Sobre Weapons
O filme Weapons, escrito e dirigido por Zach Cregger, aposta numa narrativa fragmentada e enigmática, que salta por múltiplos pontos de vista, não entrega todas as respostas, mas planta questionamentos que reverberam bem depois da sessão acabar. Mais do que um enredo de desaparecimentos e o desenrolar da investigação, aqui temos uma ampla gama de temas em torno de violência e liberdade.
Num mundo em que a violência simbólica e social já nos atravessa diariamente, Weapons transforma cada gesto, cada reação exagerada ou cada acusação precipitada em munição de um arsenal invisível.
Enquanto sociedade, estamos evoluindo? Somos racionais? Tomamos nossas próprias escolhas? Ou só precisa de um empurrãozinho para que tudo saia do nosso controle?
Trailer Oficial
O Enredo
Weapons se passa em uma pequena cidade americana que vive o trauma coletivo do desaparecimento de um grupo de crianças. O que parecia ser um evento isolado logo revela desdobramentos mais sombrios, tanto sobrenaturais quanto sociais. A narrativa é dividida em capítulos, cada um centrado em um personagem diferente, que tenta lidar com a tragédia à sua maneira.
Justine (interpretada pela Julia Garner), uma professora, torna-se alvo da população local, acusada injustamente de estar envolvida nos desaparecimentos.
Enquanto isso, outras figuras adultas da cidade reagem de forma desesperada, criando um cenário onde o medo e o desejo por justiça se tornam uma arma poderosa. Às vezes, mais letal do que qualquer feitiço.
Mas quem, de fato, está sob controle? Existe mesmo uma vilã central? Ou todos nós, como sociedade, somos cúmplices em transformar o medo em violência, e a dor em arma?

Armas Invisíveis
Um dos aspectos mais intrigantes de Weapons é a possibilidade de interpretar o feitiço como uma metáfora para o controle social. No filme, personagens são enfeitiçados, manipulados, transformados em instrumentos de um plano que desconhecem, mas essa “magia” pode muito bem ser lida como o reflexo das pressões que sofremos cotidianamente.
As expectativas da comunidade, o moralismo, a sede por culpados, o desejo de punir alguém (mesmo sem provas): tudo isso aparece como uma forma de encantamento. Não vemos cordas puxando esses personagens, mas suas ações denunciam que eles não estão exatamente livres. São “armados” pelo sistema, pelo trauma, pelo medo.
E, nesse sentido, Weapons deixa de ser um filme sobre monstros e passa a ser um filme sobre nós mesmos.

Os códigos do gênero
Na trilha sonora, na fotografia escura e nos planos longos, Weapons aposta mais na construção de tensão do que em sustos fáceis. Cada capítulo oferece uma perspectiva diferente, com pequenas pistas que se acumulam até formar um quebra-cabeça perturbador.
As repetições, pesadelos e delírios são aproveitados ao máximo, demonstrando um completo domínio dos códigos do gênero pelo diretor. Weapons não faz terror só quando a luz apaga, mas assusta e tensiona em plena luz do dia; em casa, na rua ou numa loja de conveniência.
O destaque aqui não é a violência gráfica, mas o desconforto ético. O que fazemos quando não entendemos o que está acontecendo? Como reagimos diante do medo e da perda? E, principalmente, contra quem viramos nossas armas?
O horror do filme está menos nos elementos sobrenaturais, ainda que eles existam, e mais no comportamento humano diante do descontrole.

Liberdade ou condicionamento?
Mesmo os personagens mais violentos de Weapons não são retratados como monstros puros. Existe sempre uma nuance, uma ferida mal curada, uma origem para aquela dor. A professora que sofre linchamento midiático. O pai que perde o filho. O garoto que cresce em meio ao trauma e acaba sendo a última peça de um quebra-cabeça que não pediu para montar, tudo é um pouco verdadeiro, na mesma medida que irônico.
Cregger filma com cuidado e ambiguidade. Nada é totalmente explicado, e talvez esse seja o ponto. Porque em uma sociedade onde todo mundo carrega suas próprias tragédias, talvez o verdadeiro horror seja perceber que, no fim, ninguém está no controle de si mesmo. E o que chamamos de liberdade pode não passar de um intervalo entre uma manipulação e outra.

Muitos temas, um só assunto!
O filme é intitulado Weapons, no plural. E isso não parece ser à toa. Não há uma arma. Há muitas. São as pessoas, as instituições, os afetos distorcidos. Cada personagem, em algum momento, é “ativado” por forças que não entende. O feitiço é só a embalagem simbólica para esse mecanismo social.
O tema da desumanização atravessa o filme inteiro. O desejo de controlar o outro, de culpá-lo, de puni-lo, de fazer justiça com as próprias mãos, tudo isso transforma gente em ferramenta. E essa leitura se reforça a cada novo capítulo da história, que vai se repetindo com variações trágicas.
Mesmo sem dar todas as respostas, Weapons entrega uma fábula sombria sobre como a sociedade nos transforma, às vezes sem que percebamos, em prolongamentos do seu próprio medo.

Conclusão: vale a pena assistir?
Weapons é um daqueles filmes que você termina e fica ruminando por dias. Não tanto pelas reviravoltas, mas pelas camadas que ele insinua. É um filme sobre o horror, sim; mas não o horror que vem de fora, e sim o que brota da nossa própria necessidade de encontrar culpados, de silenciar o incômodo, de armar-se contra o invisível.
Seja você fã de narrativas fragmentadas ou interessado em leituras mais simbólicas do horror, Weapons certamente vai te deixar desconfortável. E isso é um elogio!
E você? Também se sentiu manipulado por alguma força invisível enquanto assistia ao filme? Ou será que já estamos todos enfeitiçados há muito tempo?
Até a próxima!
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