A Bailarina - Representatividade e Porradaria
Já ouviu falar daquele filme de suspense/ação coreano que lava a alma das mulheres com representatividade, no melhor estilo John Wick?
Não? Pois depois deste post, acho que você vai querer assistir, porque esse filme, embora não tenha um roteiro digno de Oscar, nos faz sentir vingadas, pelo menos na ficção, por cada abuso físico ou psicológico que já sofremos.

Qual é o enredo de A Bailarina?

Com uma trama que — atenção — pode gerar gatilhos em algumas pessoas, A Bailarina conta a história de Jang Ok-ju, uma ex-guarda-costas de clientes VIP que, após receber uma ligação da melhor amiga, Choi Min-hee (A Bailarina do título), vai até o apartamento dela... apenas para descobrir que Min-hee cometeu suicídio. Ela deixa um bilhete pedindo que Jang Ok-ju vingue sua morte, revelando ter sido vítima do traficante sexual Choi Pro, que a extorquiu e abusou, registrando tudo em vídeo.

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O longa é estrelado por Jeon Jong-seo, Kim Ji-hoon e Park Yu-rim nos papéis principais, e tem pouco mais de 90 minutos de duração. No site Rotten Tomatoes, recebeu uma boa aprovação: 91%, com uma média de 6,6/10.
Apesar de ter um roteiro relativamente simples, o filme se destaca pelas cenas de ação e pelo visual. A fotografia e alguns enquadramentos são bastante criativos.


Por que esse filme "lava a alma" das mulheres?
Essa é uma história de vingança que fala diretamente com a experiência feminina.
Temos uma protagonista disposta a fazer justiça pela amiga, que foi levada ao desespero após sofrer abusos físicos e psicológicos. É impossível não nos colocarmos no lugar de Min-hee — lembrando de todos os abusos que já vivenciamos. Sejam eles pequenos (aos olhos dos outros) ou grandes, a ponto de ganharem repercussão na mídia.
Assédio, extorsão e até deepfakes com rostos de mulheres em cenas de sexo explícito circulam pela internet — muitas vezes expostos pelos próprios parceiros ou ex-parceiros — e destroem a autoestima e a vida de inúmeras mulheres.
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Recentemente, na Coreia do Sul, houve um aumento alarmante na disseminação de deepfakes entre estudantes. Chegou ao ponto de garotos enviarem fotos de colegas para sites que geram vídeos falsos. Existiam até salas de bate-papo dedicadas a escolas de ensino médio — e, pasmem, até do ensino fundamental.
A causa? O sexismo estrutural. E todas nós, mulheres, ao redor do mundo, estamos sujeitas a isso. Quando acontece, sentimos vergonha, medo, nojo. Nos sentimos violadas.
Então, sim — é fácil nos colocarmos no lugar da bailarina Min-hee.

Mas também desejamos nos ver na figura de Jang Ok-ju: uma justiceira durona, lutadora, sem paciência para violadores e abusadores.
Ela representa aquele senso de justiça — e, por que não, de vingança — que grita dentro de cada mulher que já foi ferida. A vontade de socar, quebrar, esmagar quem machucou, porque já não confiamos que o sistema vá punir como deveria.
Jang Ok-ju não espera que a justiça venha pela lei. Ela conhece o sistema. Sabe que demora. E, quando a punição vem, muitas vezes não é suficiente.
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Quantas mulheres abusadas já denunciaram seus agressores apenas para vê-los sendo soltos por "bom comportamento"? Ou descumprindo medidas protetivas e voltando a vitimar? E pior: sendo assassinadas?
Sim. Muitas de nós, em algum momento, desejamos nos vestir como Jang Ok-ju e fazer justiça — por nós mesmas, nossas mães, irmãs e amigas.
E se isso não é representatividade, o que seria?

Um John Wick feminino?
As cenas de ação de A Bailarina são, de longe, o ponto alto do filme — e dá para entender o motivo. Asiáticos sabem como filmar ação, vamos combinar.
Ver Jang Ok-ju enfrentando Choi Pro, atirando sem paciência em quem não colabora, destruindo uma fábrica de drogas... tudo com uma boa fotografia e coreografias impactantes, é de encher os olhos. E o melhor: mostra que sim, é possível fazer filmes de ação com mulheres no protagonismo. Só falta ter boa vontade.

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Apesar do roteiro simples...
A Bailarina merece crédito por abordar um tema atual: a exploração da imagem feminina nas redes. O abuso de nossos rostos, de nossos corpos — nas mãos de desconhecidos que podem nos extorquir e humilhar até mesmo do outro lado do mundo.
O filme talvez não tenha um enredo complexo, mas nos faz refletir.
E, sejamos sinceras, é também um alívio ver abusadores levando porrada no melhor estilo dos filmes de ação. Ajuda a desligar da vida real e sonhar, mesmo que por um instante, que um dia esse povo vá receber o castigo que merece.

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