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Crítica - Terceira Vez é a Certa: o Dorama Que Ensina Que Nem Sempre é (e os motivos)

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Por que o roteiro de Terceira Vez é a Certa pode nos irritar tanto?

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Recentemente, assisti a um dorama que realmente achei composto por um roteiro bem problemático e vou explicar o porquê.

Um dos motivos é que a sinopse e o título do dorama levam ao erro de achar que é um drama romântico com final feliz e - spoiler! - não é bem assim.

Se você não viu o dorama e ainda quer assistir, pare a leitura aqui, porque este texto estará repleto de spoilers!

Sobre o que é esse dorama?

The Third Charm - Titulo em Inglês
The Third Charm - Titulo em Inglês

Terceira Vez é a Certa (título em português) é um drama coreano de 2018 que acompanha a turbulenta trajetória amorosa de On Joon Yeong (Seo Kang Joon), um estudante universitário tímido e metódico, e Lee Yeong Jae (Esom), uma otimista e extrovertida assistente de cabeleireiro.

O relacionamento deles se desenrola ao longo de 12 anos, marcado por encontros e desencontros que desafiam (e como desafiam!) a compreensão sobre o amor.

ator Seo Kang Joon
ator Seo Kang Joon

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Confesso que só quis ver porque o ator Seo Kang Joon é um queridinho desde que o vi em Você também é Humano?, na Netflix.

atriz Esom
atriz Esom

A falta que um diálogo faz...

Um dos elementos narrativos que mais me atraem em doramas é quando o casal conversa. Geralmente, as séries que mais me prendem são aquelas que não caem na armadilha de criar toda uma confusão apenas porque uma frase não foi dita ou não foi compreendida. A falta de diálogo me parece uma preguiça do roteirista, uma saída fácil para criar uma confusão que, com uma simples conversa, se resolveria.

Isso acontece logo na primeira fase do dorama e resulta no primeiro término do casal, com Lee Yeong Jae atirando palavras cruéis em On Joon Yeong para romper o namoro (de um dia, se muito), apenas porque ela se encontra em um problema da vida que não tem nada a ver com ele. Por isso, ele não pode ser culpado; pelo contrário! On Joon Yeong poderia consolá-la e servir como apoio emocional.

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Essa situação já cria aquele motivo preguiçoso para uma crise de casal. Tudo bem que são jovens adultos e podemos colocar isso na conta da imaturidade, mas ainda, como roteirista de quadrinhos e escritora há mais de 20 anos, vejo como um recurso fraco.

Sem falar que a protagonista feminina é retratada de maneira irascível, o que nos faz desenvolver uma certa antipatia, enquanto vemos o tímido e emocionalmente dependente On Joon Yeong correndo atrás dela, tentando entender o que houve e por que está sendo dispensado sem mais nem menos.

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Isso deixa o espectador com um gosto amargo de roteiro tendencioso e corre o risco de fazer a audiência nutrir antipatia pela figura feminina logo de partida.

O reencontro e a segunda vez que não é a certa

Quando eles se reencontram anos depois, percebemos que On Joon Yeong fez da profissão aquilo que disse que ela nunca seria: policial. Ele também mudou sua aparência e tem um trauma em relação à figura feminina, tendo evitado se relacionar justamente pelo modo como o rompimento do primeiro e único namoro ocorreu.

Por aí já notamos a imaturidade (e a falta de uma terapia) na vida do rapaz.

Mas lá vem a Lee Yeong Jae bagunçar a vida dele novamente. Depois de uma série de eventos desafortunados, a moça telefona e pede um favor ao rapaz, como se nada houvesse acontecido anos antes, como se não tivesse chutado ele com bota 45 bico largo e o deixando traumatizado por anos. E nem um pedido de desculpas é feito, nenhuma explicação, nada.

Aquele roteiro quase cheira a "odeie essa menina, por favor". Não há como mulher escritora que sou, ver essa personagem como aceitável. Sorry, but not sorry.

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Então, numa jogada não tão incrível do roteiro, através do irmão de Lee Yeong Jae, On Joon Yeong descobre o motivo do término de anos atrás e, então, corre atrás dela, perdoando (mesmo sem ela pedir perdão) e aceitando que, ok, foi justificável ser tratado feito cachorro vadio e ficar com todos esses traumas. E eles reatam o namoro.

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Oi! Red flag!

Uma conversa sobre por que ela não contou sobre o problema? Por que ela se sentia inferior? Por que se achava no direito de atirar sobre ele suas frustrações? Por que ele é um "bunda mole" que aceita isso e não entende que, como ser humano, não deve ser um saco de pancada emocional de outra pessoa? Nopes, porque nesse romance a terceira vez será a certa, né? Então já sabemos que essa segunda vez tem prazo para acabar.

E para a surpresa de zero pessoas, um novo rompimento

Com o passar da lua de mel do relacionamento, vêm à tona as diferenças de personalidades entre os dois, e Lee Yeong Jae começa a ficar insegura a respeito, enquanto On Joon Yeong se dobra para se encaixar nos padrões dela, com medo de perder a amada. Mas ainda assim, ele não consegue acabar com as crises de ciúmes. Trauma, lembram? Terapia para quê?

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E então aparece o terceiro elemento para triangular o romance: o cirurgião bonitão, boa praça, amigo para confidências, tudo em comum. E lá vai Lee Yeong Jae ficar em dúvida entre o imaturo e inexperiente On Joon Yeong, que se faz de tapete pra ela pisar, ou optar pelo doutor perfeito, Choi Ho-Cheol. O roteiro nos brinda com discussões, mal-entendidos, brigas, provocações, o tempero clássico dos doramas.

E no fim, adivinhem? Lee Yeong Jae termina de novo com On Joon Yeong. Bom, dessa vez, a gente espera que ele entenda que essa mulher não é para ele, que ele siga a vida e encontre alguém que seja compatível, não é mesmo?

Terceira vez é a certa para te matar de frustração

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O fora que levou da segunda vez foi tão forte que o protagonista resolve tirar uns anos sabáticos. Ele abandona a carreira policial e vai dar umas voltas pelo mundo, acaba em Portugal e ali redescobre seu amor pela culinária, faz um curso de chef e fica por lá uns bons anos.

Nesse período, inicia um namoro com a policial Min Se-eun, um relacionamento equilibrado, tranquilo e com alguém que tem uma personalidade parecida com a dele. Eles ficam juntos por todo esse tempo até que On Joon Yeong volta para a Coreia do Sul e decide pedir Min Se-eun em casamento.

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On Joon Yeong inaugura seu bistrô, está com a vida em ordem, tranquila, e eis que, novamente, mais uma vez, Lee Yeong Jae aparece, casada (repito!) casada com o doutor perfeito, para jantar (repito!) no bistrô de On Joon Yeong.

Roteiro, me ajuda!

Não é possível que ela não sabia que ele era o chef! É um bistrô que atende apenas uma mesa, reservado por atendimento. Não tem como esse casal não ter lido o nome e não pesquisado, saber que se tratava de On Joon Yeong! E o On Joon Yeong não leu a lista com os nomes dos clientes? Ele, pelo menos, não pesquisa para saber o que o cliente pode ou não comer? Como funciona o serviço nesse bistrô exclusivo? Isso é, no mínimo, falta de sensibilidade (e respeito) que o roteiro emprega no casal, e isso deixa uma imensa frustação como roteirista.

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Um encontro forçado que faz com que o espectador fique com ranço do casal, porque parece que foi para provocar. Não é natural que seja somente uma coincidência.

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Mas eles chegam lá, On Joon Yeong fica com cara de caderno brochura, Lee Yeong Jae está com cara de enterro e o doutor está perfeito, porque é isso que o roteiro faz dele. Com o passar do tempo, descobrimos que Lee Yeong Jae está passando por uma fase de luto. E quem ela escolhe para se aproximar e desabafar? Pois é. E quem é o bom samaritano que aceita? Quem? Pessoas, façam terapia ou vão acabar ignorando todas as red flags, como esse carinha aí.

Ele fica tão envolvido em ser o ouvido amigo da ex que acaba negligenciando a noiva e, por fim, termina o noivado. Afinal, se ele amasse tanto assim a noiva, não teria colocado a ex em primeiro lugar, né? No fim, ambos, Lee Yeong Jae e On Joon Yeong, finalmente percebem que o amor que sentem agora não é mais o mesmo e não ficam juntos. Ele vai para mais uma viagem sabática e ela vai para onde quer que ela vá.

Enfim.

Conclusão: Por que esse dorama me irrita tanto?

Como já mencionei anteriormente, o modo como o roteiro traz alguns términos incomoda os mais atentos. Essa falta de diálogo claro, as dúvidas de Lee Yeong Jae, o lado sempre passivo de On Joon Yeong deixa a narrativa bem decepcionante. Sempre com Lee Yeong Jae carregando o papel de carrasca e o rapaz sendo o capacho dela.

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A história passa por ele, e ele apenas aceita passivamente. Até mesmo para romper seu noivado (On Joon Yeong estava quase pedindo a Min Se-eun em casamento), é preciso que Lee Yeong Jae volte à cena. Só assim On Joon Yeong se sente confuso sobre seus sentimentos, sendo que antes dela aparecer ele parecia seguro e tranquilo. Fica sempre a cargo de Lee Yeong Jae ser o elemento que move a história (ainda que de um modo negativo o tempo todo) e sempre para um lado onde On Joon Yeong sofre, perde, abre mão.

E é impossível não nutrir antipatia pela personagem Lee Yeong Jae. Se ao menos, em algum momento, o movimento de mover a história para o próprio bem, para se enxergar como prioridade, fosse do próprio On Joon Yeong, creio que esse dorama teria um fim aceitável. E não, eles não deveriam ficar juntos.

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Esse relacionamento é tóxico, isso fica claro ao longo da série; juntos, apenas se machucam, e On Joon Yeong viveria uma vida passando por cima de seus sentimentos e vontades apenas para se enquadrar nas vontades de Lee Yeong Jae.

Mas sinto que On Joon Yeong não teve uma curva dramática; ele não cresceu, e tudo o que passou só o levou adiante por conta dela e não por vontade própria, sempre foi por algo que ela fez, e isso me é frustrante como roteirista e expectadora.

E, no fim das contas, passar um dorama inteiro tendo antipatia pela co-protagonista, porque o roteiro nos obrigou a isso, não é um exercício prazeroso.

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Então, não, a terceira vez não é a certa, e esse título é muito tendencioso.

E você, já viu esse dorama? Curtiu o final? O que faria diferente? Conta para a gente aqui nos comentários!