Precisamos Falar Sobre Kim Soo Hyun e sobre como projetamos aquilo que idealizamos
Sim, precisamos, mas não do jeito que você pensa, minha dorameira querida.
Se você é do time que ama um dorama e não perde as novidades – e fofocas – do mundo dorameiro, já sabe que o ator Kim Soo Hyun está na boca e nos dedos do povo do Twitter e de alguns portais da mídia, né?
Aliás, se você não é dorameiro, deve ter até chegado em seus ouvidos, ou olhos, a recente notícia sobre o cancelamento de um ator coreano famoso. Mas deve estar se perguntando: quem é esse fulano, por que estamos falando sobre ele e por que isso me interessaria?
Quem é Kim Soo Hyun?

Num resumo bem rápido, ele é um dos atores, modelos e cantores mais famosos e bem pagos da Coreia do Sul. Nascido em 16 de fevereiro de 1988, estreou como ator em 2007. Seu nome se tornou ainda mais cotado em 2011 ao interpretar um camponês que se tornaria um gênio musical no dorama adolescente "Dream High". Porém, Kim era o único ator que não tinha experiência no K-pop (Korean Pop Music, ou música pop coreana, que se caracteriza por uma gama de elementos visuais, entre eles a dança em conjunto de seus astros). Por ser inexperiente nessa área, Kim dedicou-se aos estudos e gravou a trilha sonora de "Dream High" e seu solo "Dreaming".
Mas sua popularidade disparou mesmo ao estrelar o dorama "A Lua Abraça o Sol" (Moon Embracing the Sun), um dorama de época em que interpreta um rei fictício da dinastia Joseon. Daí em diante, sua carreira decolou com sucessos e o prêmio de melhor ator dramático em 2012 no Baeksang Arts Awards.
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Fevereiro de 2025: A Trágica Morte da Atriz Kim Sae-ron

Em fevereiro de 2025, a atriz Kim Sae-ron, de 24 anos, foi encontrada morta em seu apartamento em Seul, em um aparente suicídio. A tragédia coincidiu com o aniversário de Kim Soo-hyun, o que intensificou o impacto emocional da notícia. Pouco depois, surgiram alegações de que os dois mantinham um relacionamento desde 2015, quando Sae-ron teria apenas 15 anos e Soo-hyun, 27.
E como se não bastasse, há algumas semanas, a família de Kim Sae-ron divulgou supostas evidências, incluindo mensagens e fotos, sugerindo um relacionamento de seis anos iniciado quando ela ainda era menor de idade.
O que, dadas as já péssimas circunstâncias, piorou muito a opinião pública sobre o ator.
Contenção de Danos
Em resposta, Kim Soo-hyun e sua agência, Gold Medalist, negaram as acusações de relacionamento com menor de idade. Mas, após a divulgação de mais supostas provas por parte da família, eles admitiram que os dois namoraram, mas apenas entre 2019 e 2020, quando Sae-ron já era maior de idade.
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Soo-hyun também realizou uma coletiva de imprensa chorando, negando qualquer envolvimento com a morte de Sae-ron e anunciando ações legais contra os responsáveis pelas alegações.

De qualquer modo, o escândalo teve repercussões significativas na carreira de Kim Soo-hyun. Marcas como a Prada encerraram suas colaborações com o ator, eventos foram cancelados, e projetos, como a estreia do dorama "Knock-Off", foram adiados, além de participações em programas reduzidas. Eventos foram cancelados.
Mas, apesar dessa história em si já ser motivo para investigação por parte dos interessados/autoridades, conversas, fofocas e, para muitos, cancelamento - não é disso que vou tratar neste texto. Aqui eu quero falar sobre o Kim Soo Hyun, sim, mas sobre como as pessoas estão projetando a si mesmas sobre o rapaz.
Uma Análise Sobre Como Projetamos Nossos Desejos e Frustrações Sobre Famosos
Na psicologia, especialmente na psicanálise, transferência é quando uma pessoa projeta sentimentos, desejos ou expectativas inconscientes que originalmente pertenciam a outras figuras importantes (geralmente da infância) em cima de outra pessoa. E isso é bem, mas bem comum mesmo de acontecer quando gostamos de algum famoso, seja de série, filme, dorama, YouTube, yada yada, ou qualquer outra mídia.
Devido a uma realidade que nos consome com privações e frustrações, jogamos todas as nossas expectativas sobre esse outro objeto de desejo e consumo.
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E é aqui que entramos no caso de Kim Soo Hyun e uma parte do público dorameiro que ficou bem dividido nessa história toda.
O grupo twitteiro brada querendo a cabeça do rapaz, a prisão e tudo que a justiça puder pesar sobre ele, o que, honestamente, pelas leis da Coreia do Sul, não sei se serão tão rigorosas assim.


Já o público do Instagram era mais do tipo passar um lindo pano de seda sobre tudo e dizer que o rapaz é lindo e, com certeza, é inocente.
E ambos, nota-se, estão projetando.
Sejam os justiceiros de sofá com os seus “cote-lhe a cabeça” sem o diploma de juiz ou os anos de investigação para saber toda a verdade e as provas por trás desse caso, seja as fãs que projetam sobre o ator um príncipe encantado, feito seus personagens, incapaz de errar, perfeito com suas caras e bocas.

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Uma parte do público dorameiro realmente se esquece de que o que os doramas vendem não é, e nunca será, a realidade coreana. Aquilo é o mesmo que achar que o Brasil é todo o Leblon das antigas novelas de Manoel Carlos.
Eles vendem um tipo de sonho romântico que gostamos de consumir, para quem está cansado da panfletagem hollywoodiana, exausto de filmes onde a paixão é avassaladora e todo o desenvolvimento e envolvimento do casal se dá nos primeiros 10 minutos de cena. E que cenas! Cheias de genitálias se esfregando na nossa cara sem nem pedir licença (Oi, HBO!). Repletas de mulheres tão fortes que perderam suas feminilidades, que não precisam de homens para nada e bradam isso aos quatro ventos tão forte e repetidamente que nos fazem suspirar de tédio.
Não. Os doramas românticos são uma brisa leve, plácida, onde o roteiro acontece ao seu tempo, com calma, respiro. Conhecemos seus personagens, suas famílias, seus dramas, suas dúvidas. Tudo é tão devagar que vibramos com um simples gesto, como uma mão sobre a outra, um olhar, um selinho.
E não nos envergonhamos disso. O dorama trouxe de volta o romantismo perdido nos últimos anos. Mas também trouxe com força essa projeção de achar que o ator/atriz é o personagem, que o ator é aquele príncipe inatingível sim, mas perfeito.
E, spoiler: não é não.
A Coreia do Sul continua em sua cultura sendo um país machista, onde as mulheres, por exemplo, ganham em média quase 1/3 menos que os homens. E até os anos 80, pasmem - o abuso físico e a agressão sexual contra mulheres eram tão comuns que nem havia termos para definir tais ações.
Então, não... a Coreia não é um mar de rosas como os doramas, assim como o Brasil não é só praia de Ipanema (ou favela) e garotas de biquíni.
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Conclusão: Sonhar Sim, Mas Com Os Dois Olhos Abertos
Precisamos tomar cuidado com isso. Cuidado para não confundir realidade com ficção, seja para inocentar ou culpar alguém. Porque, na vida real, isso pode custar caro. Logo, falando sobre o Kim Soo Hyun, também colocamos uma lupa sobre nós mesmos.

Não tem nada de errado em gostar de um romance açucarado, de amar aquele príncipe encantado, rei, CEO romântico, galanteador dos doramas, mas é bom sempre lembrar que a realidade não é assim e todos, sejam famosos ou anônimos, têm suas qualidades e defeitos. E você pode estar cancelando ou ajudando a destruir a carreira de alguém inocente, ou passando pano para um ser humano terrível que cometeu crimes hediondos.
E vocês, já se viram projetando seus desejos ou frustrações sobre um famoso? Ainda o fazem ou deixaram isso lá atrás, na infância ou adolescência?
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