Lista de personagens LGBTQIA+ em séries e filmes!
Nos últimos anos, felizmente, as produções internacionais vêm inserindo cada vez mais personagens LGBTQIA+ em filmes e séries. Isso já é uma vitória inegável. Contudo, ainda é necessário discutir o tipo de representação que é pautada para essas pessoas, quem está por trás da escrita, direção, produção e atuação desses personagens, entre diversos outros fatores que perpetuam a construção de um imaginário que, esperamos, seja livre de preconceitos.
Quando se pauta um personagem LGBTQIA+ reduzindo-o ao seu gênero, sexualidade ou forma de se relacionar, automaticamente reduzimos toda uma comunidade a uma simples especificidade de sua identidade.
É pensando nisso que trouxemos uma lista quentinha, com 10 protagonistas da comunidade que não estão em papéis que os reduzem apenas a seus romances, gêneros e outros aspectos. Vamos à lista:

Rue - Euphoria (2019 - atualmente)
Criada por Sam Levinson e exibida pela HBO, Euphoria é uma série dramática que mergulha no universo adolescente, com estética ousada e temas densos, como vício, identidade, saúde mental e redes sociais. A narrativa acompanha a vida de Rue Bennet e seus colegas de escola, em meio a crises emocionais e existenciais.
A série é conhecida por sua linguagem visual marcante e pelas fabulosas performances das personagens, com destaque para Zendaya, que também é produtora executiva da obra.
Ad
Rue (interpretada por Zendaya) é uma jovem queer e usuária de drogas em reabilitação, cuja trajetória está ligada à sua saúde mental e à dificuldade de lidar com a sociedade e a realidade que a cerca. Embora o afeto com Jules (interpretada por Hunter Schafer) tenha espaço na série, sua identidade vai muito além disso! Rue carrega em si um vazio existencial, um olhar crítico e sensível sobre o mundo e uma busca constante pelo sentido das coisas. Rue é um retrato complexo e cheio de nuances sobre uma juventude queer em dor, resistência e constante reinvenção.

Betty Elms - Mulholland Drive (2001)
Dirigido por David Lynch, Mulholland Drive é um thriller psicológico que embaralha realidade, sonho e identidade em uma narrativa fragmentada e onírica. O filme é considerado uma das obras-primas do cinema contemporâneo e, curiosamente, foi originalmente concebido como piloto de série. Ele acompanha Betty Elms, uma aspirante a atriz chegando em Hollywood, e sua relação com uma mulher amnésica que tenta reconstruir sua identidade.
Betty Elms, interpretada por Naomi Watts, é uma personagem que nos leva por uma espiral de ilusões, frustrações e desilusões em uma indústria em ascensão. Sua relação com Rita possui camadas afetivas e sexuais, mas o cerne da questão está mais na tensão entre sonho e fracasso, desejo e ilusão, ser ou não ser. Sua representação como mulher queer está imersa em simbolismos, clássicos da filmografia de David Lynch, sendo muito menos sobre se definir como alguma sexualidade em algum momento e mais sobre as atmosferas, estados, espíritos e sentimentos do momento, transparecidos em grandes cenas memoráveis.

Mildred - Ratched (2020)
Criada por Evan Romansky e produzida por Ryan Murphy, Ratched é um thriller psicológico com estética noir e ambientação hospitalar. A série reimagina a origem da icônica enfermeira Mildred Ratched, personagem original de Um Estranho no Ninho (1975). A produção combina horror, suspense e crítica institucional, com direção de arte extravagante e temas relacionados à repressão, controle e doenças psicológicas.
Ad
Na série, Mildred Ratched (interpretada por Sarah Paulson) é uma mulher com passado misterioso que se infiltra em um hospital psiquiátrico com intenções ambíguas. Ao longo da trama, são reveladas camadas de sua complexidade emocional, incluindo sua orientação lésbica, construindo nuances e tensão dramática.
Sua jornada não gira em torno de um par romântico, mas da tentativa desesperada de controle e sobrevivência em uma sociedade que patologiza tudo o que é dissidente. Mildred é perversa, mas a série faz questão de demonstrar que há mais camadas do que isso nessa protagonista controversa.

Sin-Dee - Tangerine (2015)
Dirigido por Sean Baker e filmado inteiramente com iPhones, Tangerine é um marco do cinema independente. Ambientado nas ruas de Los Angeles, o filme acompanha o cotidiano marginalizado de duas mulheres trans que trabalham com prostituição e tentam sobreviver no Natal. A produção é vibrante, crua e cheia de energia, oferecendo uma perspectiva rara sobre vidas queer periféricas.
Sin-Dee (interpretada por Kitana Kiki Rodriguez) é uma mulher trans explosiva e destemida que acabou de sair da prisão e está determinada a confrontar seu namorado e cafetão, após descobrir que ele a está traindo.
Embora a motivação do enredo parta de um engano amoroso, o verdadeiro foco está na jornada caótica e cheia de personalidade de Sin-Dee pelas ruas de Los Angeles, em sua amizade com a fiel companheira Alexandra (interpretada por Mya Taylor) e em sua resistência cotidiana à exclusão, um sofrimento que a comunidade trans categoricamente enfrenta. Sua identidade trans está no centro da narrativa, mas nunca reduz a personagem a um discurso de gênero; Sin-Dee é complexa e cheia de camadas que podemos ver ao longo de cada cena.

Ad
Blanca - Pose (2018-2021)
Criada por Ryan Murphy, Steven Canals e Brad Falchuk, Pose é uma série que retrata a cena Ballroom em Nova York nos anos 1980 e 1990, entrelaçando questões de raça, classe, gênero e tudo isso sob a época de epidemia de AIDS. A série fez história ao contar com o maior elenco de atrizes trans em papéis principais da televisão, todas interpretando mulheres trans reais e complexas.
Blanca Evangelista (interpretada por MJ Rodriguez) é uma mulher trans latina e soropositiva que está decidida a abrir sua própria casa de acolhimento para jovens LGBTQIA+ expulsos de suas famílias. Sua jornada é sobre família, superação, luta por dignidade e espaço em um mundo que categoricamente deseja nos excluir. Blanca não é definida por uma relação amorosa, mas pelo amor coletivo, pela liderança comunitária e por sua capacidade de construir uma família em meio ao abandono social.

Sookee - A Criada (2016)
Dirigido por Park Chan-wook, A Criada é um thriller erótico sul-coreano, ambientado na Coreia ocupada pelos japoneses nos anos 1930. Inspirado no romance “Fingersmith”, de Sarah Waters, o filme mistura mistério, sensualidade e jogos de poder em uma trama com reviravoltas elaboradas. Visualmente propositivo e narrativamente provocador, a obra ganhou repercussão internacional pela originalidade e ousadia.
Sookee (interpretada por Kim Tae-ri) é uma jovem vigarista contratada para ajudar a enganar uma herdeira japonesa, mas que acaba envolvida emocionalmente com ela. Embora o romance entre as duas tenha um papel importante na trama, o protagonismo de Sookee vai muito além do amor. Sua inteligência, astúcia e habilidade em subverter estruturas de dominação são centrais para o desenvolvimento do filme. Suas dissidências e sua origem pobre em contexto colonial representam uma ressignificação do desejo de poder.

Ad
Tuca - Tuca & Bertie (2019-2022)
Criada por Lisa Hanawalt, a série animada Tuca & Bertie mistura humor, delírio e crítica social ao retratar a vida de duas amigas trintonas antropomorfizadas: uma tucana extrovertida e uma ave cantora ansiosa. Com estética psicodélica e linguagem nonsense, a série aborda temas como trauma, amizade, trabalho e amadurecimento de forma leve e inventiva.
Tuca, dublada por Tiffany Haddish, é uma mulher pansexual, irreverente e cheia de contradições. Ela não tem um relacionamento estável, mas vive sua sexualidade de maneira livre e divertida. Ao longo da série, vamos descobrindo também suas inseguranças, seu histórico familiar difícil e seu jeito muito peculiar de lidar com o mundo. Ela desafia o padrão de ser exemplar ou explicativa; Tuca prefere existir em complexidade e caos, sendo autenticamente ela mesma.

Lorraine - Atomic Blonde (2017)
Dirigido por David Leitch, Atomic Blonde é um thriller de espionagem com cenas de ação intensas e um protagonismo feminino no centro da trama. Ambientado em Berlim nos dias finais da Guerra Fria, o filme mistura estética elegante, trilha sonora vibrante e uma trama cheia de drama, espionagem e reviravoltas.
Lorraine Broughton (interpretada por Charlize Theron) é uma agente do MI6 enviada para recuperar uma lista de agentes secretos durante o caos da queda do Muro de Berlim. Sua bissexualidade aparece no filme de forma natural, sem ser o foco da narrativa, que está centrada na sua missão, mas repleta de brutalidade física e inteligência estratégica. Ela rompe com o estereótipo de femme fatale a serviço do olhar masculino e se afirma como uma figura poderosa, letal e independente, no comando de sua própria ação.

Ad
Honeybear - Betty (2020-2021)
Criada por Crystal Moselle e derivada do filme Skate Kitchen (2018), Betty é uma série da HBO que acompanha um grupo de garotas skatistas em Nova York. Com abordagem documental e elenco composto por atrizes que são skatistas na vida real, a série é marcada por um naturalismo sensível e um olhar afetuoso sobre juventudes urbanas e dissidentes.
Honeybear (interpretada por Moonbear) é uma jovem negra, queer e introvertida, com uma sensibilidade artística aflorada. Seu estilo é marcante, e sua forma de se expressar mistura performance, audiovisual e moda.
Ao longo da série, vemos sua relação com o grupo de amigas, suas dúvidas afetivas e seus conflitos internos sobre como ser e se mostrar para o mundo. Sua identidade queer é parte de sua vivência, mas não o seu único conflito. Ela representa uma juventude múltipla, silenciosa, intensa e em constante reconstrução.

Thelma - Thelma (2017)
Dirigido por Joachim Trier, Thelma é um thriller psicológico norueguês que mistura coming of age, elementos sobrenaturais e temas religiosos. A trama acompanha uma jovem caloura da universidade que começa a desenvolver poderes telecinéticos enquanto lida com desejos reprimidos e memórias traumáticas. O filme é atmosférico, denso e metafórico, dialogando com o horror de forma sutil e elegante.
Thelma (interpretada por Eili Harboe) é uma jovem, criada em uma família cristã conservadora, que começa a despertar para sua sexualidade e poderes psíquicos ao mesmo tempo. Sua atração por outra garota desestabiliza seu mundo interior e aciona lembranças que estavam enterradas.
Ad
Embora haja um componente romântico, o filme é essencialmente sobre repressão, culpa, aceitação e liberdade. Thelma é uma personagem lésbica que, em vez de ser punida pelos seus desejos, os assume, manifestando isso até mesmo com forças sobrenaturais.
Conclusões
É sempre bom poder nos ver e criar um imaginário coletivo onde podemos ser qualquer coisa, né?! A importância de nos ver nas telas vai para além da representação. Ela serve para que possamos nos ver em novos lugares, olhar para caminhos improváveis e saber que qualquer caminho que queiramos pode ser nosso!
E você? O que achou dessa lista? Se identificou com algum personagem? Alguém muito importante ficou de fora? Conta pra gente nos comentários!
— Comentários
0Seja o primeiro a comentar