embora atual, às vezes soa didática demais, com diálogos que explicam conceitos que o público já entende.

– A ausência de um protagonista carismático no nível de Michael Scott ou Jim Halpert faz falta: The Paper aposta mais no conjunto, o que reduz o impacto emocional inicial.

– Algumas piadas internas sobre “o declínio da imprensa” podem passar despercebidas para quem não acompanha o cenário jornalístico.

Reflexão: o humor de The Paper e o legado de The Office

Se The Office mostrava a banalidade e o absurdo da vida de escritório, The Paper expande esse universo para um contexto mais contemporâneo: o colapso das instituições que antes sustentavam o cotidiano.

Em The Office, o humor nascia da rotina sem propósito: reuniões inúteis, chefes narcisistas, pequenos dramas transformados em tragédias. Já em The Paper, o riso vem do fracasso coletivo em se adaptar ao mundo moderno, da tentativa desesperada de “ser relevante” em meio a algoritmos absurdos.

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O que antes era o tédio de vender papel, agora é a frustração de vender informação, e ambos produtos que perderam valor no mundo digital. O humor continua desconfortável, cheio de constrangimentos e silêncios, mas o tema é mais incômodo: a luta pela verdade em tempos de clickbait.

Greg Daniels mantém o estilo que o consagrou: situações banais ganham peso cômico e filosófico. Mas Michael Koman adiciona um tom mais ácido, com personagens que oscilam entre a genialidade e o delírio.

Análise Pessoal

Confesso que comecei The Paper com uma mistura de empolgação e medo. Empolgação por finalmente ver algo novo de Greg Daniels, criador de The Office, e medo de que fosse apenas uma tentativa de repetir a fórmula que marcou uma geração.

Logo no primeiro episódio, percebi que The Paper não é The Office. E talvez esse seja tanto o seu maior mérito quanto a sua maior decepção.

Há algo profundamente melancólico na série. Ela tem humor, sim, mas um humor que dói um pouco. As pausas são mais longas, os olhares para a câmera parecem mais cansados, e o riso vem carregado de um certo desencanto. Não é mais o riso do chefe bobo e adorável, mas o do chefe perdido num mundo que muda rápido demais.

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Enquanto The Office fazia a gente rir do absurdo do cotidiano, The Paper nos faz rir de um mundo que parece estar desabando. É um humor sobre resistência, sobre tentar manter a dignidade quando tudo, o emprego, os valores e até a verdade, parece obsoleto a todo momento.

Senti uma pontada de nostalgia em cada referência sutil à Dunder Mifflin, mas também percebi que, assim como os personagens, eu também estava tentando me agarrar ao passado. The Paper nos obriga a aceitar que aquele tipo de comédia leve, quase inocente, já não cabe totalmente no mundo de hoje.

Outro ponto que me chamou atenção foi o romance entre os personagens principais. A relação é confusa, hesitante e repleta de mal-entendidos, o que parece ser uma homenagem discreta ao casal Pam e Jim de The Office. Mas aqui o amor é mais torto, mais real, menos encantado. Falta a pureza da esperança que havia no olhar de Pam, e sobra a insegurança de quem já não sabe se o afeto ainda é suficiente para sustentar duas pessoas cansadas.

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Por outro lado, dá para sentir que a série ainda busca o próprio tom. Às vezes é comédia de situação, às vezes drama existencial disfarçado de piada. Em alguns momentos, parece indecisa, mas essa indecisão também a torna humana.

Terminei a temporada dividido. Parte de mim queria mais gargalhadas, aquelas risadas sinceras que The Office me dava sem esforço. Mas outra parte, talvez a parte que envelheceu junto com a série, se viu emocionada por esse novo tipo de humor, mais triste e mais adulto.

The Paper não é necessariamente a volta de The Office. E tudo bem. É outra coisa, uma série que mostra que tudo está mudando ao mesmo tempo.

Curiosidades, Easter Eggs e Bastidores de The Paper

Mesmo sendo uma nova série, The Paper é cheia de acenos para The Office, tanto nos bastidores quanto dentro dos episódios. Greg Daniels e Michael Koman construíram o derivado como um “primo distante” da série original e deixaram uma série de detalhes escondidos que os fãs mais atentos vão adorar descobrir.

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Oscar Martinez

O ator Oscar Núñez reprisa seu papel como Oscar Martinez, agora como consultor financeiro do Toledo Truth Teller. Segundo Greg Daniels, a ideia era mostrar o que aconteceu com Oscar depois do fechamento da Dunder Mifflin em Scranton.

No episódio 2, ele menciona “um antigo chefe que fazia reuniões sobre PowerPoint sem PowerPoint”, uma clara referência a Michael Scott.

O nome “The Paper” é uma piada interna

Nos bastidores, Daniels explicou que o título tem duplo sentido:

– É uma alusão direta à Dunder Mifflin (The Office girava em torno de papel físico);

– E representa o “papel” do jornalismo moderno: uma profissão que tenta se manter relevante, mesmo quando o público não lê mais. Ou seja, The Paper fala sobre o fim do papel… de vender papel.

Aparições especiais de ex-integrantes de The Office

Além de Oscar Núñez, outros atores aparecem em participações sutis:

David Wallace (Andy Buckley) surge em um flashback, como investidor frustrado do jornal;

Ellie Kemper (Erin) aparece em um vídeo de treinamento de RH, em estilo VHS, usado pela redação;

Brian Baumgartner (Kevin) é visto em um pôster de campanha publicitária de donuts, que é um easter egg rápido, mas muito engraçado.

O mockumentary é “filmado” pela mesma equipe fictícia de The Office

Nos créditos, há uma menção à “Documentary Unit, Scranton Division”, sugerindo que a equipe que filmava The Office agora está produzindo o novo documentário sobre a redação de Toledo.

Greg Daniels confirmou em entrevista à Rolling Stone que o conceito é o mesmo: a série seria “uma nova produção da mesma equipe de documentaristas que, vinte anos depois, resolveu acompanhar outro tipo de trabalho americano em colapso”.

Referências visuais escondidas

– No episódio piloto, uma das paredes da redação tem uma foto emoldurada do prédio da Dunder Mifflin Scranton.

– Um personagem secundário usa uma caneca com o logo “World’s Okayest Boss”, que é uma paródia direta da icônica “World’s Best Boss” de Michael Scott.

– Em outro momento, o som de um telefone toca com o mesmo ringtone usado na recepção da Dunder Mifflin.

Greg Daniels e Michael Koman queriam “um Office sobre o colapso da verdade”

Segundo Daniels, o projeto nasceu da pergunta:

“Se The Office era sobre como o trabalho nos dava propósito, o que acontece quando o trabalho deixa de ter propósito?”

Koman complementa:

“A comédia vem do desespero. Os personagens de The Paper querem fazer o certo, mas o sistema inteiro está falido.”

Essa premissa deu origem à ideia de ambientar a série em um jornal local à beira da falência, espelhando a obsolescência do papel e do próprio The Office como retrato de uma era passada.

Trilha sonora com nostalgia

O tema de abertura de The Paper, composto por The 88, contém um motivo musical semelhante ao da música-tema de The Office: as notas iniciais têm o mesmo ritmo, mas em tom menor.

É uma homenagem sutil ao original, simbolizando o mesmo humor, porém em um contexto mais melancólico.

O episódio “The Rebrand” tem a piada mais referencial da série

Em “The Rebrand”, a equipe tenta encontrar um novo nome para o jornal. Um dos estagiários sugere “The Office Paper” e o grupo responde que “soa como uma série que já existe”.

Essa é a piada mais autorreferencial da temporada, e também o momento em que a série reconhece abertamente sua origem.

A gravação usou locações reais de jornais em crise

Grande parte da primeira temporada foi filmada em prédios de jornais desativados em Ohio e Pensilvânia. A redação do Toledo Truth Teller é uma mistura de três redações reais fechadas entre 2019 e 2023, adaptadas com tecnologia obsoleta e detalhes de época.

Steve Carell visitou o set, mas não quis aparecer

Greg Daniels revelou em entrevista que Steve Carell visitou as filmagens durante o segundo episódio. Ele foi convidado para uma participação especial, mas recusou, dizendo:

"Michael Scott deveria continuar preso no tempo, ele não saberia o que é TikTok."

Mesmo assim, há uma referência direta a ele: um papel de parede do computador da secretária mostra um GIF de um homem dançando com a legenda “Michael Forever”.

O futuro de The Paper: temporada renovada!

A série já foi renovada para uma segunda temporada antes mesmo da estreia da primeira, o que confirma a confiança da Peacock (e da HBO Max) no projeto.

Greg Daniels afirmou que a nova temporada deve expandir o universo e incluir mais personagens ligados à Dunder Mifflin, explorando a ideia de “um multiverso de ambientes de trabalho documentados”.

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Em outras palavras: o legado de The Office está só começando uma nova fase, e The Paper é o primeiro capítulo desse renascimento.

Conclusão: Vale a pena assistir The Paper?

Por mim, sim. The Paper é uma herdeira de The Office, só que diferente: mais sóbria, mais crítica, menos cômica, mas igualmente inteligente.

Se você espera piadas diretas ou o carisma caótico de Michael Scott, talvez se decepcione. Mas se gosta do humor observacional, do constrangimento realista e das entrelinhas sociais, The Paper é uma experiência rica e atual.

No fim das contas, o riso que The Paper provoca é o mesmo que The Office sempre ofereceu: o riso de reconhecer a nós mesmos em situações absurdas. A diferença é que, agora, as piadas são sobre o colapso do mundo, e não apenas do expediente.

Até o próximo artigo!