Tudo sobre Samurai de Olhos Azuis (Blue Eye Samurai)
Criação
Poucas vezes uma animação chega ao público discretamente e causa um impacto como o de Samurai de Olhos Azuis (Blue Eye Samurai).
Lançada pela Netflix em novembro de 2023, a série mistura ação muito bem animada, poesia visual e uma forte narrativa de vingança, ambientada no Japão do período Edo. O resultado? Uma das produções aclamadas, tanto pela crítica quanto pelo público!

Criada por Amber Noizumi e Michael Green, com direção de Jane Wu, a obra foi produzida pelo estúdio francês Blue Spirit em parceria com a Netflix Animation.
A primeira temporada possui oito episódios de 35 a 62 minutos cada, que mais parecem uma pintura em movimento, de tão lindos. Não à toa, conquistou prêmios como o Annie Awards e um Creative Arts Emmy, além de elogios de nomes como Hideo Kojima.
Animação
Se tem algo que faz Samurai de Olhos Azuis se destacar de cara é sua direção de arte. A série utiliza uma fusão de 2D e 3D, mas de uma forma que evita o aspecto “plastificado” bem comum em algumas produções do tipo (como na recente versão de Berserk, por exemplo).
Cada quadro é tratado com a delicadeza de uma pintura, lembrando aquarelas em movimento, com pinceladas que dão textura ao ambiente.

O estúdio francês Blue Spirit, em parceria com a Netflix Animation, apostou em um estilo visual inspirado no teatro bunraku (o tradicional teatro de bonecos japonês) e no cinema de mestres como Akira Kurosawa. Essa influência pode ser percebida na forma como a câmera se movimenta, na composição dos cenários e até no ritmo dos combates, que lembram a coreografia de filmes samurais clássicos.
Outro detalhe impressionante é o uso da iluminação dinâmica. As cenas variam de interiores sombreados, cheios de tensão, a paisagens abertas com cores vivas e contrastes, para refletir o estado emocional da narrativa. O resultado é uma experiência que não apenas conta uma história, mas pinta a jornada de Mizu como uma tela.
Período
Samurai de Olhos Azuis se passa no Japão, período Edo (1603–1868), uma era dominada pelo xogunato Tokugawa, onde o país possuía estabilidade política, rígida hierarquia social e um forte isolamento cultural. O Japão progredia em suas artes, arquitetura e tradições, todavia, se fechava para quase toda influência externa.
Nesse período, vigorava a política do sakoku (“país fechado”), que restringia drasticamente o contato com o Ocidente. Apenas alguns poucos holandeses e chineses tinham permissão de atracar em alguns portos, sob vigilância rígida. O resto do mundo era visto com desconfiança, considerado uma ameaça à ordem social, cultural e espiritual japonesa.

Por isso, alguém mestiço se torna extremamente mal-visto. Crianças de ascendência estrangeira eram consideradas impuras, uma enorme mancha à identidade japonesa. Os olhos azuis do personagem protagonista não eram somente um detalhe físico, mas uma marca visível, um lembrete da presença indesejada do ocidente.
Assim, a série traduz com força a mentalidade da época de que, para os japoneses desse período histórico, o estrangeiro representava tanto a curiosidade quanto o medo. Curiosidade por novas tecnologias, armas e ideias e medo porque cada novidade ameaçava a ordem japonesa estabelecida, baseada na pureza, na tradição e na rigidez social.
Nesse ambiente xenofóbico, a jornada do protagonista ganha ainda mais peso. Sua vingança não é apenas pessoal, é também um embate contra as estruturas históricas de um Japão que não aceitava a diferença.

Trama
Mais do que batalhas coreografadas, Samurai de Olhos Azuis entrega uma narrativa intensa, com cenas contemplativas e momentos de explosões psicológicas.
A história acompanha Mizu, um guerreiro mestiço que vive no Japão fechado para o ocidente. Sua condição, ser filho de um pai estrangeiro e ter herdado dele os olhos azuis, o torna alvo de preconceito, humilhação e exclusão social.
Movido por essa dor e pelo desejo de vingança, Mizu parte em busca dos quatro homens brancos que estavam ilegalmente no Japão no momento de sua concepção. Um deles é seu pai, mas todos representam, de algum modo, a fonte de sua maldição.

O enredo não é apenas uma jornada de vingança, mas também um questionamento sobre identidade, pertencimento e destino. Cada duelo que Mizu enfrenta não carrega somente sua revolta, mas também o peso psicológico de quem precisa afirmar sua existência em um mundo que o odeia. O contraste entre a brutalidade das lutas e os momentos contemplativos de silêncio dá um belíssimo tom poético à narrativa, fazendo da série algo além do que mais uma história de ação e lutas de espadas.
Recepção do Público
Com 97% de aprovação no Rotten Tomatoes e 88/100 no Metacritic, a série conquistou público e crítica de forma quase unânime. É um dos raros casos em que uma produção de estreia já nasce bem recebida.
Personagens de Samurai de Olhos Azuis
Não é apenas Mizu que rouba a cena, embora seja um dos protagonistas mais fascinantes da animação recente. A força da história também está no elenco de personagens que acompanham a jornada narrativa:

Mizu: Protagonista. Mais do que aparenta ser, de início sabemos apenas que é filho de mãe japonesa e pai estrangeiro. Desde pequeno, aprendeu a se disfarçar para sobreviver em uma sociedade hostil. Sua habilidade com a espada tão mortal. Determinado e implacável, mas também marcado por momentos de vulnerabilidade.
Eiji: O aprendiz de Mizu, que acaba se tornando seu amigo de jornada. Ingênuo, bem-humorado e leal, ele traz leveza à narrativa, equilibrando a seriedade de Mizu. Sua evolução é gradual, de jovem idealista a alguém disposto a lutar e se sacrificar por seus ideais.

Akemi: Uma jovem nobre que vive dividida entre os privilégios de sua posição e a falta de liberdade imposta por uma sociedade patriarcal. Sua vida e a de Mizu revelam um contraste: enquanto um vive nas sombras, a outra vive em uma “gaiola dourada”. Juntas, suas histórias reforçam os limites impostos aos estereótipos como "diferentes" ou "indesejáveis" da época.
Taigen: Samurai orgulhoso, inicialmente apresentado como antagonista, mas que ao longo da trama se revela muito mais complexo. Sua relação com Mizu passa de rivalidade a respeito, mostrando como até personagens inicialmente tidos como estereotipados podem se transformar diante de um bom roteiro.

Abijah Fowler: O principal antagonista estrangeiro. Cruel, arrogante e calculista, representa não apenas a ameaça externa ao Japão do período Edo, mas também a face mais perversa da colonização. Seu embate com Mizu é o clímax perfeito para a primeira temporada, unindo conflito pessoal e choque cultural.
Cada personagem, aliado ou inimigo, tem motivações, contradições e dilemas que o tornam tridimensional. E isso faz com que ninguém pareça descartável, cada figura que cruza o caminho de Mizu adiciona uma nova camada ao enredo, nada é gratuito.

Primeira Temporada
E aqui vai uma pequena lista de bons motivos para assistir à série, para quem ainda não viu ou está em dúvida se vale a pena conhecer antes de estrear a segunda temporada:!
A série é uma obra de arte em movimento. A união entre técnicas modernas e a poesia visual japonesa cria um estilo único. Cada frame é carregado de atmosfera e significado, tornando a experiência estética muito imersiva. Os cenários de cada cena parecem pinturas em vez de uma background de animação.
Temos reflexões sobre identidade. O fato do protagonista ser mestiço, discriminado e rejeitado pela sociedade, dá à série uma dimensão contemporânea. Samurai de Olhos Azuis fala sobre preconceito, exclusão e a busca por pertencimento em uma história ambientada séculos atrás, mas que conversa com temas bastante atuais.
Equilíbrio entre brutalidade e arte. As lutas são brutais e sangrentas, mas filmadas (ou melhor, animadas) com lirismo. A violência nunca é gratuita: ela é uma coreografia da vida de Mizu, cercada por momentos de silêncio, belas paisagens e destinos trágicos. E quando alguém sangra, até mesmo nesses momentos há uma arte refinada a se mostrar, nada gore ou chocante. Como uma obra de arte animada.

Segunda Temporada
Depois do estrondoso sucesso da primeira temporada, seria óbvio que a Netflix confirmaria uma segunda parte da jornada de Mizu.
E ela chega em 2026, com seis episódios. A notícia da estreia veio acompanhada de um teaser exibido no Festival de Annecy em 2025, que já deu o tom sombrio e visceral do que vem pela frente.
O teaser exibido trouxe cenas de Mizu chegando a Londres, ampliando a narrativa para além do Japão e explorando um território em que a presença ocidental é dominante.

Expectativas para a 2ª temporada de Samurai de Olhos Azuis
Expansão geográfica: se a primeira temporada mostrou o choque entre tradição japonesa e a presença estrangeira, a segunda deve mergulhar no coração do Ocidente, colocando Mizu em contato com uma nova cultura e novos inimigos.
Confrontos mais brutais: os criadores já adiantaram que as lutas terão ainda mais realismo, com coreografias inspiradas em produções live-action, elevando a intensidade visual da série.
Mais dilemas emocionais: fora do Japão, Mizu não será apenas um estrangeiro, será também um intruso no território de seus inimigos, o que promete novas camadas de conflito e solidão.
Continuidade da vingança: o embate com Abijah Fowler foi apenas o começo, os demais homens ligados ao passado de Mizu ainda não foram encontrados, e a série deve aprofundar esses confrontos.
A expectativa é que, se a primeira temporada foi um choque entre aço, sangue e poesia, a segunda tem tudo para ser um mergulho ainda mais profundo na alma de Mizu e suas transformações ao decorrer dessa nova fase, com a história sendo levada para um mundo além do Japão.
Contando o Tempo
Confesso que minha expectativa para a segunda temporada é bem alta. A primeira já me surpreendeu demais pela forma como uniu brutalidade e beleza em uma narrativa envolvente, e agora, com a promessa de expandir a trama para Londres, a curiosidade só aumenta!
E você? Já mergulhou na artística jornada sangrenta de Samurai de Olhos Azuis? Pretende assistir à primeira temporada ou já está contando os dias para a chegada da segunda? Está curioso para ver como Mizu vai dilacerar novos inimigos em Londres e encontrar seu infame pai? Nos conte nos comentários!

— Comentários 0
, Reações 1
Seja o primeiro a comentar