Tudo sobre Outro Pequeno Favor: Spoilers, Reviravoltas e Comparações

Se você assistiu Um Pequeno Favor e achou que o final já tinha esticado o elástico do absurdo até onde dava, parabéns: você não estava errado. E mesmo assim, alguém achou uma boa ideia continuar puxando esse elástico até ele estourar na nossa cara — e o resultado foi Outro Pequeno Favor.
Um filme que tenta ser tudo ao mesmo tempo: comédia, crime, sátira social, turismo de luxo e suspense noir com luz de loja conceito. Spoiler: não é nada disso.
A sequência chega cinco anos depois, direto no catálogo da Prime Video, como quem aparece em um reencontro da escola vestindo algo caríssimo só pra todo mundo comentar “nossa, mudou...”. Mas a mudança aqui é só de cenário. Sai o subúrbio americano, entra a Itália de cartão-postal.
Só que o conteúdo continua sendo aquela mesma salada onde Emily (Blake Lively) e Stephanie (Anna Kendrick) funcionam como o duo improvável tentando sobreviver a um roteiro que parece escrito por uma IA bêbada.
Vamos relembrar um pouco sobre Um Pequeno Favor
Um Pequeno Favor funciona porque parte de uma situação corriqueira, que poderia acontecer com qualquer pessoa, e extrai diversos desdobramentos a partir dela. Emily (Blake Lively) é casada com Sean (Henry Golding) e eles têm um filho chamado Nicky (Ian Ho). Juntos, são aparentemente a família de comercial de margarina: ricos, apaixonados, o tipo de lar onde, em teoria, nada poderia dar errado.
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Em contrapartida, temos Stephanie (Anna Kendrick), uma mulher viúva que cria seu filho Miles (Joshua Satine) com todo esforço e dedicação do mundo, vivendo da pensão deixada pelo falecido marido.

O caminho das duas se cruza quando Emily pede que Stephanie busque Nicky e fique com ele por um tempo, pois tem uns assuntos a resolver e Sean é um homem muito ocupado. O problema é que Emily simplesmente desaparece por dias, e Stephanie, por estar cuidando de Nicky, acaba ficando obcecada com a situação e resolve investigar por conta própria o que pode ter acontecido. Com o passar dos dias, surge a hipótese de que Emily tenha sido assassinada, ainda mais diante de alguns vestígios e evidências já reveladas.
Diante disso, Stephanie e Sean acabam convivendo mais, vão se conhecendo e, eventualmente, se aproximam romanticamente. Por mais que seja uma situação delicada (e algo bem errado de se fazer), o sentimento fala mais alto e eles acabam cedendo à paixão — principalmente quando Emily é, de fato, dada como morta.
Então, acontece o grande plot twist do primeiro filme: Emily não morreu. O corpo encontrado era, na verdade, de sua irmã gêmea, Faith McLaden. Emily matou a irmã e forjou a própria morte para ter acesso ao seguro de vida que o marido receberia. Enquanto isso, Stephanie tentava desvendar tudo sozinha. Pois tudo em torno de Emily é estranho e enigmático. Quando ela retorna, quer vingança e tenta recuperar a vida que deixou para trás. Mas acaba presa, e Stephanie e Sean ficam juntos.
Aparentemente, não havia como — nem por quê — Um Pequeno Favor ter uma sequência. O filme é bom, instigante e completamente funcional sozinho. Mas eis que a continuação chegou cinco anos depois, direto para a Prime Video, e a dúvida que ronda a cabeça de todo espectador é: o que eles vão inventar?
A continuação que ninguém pediu, mas a Prime Video entregou mesmo assim
Veja o trailer de Outro Pequeno Favor:
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Outro Pequeno Favor chegou ao streaming no dia 1º de maio. As expectativas eram grandes por diversos motivos, sendo o principal deles a curiosidade: qual seria a sinopse desse novo filme? Em resumo, a história acompanha Stephanie Smothers (Kendrick) e Emily Nelson (Lively) em uma viagem para o luxuoso casamento de Emily na Itália, onde se deparam com assassinato, traição e reviravoltas.
Stephanie agora é uma celebridade nas redes sociais, por causa do seu vlog de mãe, dona de casa e cozinheira. Mas, depois do escândalo envolvendo Emily, ela aproveitou a fama e lançou um livro de true crime que virou best-seller.
Durante o lançamento do livro, quem aparece de surpresa é Emily — algo completamente inesperado, já que ela foi condenada a pelo menos 20 anos de prisão. Apesar de não explicarem muito bem, ela encontrou uma brecha legal, conseguiu ser solta e agora vai se casar com Dante Versano (Michele Morrone). Ele não é um italiano qualquer — faz parte de uma máfia. Ou seja: já sabemos que muita coisa vai acontecer nesse evento pra lá de inusitado.
Emily convoca Stephanie para ser sua dama de honra. Stephanie recusa, mas se vê num beco sem saída quando Emily ameaça processá-la por uso indevido de imagem e invasão de privacidade, já que a blogueira está ganhando rios de dinheiro com a história da outra. Ela então aceita o convite por livre e espontânea pressão.
Viagem dos sonhos, pesadelo narrativo

O longa se passa inteiramente na Itália — e, aliás, as locações são provavelmente o maior saldo positivo do filme. Trata-se de um vislumbre visual, quase um convite turístico: “viaje você também para a Itália!”. Filmado majoritariamente na Ilha de Capri, com algumas cenas em Roma, o filme capricha na direção de arte e fotografia, apostando em planos abertos e imagens aéreas para exibir toda a grandiosidade do local.
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Mas aí vem o ponto fraco: o exagero. É evidente que o filme teve um orçamento altíssimo, com locações luxuosas, elenco estrelado e produção pomposa. O problema é que toda essa ostentação não compensa o roteiro fraco. Arrisco dizer que o cenário deslumbrante é uma cortina de fumaça para o desastre narrativo que nos entregam.
Spoilers: porque se você chegou até aqui, merece saber no que se meteu

Emily e Stephanie estão na Itália, o casamento vai acontecer, e enfim a trama começa a se desenrolar. Afinal, se esse filme existe, é porque tem algum propósito... ou deveria ter.
Antes do casamento, há um jantar de ensaio que reúne família e amigos. Desde o início, a tensão entre Emily e Stephanie é evidente — e faz sentido, já que Emily foi presa em flagrante tentando matar a amiga e o ex-marido. Stephanie, com razão, fica o tempo todo esperando a vingança vir disfarçada de bebida batizada, penhasco convidativo ou uma conversa fatal.
Aliás, rolam muitos rumores sobre um possível desentendimento entre Blake Lively e Anna Kendrick nos bastidores — dizem que elas não se suportam. Se é verdade, nunca saberemos. Mas, se for, elas disfarçam bem: transferem essa energia para as personagens, que vivem trocando farpas, mas estão sempre prontas para salvar uma à outra.
Durante o jantar, conhecemos Margaret (Elizabeth Perkins), mãe de Emily, e sua tia Linda (Allison Janney). Emily detesta as duas, e logo entendemos por quê: a mãe tem demência e foi levada à força por Linda, que só quer se aproveitar da situação.

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Mesmo com os embates, o jantar segue. Sean, o ex-marido de Emily, também está entre os convidados. Ele e Stephanie tiveram um romance depois do primeiro filme, mas aparentemente não terminou bem. Sean agora é um homem amargurado, alcoólatra e desbocado.
Na véspera do casamento, Sean é assassinado no chuveiro — e o mais bizarro é que ninguém parece ligar. Nem mesmo Stephanie, que normalmente adoraria investigar algo assim. A sensação é que colocaram o ator em cena só para matá-lo logo e fechar essa ponta do roteiro. Apesar de mais tarde explicarem quem o matou e por quê, tudo é feito com a profundidade de um pires.
Quando o plot twist chega, você já não se importa mais — só quer que acabe
Mesmo após todos esses incidentes, o casamento de Dante e Emily acontece normalmente. A festa, que dura o dia inteiro, é um espetáculo de exageros — tudo é excessivo, luxuoso, espalhafatoso. Estão claramente tentando mostrar a imponência de um chefão da máfia.
Em meio à festa, Stephanie vê Dante ser assassinado, mas não enxerga o atirador. Na tentativa de pedir ajuda, ela acaba se tornando uma das principais suspeitas — já que foi uma das últimas a vê-lo com vida.
Stephanie é colocada em prisão domiciliar no hotel, impedida de sair da Itália. Apesar de todos os indícios apontarem para Emily, há muitos álibis em jogo. E o mistério continua.
Afinal: o que realmente está acontecendo?
Stephanie percebe que está em perigo — a família da máfia acredita que ela matou Dante. Tentando fugir, ela busca ajuda da polícia americana, que já estava investigando Emily, agora foragida.
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Portia Versano (Elena Sofia Ricci), mãe de Dante, captura Stephanie e tenta extrair uma confissão à força. Ao perceber que ela não passa de uma mulher comum, mesmo assim decide mandar matá-la.
Emily salva Stephanie dos capangas de Portia. E aí vem o maior delírio do filme: existe uma terceira gêmea. Sim, uma trigêmea chamada Charity, dada como morta no parto, mas que foi criada em segredo pela tia Linda como instrumento de golpes. A nova vilã, além de psicótica, nutre uma paixão doentia por Emily.
Emily manipula Charity, faz com que ela mate a tia, assuma os crimes e passe a viver como se fosse a verdadeira Emily — agora foragida. O “outro pequeno favor” que ela pede a Stephanie? Criar seu filho, Nicky.
Por fim, concluímos que o único favor que Hollywood poderia nos fazer era saber a hora de parar
É revoltante ver tanto investimento e expectativa serem desperdiçados em um filme que tinha todos os elementos para dar certo, mas se conclui como uma novela mexicana amadora — com direito, ainda, a um gancho para continuação.
Portia encontra Emily em Roma e diz que agora ela é parte da família Versano e que, por causa da morte de Dante, ela lhe deve... um favor. Francamente? Eu, você e 99% dos espectadores só queremos uma coisa: que esse favor não seja mais um filme.
Porque se Outro Pequeno Favor já foi essa bomba, imagina um terceiro filme? Vão inventar o quê? Uma quarta gêmea? A Charity recuperando o juízo e querendo vingança? Pouco importa. Todas as possibilidades são péssimas para algo que, lá atrás, tinha começado tão bem.
Prime Video, faça-nos um favor: pare por aqui.
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