Mulher Valente: Evitamos Olhar ou Encaramos de Frente?

Quantas vezes temos que fechar os olhos para pequenas (ou grandes) injustiças que enfrentamos no dia a dia, seja na escola, no trabalho ou na família, apenas para manter aquele status quo, seja profissional ou familiar/social?
E quando nos questionamos, quando isso nos incomoda, será que temos a coragem necessária para dar a cara a tapa e mudar a situação? Afinal, se não fizermos nada, nada acontecerá.
Filme Baseado Numa Webcomic
O filme coreano Mulher Valente foi produzido entre 2021 e 2022 e é estrelado pela atriz Shin Hye-sun como a professora substituta So Si-min e pelo ator Lee Jun-young como o aluno praticante de bullying Han Soo-kang. O filme é baseado na webcomic Yongamhan Shimin, de Kim Jung-Hyun, publicada de 27 de novembro de 2014 a 20 de maio de 2016.

A trama aborda a história da ex-campeã de boxe e agora professora substituta So Si-min, que está se esforçando para se efetivar no colégio, mas testemunha um ato de violência que coloca em cheque sua necessidade de ignorar e continuar rumo à efetivação profissional ou fazer justiça com as próprias mãos para ajudar a vítima de bullying.
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O Bullying na Coreia do Sul
Esse não é o primeiro drama, seja filme ou série, que trata sobre bullying na Coreia do Sul. Esse assunto é tão indigesto lá como é aqui, mas, como estamos acostumados a consumir doramas de romance adulto, nem sempre o tema bullying aparece de forma tão clara e crua.
Talvez um outro drama muito bom para se meditar a respeito seja A Lição, que logo mais trarei aqui nesta coluna. Mas, por enquanto, vamos focar em Mulher Valente.

Quando So Si-min é contratada na escola modelo, que se orgulha por não ter bullying dentro de suas paredes — ao menos na imagem, porque por dentro é outra história —, ela não imagina que está substituindo uma professora que se suicidou devido ao excesso de bullying a que foi submetida. E, infelizmente, isso não é apenas ficção.
O bullying no país é um problema quase estrutural, pois vem de um sistema hierárquico existente na sociedade coreana, atrelado à competitividade a que os estudantes são expostos, assim como à vista grossa que muitos professores fazem diante das agressões, por medo da exposição ou de perderem seus empregos. Segundo uma enquete realizada pelo Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia sul-coreano em 2012 (sim, mais de 10 anos atrás, e isso piorou muito devido ao bullying digital), 1 em cada 10 estudantes, do primário ao secundário, afirmam ter sofrido algum tipo de agressão pelo menos uma vez naquele mesmo ano. E isso leva a números alarmantes de jovens que cometem suicídio motivados pelo bullying nas escolas e em outros ambientes sociais.
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Sendo assim, esse drama com toques de comédia retrata uma realidade coreana muito concreta, que muitos professores preferem ignorar para manter seus empregos, assim como é o caso inicial de So Si-min.

Uma Bela Curva Dramática
Porém, a professora tem um lado que ninguém sabe: ela era uma lutadora de boxe que aposentou as luvas após uma decisão da qual se arrepende, mas que tomou para ajudar o pai.
A curva dramática da personagem, aliás, gira em torno disso: antes, ela “fechou os olhos para algo” a fim de ter um resultado positivo para sua família. Será que agora ela continuará fechando os olhos enquanto um aluno sofre física e psicologicamente diante dela? Enquanto todos os outros adultos e responsáveis fingem não ver?

É muito gratificante ver a evolução da personagem, vê-la se redimir com a jovem So Si-min e romper com as correntes do bullying hierárquico da escola, seja de máscara ou de cara limpa, mostrando para todos quem ela é. Quem é a mulher que está derrubando a parede de covardia e violência?
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A Que Puxa o Olhar de Muitos
Através do movimento de So Si-min, de sua vontade de abrir os olhos, apenas ela, sozinha entre tantos paralisados — seja por medo, seja por vantagens, seja por pura covardia —, vários outros se unem em um coro de vozes e rostos contra o bullying e seu autor, que, mesmo se vendo sozinho no ringue, não se despede de seu orgulho e prepotência.

Aqui não temos redenção ou arrependimento do vilão; assim como em muitos casos da vida real, algumas pessoas são simplesmente ruins, sociopatas que se alegram com o sofrimento alheio, e é preciso que alguém se ergue contra elas, às vezes uma única pessoa, para que algo comece a acontecer.
Para que alguma diferença aconteça e as vítimas possam ser ouvidas, protegidas e ajudadas.

Será que Estamos de Olhos Fechados?
O dorama nos faz concluir que, por vezes, fechar os olhos é fazer parte do grupo que oprime, que deixa o mal acontecer apenas para não ter “dor de cabeça”, “porque o problema não é nosso”.
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Mas quando uma sociedade está doente, o problema é de todos nós. E se todos fecharmos os olhos, seremos uma sociedade cega, sem uma única pessoa para olhar, para lutar por nós. Porque, se não fizermos nada, nada acontecerá.
E você, já abriu seus olhos hoje?

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