Sobre The Ultimatum
Muitos realitys de relacionamento giram em torno de formar casais ou até colocar antigos casais para brigar, mas a proposta de Ultimatum Queer Love surpreende por apostar numa coisa completamente nova: a destruição do relacionamento.
Derivado de “The Ultimatum”, uma versão hétero do programa, a versão queer love, não à toa, tem uma desempenho de audiência muito maior. Por quê? Bom, digamos que o mundo LGBTQIA+ pode gerar muito mais entretenimento quando se trata de casamento, relacionamento, traição e tudo que circunda esse tema, mas vamos do começo:
O Formato
Seis casais. Uma das partes se sente pronta e tem certeza que quer casar. Certeza a ponto de dar um ultimato à sua parceira, que, cada uma com seu motivo, ainda não está pronta para o casamento.
Chegando no programa cada casal vai “terminar” seu relacionamento e começar a fazer dates com as outras mulheres dos outros casais que também estão na mesma situação. No período de duas semanas as mulheres podem conhecer novas parceiras em potencial, fazer dates e escolher uma delas para um “casamento experimental”.
É isso mesmo. Sua namorada vai ao programa com você, termina contigo e ainda se casa com outra. Casamentos experimentais feitos, cada novo casal formado fica um mês morando junto como casadas, cortando (ou não) toda a comunicação com a parceira antiga.
Ao final do primeiro mês, as mulheres voltam ao seu casal original e também vivem um segundo casamento experimental de um mês. Ao final desse tempo as mulheres decidem se vão se casar com as companheiras que chegaram lá, com uma companheira que conheceu no programa, ou se só sairá sozinha.

A Psicologia do Ultimato
O formato do programa, embora pareça simples, é uma complexa engrenagem psicológica. O “ultimato” inicial não é apenas um pedido de casamento, mas um gatilho de ansiedade e insegurança que força a parceira a se confrontar com seus medos e incertezas.
Em vez de resolver esses impasses em um ambiente privado e seguro, o programa os amplifica ao expor o casal a um cenário competitivo e tentador, no qual a atenção e o afeto de outras pessoas se tornam validação.
A premissa de "encontrar um novo parceiro" e viver em "casamentos experimentais" serve como uma forma de terapia de choque. As participantes são obrigadas a enfrentar a possibilidade de perderem suas parceiras enquanto exploram novas conexões. Essa dinâmica cria um caldeirão de emoções intensas: ciúme, saudade, paixão e até mesmo a descoberta de novas compatibilidades.
O programa não apenas testa a força dos relacionamentos, mas também a resiliência emocional de cada indivíduo. É nesse ponto que a linha entre entretenimento e experimento social se torna tênue, já que o show lucra com o drama de relacionamentos reais postos à prova em condições extremas. A cada nova interação, a certeza inicial das participantes é questionada, revelando vulnerabilidades e, muitas vezes, redefinindo o que elas realmente buscam no amor.

O desenrolar da trama
Não é necessário falar muito para entender que o desenrolar da trama é repleto de confusões de todos os tipos. O próprio conceito do programa já parte de uma construção que, se não proposital, acaba sendo o desenho ideal de um bom barraco armado entre lésbicas desesperadas para se casar (ou não se casar).
Desde questionamentos mais adequados a temática do programa, como se as perspectivas de futuro se alinham ou o que significa se casar para ambas as partes, até questionamentos filosóficos sobre o que é traição, sexo ou confiança num relacionamento queer moderno, o drama aqui é repleto de perguntas que, honestamente, nem precisam de uma resposta.
É certo que ver tantas discussões, confusões e quebras de relacionamentos já é entretenimento por si só, mas até que ponto estamos elaborando criticamente sobre o que isso significa e até que ponto estamos apenas desfrutando com olhares prazerosos o trágico fim de um relacionamento que já estava fadado a acabar?

O experimento social
É dado que numa configuração regular, estar em um relacionamento sério é mais do que trocar afetos. É fazer planos e construir coisas juntas. Um casal que não consegue se alinhar com isso eventualmente enfrenta impasses, mas um impasse sem resolução pode levar um relacionamento ao fracasso.
Se tratando de um impasse tão grande quanto o casamento e a perspectiva de futuro, é muito necessário falar que o fracasso aqui é praticamente iminente. Seja pela negação, seja pelo desespero, cada uma dessas mulheres se inscreveu no programa e se dispôs a mostrar suas tentativas de salvar um relacionamento que já apresentava problemas.
Na teoria, o experimento faz muito sentido. Mas quando o entretenimento gerado pelas confusões da dinâmica é colocado em primeiro plano, sobre os sentimentos de mulheres reais, que tem sonhos e desejos em jogo, talvez o discurso sobre amor e relacionamento aqui não seja o melhor de todos. (Em alguns momentos soa quase como propaganda anti-monogâmica)

É errando que se acerta?
Ao final de cada temporada, um episódio especial de reencontro, meses depois do programa, vai ao ar. Nessa altura, as mulheres já assistiram a todos os capítulos da temporada montados e editados e agora falam sobre suas experiências.
Mesmo com uma taxa de sucesso inferior a 25% por temporada, cada uma das mulheres parece aprender muito com o programa. Os relatos são bem instigantes, uma vez que a maior parte delas descreve como “uma experiência transformadora”.
É claro que depois de ver tudo, na visão das 12 participantes, o reencontro é regado de boas discussões e novas tretas advindas da revelação de mentiras, omissões, traições suavizadas em falas, dentre tudo o que sua parceira aprontou enquanto estava casada com a namorada de outra mulher que também está ali presente.

Conclusão
Ultimatum Queer Love é uma grande confusão, mas do melhor e mais divertido jeito possível.
É sempre importante ressaltar que aqui há importantes discussões sobre relacionamentos, idealizações e a maneira como as pessoas lidam com o amor.
Ainda assim, é inegável que é um entretenimento de altíssima qualidade. Se você quer ver boas brigas, discussões, traição, ameaças, mentiras e tudo isso regado de muito romance LGBT, “Ultimatum” com certeza é seu programa para o fim de semana!
Depois que assistir, conta para a gente o que achou? Por aqui, estamos curiosas para saber o casal que você mais shippou ou que mais te decepcionou!
Até a próxima!
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