Bailarina: Uma coreografia genérica de pancadaria
No universo expandido de John Wick, acompanhamos a jornada de Eve Macarro (Ana de Armas), uma assassina habilidosa treinada pela organização Ruska Roma. Durante seu primeiro trabalho, Eve percebe que está pronta para encarar o mundo e, então, busca vingança contra aqueles que mataram sua família.
Veja o trailer de Bailarina a seguir:
O longa-metragem se passa durante os eventos de John Wick 3 - Parabellum e John Wick 4 - Baba Yaga. Inclusive, o próprio John Wick (Keanu Reeves) está presente no filme. Como Eve demonstrou ser uma assassina implacável, bem ao estilo Wick, ele é chamado para arrumar a bagunça e resolver os problemas causados por ela.
Bailarina conta com a direção de Len Wiseman, que tem no currículo diversos filmes e séries de ação, entre eles Duro de Matar 4.0 e os filmes da franquia Anjos da Noite, protagonizados por Kate Beckinsale. Isso demonstra a capacidade do diretor de conduzir uma heroína feminina, que é o principal foco do filme, dentro de um universo que exala testosterona por todos os poros.
Inclusive, ao mesmo tempo que essa é a principal proposta de Bailarina, há também uma barreira que o filme precisa quebrar. São quatro filmes protagonizados por Keanu Reeves, que já fez filmes como Matrix, Constantine e Velocidade Máxima. Um verdadeiro herói das telonas, o ator já se consolidou como uma persona quase imbatível, não é à toa que, quando o público vê as sequências de ação feitas por ele, releva todo e qualquer absurdo, pois pensa automaticamente: “Ah, mas é o John Wick”.
Será que Ana de Armas consegue levar adiante essa responsabilidade?
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Ana de Armas é uma atriz em ascensão, recentemente foi indicada a vários prêmios do cinema, incluindo o Oscar, por sua atuação em Blonde. No filme, ela encarnou o ícone do cinema Marilyn Monroe, mas, no mesmo ano em que fez Blonde, Ana demonstrou sua versatilidade como atriz em Águas Profundas e O Agente Oculto, todos em 2022. Portanto, ela transita muito bem entre biografia, drama, suspense e ação, ampliando ainda mais sua bagagem cinematográfica e seu leque de facetas como atriz.
Após se estabelecer como uma atriz versátil, além de ser uma mulher exuberante na aparência, ela busca explorar novas nuances com filmes de ação que requerem mais preparo físico e cenas de ação que exploram mais o uso do corpo em cena.
Ana, que ironicamente carrega "Armas" no sobrenome, agora as usará em muitas cenas de fugas e perseguições, que farão o espectador fechar os olhos em determinados momentos, tamanha a violência e agressividade. Sem contar que, em certas ocasiões, Eve enfrentará uma cidade inteira de mercenários loucos para pegá-la.
Bailarina tem estilo demais, substância de menos

O roteiro é assinado por Shay Hatten, o mesmo roteirista de John Wick 4: Baba Yaga, ou seja, a intenção era realmente manter os padrões da franquia, mas agora representados por uma figura feminina. É complicado resumir um filme inteiro somente a isso, mas é exatamente o que ele é: tenta emplacar uma nova personagem com as mesmas características de John Wick. Poderiam ter explorado mais do universo e da força feminina, até mesmo aproveitando essa beleza exótica de Ana de Armas, que chega a ser quase selvagem, para trazer mais originalidade à personagem. Mas não, resolveram entregar o óbvio e o genérico.
É descarado o esforço em apenas querer ganhar mais dinheiro com a expansão do universo, provavelmente para, no caso de não haver mais filmes com Keanu Reeves, ter uma espécie de substituta para o herói mercenário e vingativo.
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Inclusive, essa é outra característica em comum com John Wick: a mulher é treinada e preparada a vida inteira para ser uma mercenária e assassina, mas resolve se deixar levar por uma sede de vingança que acaba tornando-a alvo dos seus colegas de profissão.
Talvez o filme funcione para os fãs de carteirinha de John Wick, que aceitam gratuitamente e sem reclamar todos os exageros e absurdos que a franquia carrega, bem como o fato de o protagonista já ter morrido em diversas ocasiões, mas sair ileso ou, no máximo, machucado. O mesmo vai acontecer com Eve, porém com muito mais exagero, beirando o ilógico.
Nesse ponto, o filme perderá muitos pontos, seja com novos espectadores ou com a crítica, porque parece que ele testa a capacidade do público de aceitar determinados absurdos em troca do entretenimento. Sabemos que é impossível você fugir de uma rajada de balas e sair completamente ileso. Imagine escapar de um lança-chamas?
Será que a performance nos cinemas será igual à das telas?

Francamente, Bailarina não é um filme que será um blockbuster, ainda mais estreando com outros gigantes, como Lilo & Stitch e Missão Impossível, entre outros que ainda se encontram em cartaz. Pelo contrário, Bailarina é um filme que chega essa semana nos cinemas e pode ter um burburinho ou outro, porém, automaticamente, ele terá cada vez menos sessões disponíveis e, em pouco tempo, estará disponível para aluguel nos streamings.
Se ele aproveitasse o universo, mas trazendo algo novo, ainda mais sendo uma personagem nova e feminina... Mas eles fazem um CTRL C + CTRL V e mudam apenas o protagonista. Não dá, simplesmente não dá. O espectador não é idiota, na verdade, está cada vez mais exigente e seletivo, considerando que o ato de ir ao cinema se tornou um evento gourmetizado.
Se entrarmos nos problemas técnicos que dizem respeito a erros de continuidade, sequências malucas e uma mixagem de som grotesca, será mais um ponto a se avaliar se compensa ou não assistir Bailarina nos cinemas.
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Streaming: o destino mais justo para essa Bailarina
Compensa mais esperar Bailarina chegar aos streamings, porque o sabor de assisti-lo nos cinemas é indigesto. Você vai ao cinema esperando por uma coisa e recebe outra. Até mesmo Ana de Armas não está na sua melhor performance, mas não acredito que seja culpa dela, pois a atriz entrega muito quando o assunto é drama, suspense e outros sentimentos exigidos por seus personagens. Entretanto, o que mais se vê dela nas telas são cenas e mais cenas de lutas, socos, chutes, tiros e muita pancadaria, o que a acaba deixando na mesma condição de um saco de areia. Fica ali, apanha e apanha, até revida bem, mas não esboça nada.

Com Keanu Reeves, sentíamos a dramaticidade do cara que busca vingança pelo cachorro, sabe? Aqui temos uma mulher buscando vingança pelo pai, mas não conseguimos ter a mesma empatia. Isso se deve a esse conjunto de problemas: um roteiro exagerado, uma interpretação que acompanha esse roteiro e acaba deixando a protagonista, que deveria ser uma heroína, totalmente apática.
Portanto, de duas, uma: vá aos cinemas se você for muito fã do universo de John Wick e não ligar para esses excessos, ou vá se quiser tirar suas próprias conclusões, mas, nesse caso, não diga que eu não avisei!
Você está em qual time: os fãs de carteirinha de John Wick ou dos que vão esperar Bailarina chegar no streaming? Conte-nos nos comentários abaixo!
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