
Lançada em 2022, com o título original Thirty Nine, a série é um remake do drama chinês Nothing But Thirty. Estrelada, em sua versão sul-coreana, pelo trio de atrizes Son Ye-jin (de Crash Landing on You), Jeon Mi-do (de Hospital Playlist) e Kim Ji-hyun (de The Smile Has Left Your Eyes), o dorama foi dirigido por Kim Sang-ho.
Em sua exibição, ficou na lista semanal Global Top 10 por quatro semanas como programa de TV internacional mais visto na Netflix.

Um Trio Inseparável
A história gira em torno de Cha Mi-jo, filha adotiva de uma família próspera, que se tornou uma bem-sucedida dermatologista no bairro de Gangnam. Com a vida profissional estabilizada, Mi-jo não tem planos de se casar e está prestes a completar 40 anos, assim como suas duas melhores amigas: Jeong Chan-young, uma coach de atuação, e Jang Joo-hee, gerente de uma loja de cosméticos.

Amigas inseparáveis desde a adolescência, formam um trio perfeito: Mi-jo, a prática e sensata; Chan-young, a direta e sem papas na língua; e Joo-hee, a mais doce e tímida do grupo. Juntas, elas não estão particularmente preocupadas com a proximidade dos 40, pois têm umas às outras para atravessar os desafios e alegrias que essa nova fase da vida pode trazer.

Já Quarenta ou Ainda Quarenta?
O dorama chama atenção por não retratar os 39 ou 40 anos como um fim, mas como um novo ciclo. As protagonistas se divertem, têm carreiras consolidadas e, mesmo com uma delas vivendo um relacionamento controverso, o fato de não estarem casadas não é uma angústia, nem para elas, nem para o enredo.
Num mundo em que sabemos como o tempo e a idade pesam, especialmente para as mulheres, onde a sociedade insiste em nos enxergar como ultrapassadas aos 35 ou 40 anos, a série escolhe outro caminho. E isso surpreende positivamente, ainda mais considerando a produção sul-coreana, vindo de um país que ainda carrega padrões machistas e expectativas rígidas em torno da aparência feminina.

A série propõe uma inversão simbólica: não é que já estão fazendo 40, mas que ainda estão fazendo 40. Ainda há o que viver, o que descobrir, o que rir. O tempo, aqui, não é inimigo. É companhia. Não há amargura, mas uma saudade suave dos momentos que já passaram e uma abertura serena para o que ainda virá.
A leveza com que as três protagonistas nos apresentam essa nova forma de encarar a idade é um sopro de ar fresco. Em tempos em que ter 40 anos é quase um atestado de invisibilidade, em que gostar de coisas simples ou manter hobbies é visto como infantil ou deslocado, elas nos mostram o contrário: que a maturidade não precisa vir acompanhada de renúncia. Que ser feliz não é um desvio, mas um direito, mesmo (ou especialmente) quando o mundo insiste em dizer que já passou da hora.

O Fantasma do Perder
Mas, como nem tudo são flores e como toda boa história precisa de conflito e drama para avançar, logo no início já descobrimos que o trio em breve se desfará: uma das amigas está com os dias contados. E a certeza dessa perda cria, desde cedo, um vazio dolorido entre as duas que restarão.
Para nós, que acompanhamos a jornada, mesmo nos momentos leves e calorosos, há sempre uma pontada de tristeza. Sempre que as vemos juntas, rindo, se apoiando, dividindo o cotidiano, sabemos, com um aperto no peito, que uma delas logo não estará mais ali. Cada episódio, mesmo com suas doses suaves de comédia, romance e uma subtrama cativante até certo ponto, carrega um tom de despedida, um ar de espera melancólica.

E, assim como os personagens ao redor da amiga que partirá, também caminhamos com eles até o fim da estrada. Sofremos junto. Desejamos, contra toda lógica, que um milagre aconteça. Que ela fique. Que a história mude de rumo. Que a vida, só dessa vez, abra uma exceção.
Mas Thirty Nine não é um dorama de fantasia. É um dorama sobre a vida. Sobre o tempo, não aquele que sobra, mas o que ainda se tem. Sobre aproveitar os dias ao lado de quem amamos, porque o amanhã é sempre uma possibilidade, nunca uma garantia.

Subtrama
Com uma subtrama delicada sobre adoção, o dorama nos guia por temas sem pesar demais o enredo principal, oferecendo, inclusive, um respiro necessário diante da carga emocional da doença de uma das amigas. Ainda assim, essa linha narrativa secundária não é menor em impacto: ela traz uma visão sensível e necessária sobre o que é, de fato, pertencer.
A série nos mostra a sensação íntima e, muitas vezes silenciada, de uma criança adotada que, mesmo cercada de amor, pode nunca se sentir completamente pertencente. A busca por um genitor biológico, nesses casos, não é só curiosidade: é uma tentativa de encontrar uma resposta para o abandono, de entender a origem de uma ausência que parece gritar dentro do peito.

Em outros momentos, o drama revela o outro lado: quando a criança é constantemente lembrada de que é adotada. Quando, além do abandono, carrega a dor de uma identidade fragmentada, dividida entre o passado que não escolheu e o futuro que ainda não compreende como construir.
Thirty Nine nos convida a refletir sobre a profunda responsabilidade afetiva que existe em adotar uma criança. Escolher alguém para chamar de filho é mais do que um gesto nobre, é um compromisso com a construção de segurança emocional, pertencimento e amor. É garantir que, apesar das dores que vieram antes, aquela criança saiba que agora tem onde ficar. E com quem contar.
Romance Sim, Mas Nem Tanto
Apesar de a série ter, sim, elementos de romance, esse não é seu foco principal. O coração de Thirty Nine está na amizade entre as três protagonistas, é esse laço que conduz a trama, dá sentido aos conflitos e sustenta a narrativa.
Os romances funcionam mais como pano de fundo, servindo para revelar aspectos das personalidades das personagens e para mostrar o tipo de apoio, ou de dor, que encontram em seus parceiros. Mas não espere histórias de amor no molde tradicional: apenas um dos casais poderia, talvez, se encaixar nesse estilo, e, ainda assim, suas interações são discretas.

Por exemplo, logo no início, Cha Mi-jo conhece Kim Seon-u (interpretado por Yeon Woo-jin). Os dois se sentem atraídos um pelo outro e, já no terceiro encontro, ela vai até o apartamento dele, onde dormem juntos. Aqui, vale lembrar que estamos falando de adultos, pessoas mais velhas, sem aquela idealização juvenil do romance. Nesse contexto, o roteiro faz sentido, embora muitos possam preferir um desenvolvimento mais longo antes do "finalmente".
De todo modo, a química entre eles é ótima, e Kim Seon-u é um personagem simpático e carismático. É difícil não gostar dele. Ele acaba se tornando um dos pilares emocionais de Mi-jo nos momentos em que as amigas não estão por perto.

Já o segundo casal, composto por Jeong Chan-young e Kim Jin-seok, divide opiniões, principalmente na Coreia, onde a relação foi vista como problemática. Kim Jin-seok é casado e tem um filho, mas ainda se encontra com Chan-young.
A história entre eles vem do passado: foram namorados, mas a relação não vingou devido à pressão dos pais dele, que eram contra o envolvimento com uma aspirante a atriz. Kim Jin-seok foi estudar nos Estados Unidos e acabou se casando com outra mulher, com quem tem um casamento claramente infeliz. Embora ainda veja Chan-young, não há envolvimento físico entre eles. Mesmo assim, ela se sente culpada, embora não o suficiente para cortar laços de vez.
Esse relacionamento, naturalmente, gera muitas críticas de Cha Mi-jo, que não esconde a opinião de que a amiga está desperdiçando seu tempo com um homem comprometido. Cabe a cada espectador julgar os dilemas morais aqui, mas é certo que esse envolvimento trará sofrimento.

Por fim, temos a adorável Jang Joo-hee, que conhece o chef Park Hyeon-jun, dono de um restaurante chinês recém-aberto próximo à casa dela. Ela se encanta por ele desde o início, mas acredita que não tem chance, já que ele é mais novo e tem namorada. Ainda assim, os dois desenvolvem uma amizade genuína e afetuosa, do tipo que termina em conversas regadas a bebidas no fim do dia. Joo-hee, inclusive, chega a aconselhar Hyeon-jun com relação à namorada, mesmo percebendo que o namoro não vai bem. Isso, claro, deixa Cha Mi-jo e Jeong Chan-young indignadas, já que elas torcem para que a amiga acabe nos braços do chef.
Os momentos entre Joo-hee e Hyeon-jun são doces, leves e muito divertidos de acompanhar. E Joo-hee, com seu jeito meigo e atrapalhado, arranca risadas sempre que abre a boca. É impossível não se afeiçoar a ela.
Amar é Respeitar
Respeito.
Essa é a palavra que me vem à mente quando penso em como as amigas lidaram com a doença de uma delas. Porque, embora seja quase insuportável saber que alguém que se ama vai partir em pouco tempo, é preciso, antes de tudo, respeitar suas escolhas.
Com um diagnóstico de câncer no pâncreas em estágio 4, e uma taxa de cura estimada em apenas 0,8% mesmo com tratamentos como a quimioterapia, a amiga decide não se tratar. Ela sabe que, com o tratamento, talvez viva mais um ano. Sem ele, talvez seis meses. Mas, diante disso, ela escolhe viver esse tempo do seu jeito. Não quer hospitais, nem camas frias, nem efeitos colaterais. Quer estar com quem ama. Quer andar na rua, rir com as amigas. Quer viver, mesmo que por menos tempo.

Essa decisão é difícil, quase cruel, para quem fica. Especialmente para uma das amigas, que não consegue sequer imaginar o mundo sem ela. Que se recusa a aceitar, tenta argumentar, convencer, insistir. Mas, depois de lutar contra a realidade, ela entende. Ou melhor: ela sente. Percebe que a escolha da amiga não é desistência. É coragem. E, mesmo com o coração em pedaços, ela aceita. Ela respeita.

E juntas prometem uma coisa: que ela será a paciente terminal mais feliz do mundo.
E essa sequência é daquelas que quebram qualquer coração de pedra. Que nos fazem chorar não só pela dor da perda, mas pela beleza rara do amor verdadeiro, aquele que, mesmo diante do fim, escolhe permanecer.
A Realidade
Essa é a conclusão amarga a que chega a amiga diagnosticada, quando o tempo se encurta, quando as dores tomam o corpo, quando chega o momento de contar aos pais e ao seu amor que está partindo.
A série não romantiza sua escolha. Mostra a realidade dura de quem opta por viver o tempo que resta com lucidez e autonomia. Mostra as amigas cuidando de sua dieta, agora cheia de restrições. Mostra o choro escondido dos outros para não parecerem fracos. Mostra o medo de contar aos pais. A angústia de imaginar como ficará a vida deles, e das amigas, depois que ela não estiver mais ali.
Mostra tudo o que a doença vai arrancando aos poucos: as pequenas alegrias do dia a dia, os planos adiados, as coisas que pareciam garantidas.

Mas também mostra a coragem que nasce nesse fim de linha. A decisão de, enfim, realizar o que foi adiado, o que sempre pareceu possível depois. Agora, sem mais tempo a perder, ela tira dúvidas antigas – será que eu conseguiria? –, e descobre que sim, consegue. Porque, afinal, o que teria a perder?
Nos capítulos finais, quando a doença já molda o rosto da personagem e a fragilidade se torna visível, acompanhamos seus preparativos: a ida ao estúdio para tirar a foto do funeral, as decisões sobre o funeral em si. A morte deixa de ser abstrata e se torna real. Para ela. Para as amigas. Para nós.

E é aí que o tempo se transforma num personagem silencioso. Passa a ser cruel, e a gente deseja que ele congele. Que pare ali, naquela cena em que estão juntas no restaurante dos pais dela. Rindo. Comendo. Cantando. Vendo a primeira neve do inverno cair do lado de fora da janela.
Mas o tempo não para.
E a primavera chega.
Com ela, a renovação e a perda.
Vale a Pipoca?
A série é muito boa, mas carrega alguns defeitinhos que impedem que alcance a perfeição que poderia ser.
Um deles está na subtrama da adoção. Ela é bem desenvolvida quando se trata de uma personagem coadjuvante, tocando questões importantes e profundas, mas, quando aplicada à protagonista, serve apenas como justificativa para algumas de suas inseguranças. Fora isso, pouco contribui para a trama principal, que gira em torno da doença da amiga. Tanto é que, quando surge um problema envolvendo sua mãe biológica, tudo se resolve com um único diálogo. Simples assim.
Outro ponto que deixou a desejar foi o desfecho da relação entre Jang Joo-hee e Park Hyeon-jun. Até o penúltimo episódio, eram apenas bons amigos, companheiros de bebida e conselhos. No último, Joo-hee surge atendendo a uma ligação dele e falando com intimidade, em outro momento dizendo que estão em um relacionamento sério. E é isso. Não há transição, nem cenas mostrando como isso aconteceu. Uma pena, porque eles formavam uma dupla adorável, com potencial para um desenvolvimento mais trabalhado e merecido.

Um terceiro ponto, que talvez não seja exatamente um erro, mas sim uma decisão de roteiro questionável, é a forma como Jang Joo-hee é tratada por Cha Mi-jo e Jeong Chan-young. Embora o trio se declare inseparável, é evidente que Mi-jo e Chan-young são muito mais próximas entre si, e frequentemente excluem Joo-hee de conversas e decisões importantes. Em determinado momento, Chan-young agradece por uma grande ajuda recebida, e cita Mi-jo e Kim Jin-seok, mas esquece de mencionar Joo-hee. Sendo que Joo-hee esteve ao seu lado mais vezes que o próprio ex-namorado.
A própria série confirma isso quando Joo-hee desabafa com Mi-jo sobre o sentimento de ser colocada de escanteio. Ou seja, não é uma falha acidental de roteiro, é intencional. Ainda assim, soa hipócrita quando o trio reforça tanto a ideia de irmandade, mas nem sempre age com igualdade.
Fora esses detalhes, Thirty Nine vale muito a pipoca, e muitos lencinhos, para quem quiser acompanhar essas três mulheres enfrentando a curva delicada entre os 39 e os 40 anos… e a despedida de uma delas.
E então, você toparia encarar Thirty Nine ou prefere histórias com finais cem por cento felizes?

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