Conhecendo a Trama

Entre inseguranças adolescentes, cabelo rebelde e amores juvenis, Amor Enrolado (Love Untangled, 2025) é ambientado em 1998, e o filme acompanha Park Se-ri (Shin Eun-soo), que vive em guerra com seus cabelos naturalmente cacheados, se sentindo menos bonita que sua irmã gêmea, que puxou à mãe e nasceu com cabelos lisos. Por essa falta de confiança em sua aparência, e após sofrer vendo todos os seus primeiros amores indo embora da cidade após se declarar para eles, Park Se-ri diz para os amigos que só vai se declarar para o seu amor de colégio quando “controlar” o seu cabelo cacheado.

Porém, a chegada de Han Yoon-seok (Gong Myoung) é um elemento que ela não contava, e assim começa o clássico romance e um movimento que vai curando, aos poucos, sua autoestima.
O longa é dirigido por Namkoong Sun, com roteiro de Ji Chun-hee e Wang Doo-ri, e Cha Woo-min no papel do popular Kim Hyun. A estreia mundial ocorreu na Netflix em 29 de agosto de 2025.
Os Enrolados
Apesar de ser um filme romântico bem no estilo água com açúcar e não tratar o complexo de Park Se-ri com um peso autodepreciativo, a verdade é que, para a sociedade sul-coreana, os cabelos cacheados não foram bem vistos. E ainda não o são completamente.
A Coreia do Sul é conhecida por seus rígidos padrões de beleza, que levaram alguns coreanos a recorrerem a diversas cirurgias plásticas, assim como procedimentos menos agressivos, como alisar seus cabelos cacheados com o uso de produtos químicos.

A verdade é que muitos coreanos têm cabelos cacheados ou ondulados, mas costumam manter isso em segredo, já que a maioria opta pelos populares "Korean Magic Straight Perm" ou o "Japanese Straight Perm", em vez de usar seus cachos naturais. Essas técnicas foram criadas em meados dos anos 90 e não demoraram para se tornarem populares em toda a Coreia do Sul no início dos anos 2000.
Um dos motivos para os coreanos cacheados não gostarem de exibir seus cabelos naturais é o estigma com que a mídia os trata. Nos raros casos em que cabelos cacheados são exibidos, as mulheres são retratadas como pouco profissionais, desleixadas ou em meio a uma crise existencial.

Outra representação de cabelos cacheados na mídia coreana é a conexão que fazem deles com as ajummas (mulheres coreanas mais velhas e casadas). As ajummas são geralmente retratadas como tendo cabelos curtos, cacheados ou com permanente. Para muitas mulheres que antes mantinham a aparência jovem de cabelos lisos, fazer permanente é um rito de passagem da idade dos 40 para os 50 anos.
Todos esses aspectos contribuem para perpetuar a ideia de que essa textura capilar é menos desejável.
Fonte: AllureDesenrolado
Apesar de toda essa questão estética sobre os cabelos, Park Se-ri não é uma personagem retraída ou tímida. Pelo contrário, ela é muito decidida, engraçada e espirituosa, além de super solícita e com uma energia que contagia as pessoas em volta. Ou seja, o longa não deseja colocar em primeiro lugar as questões sobre autoestima ou bullying. Ele nem passa perto deste segundo tema. Aliás, o filme é apenas um romance com uma pitada de autoaceitação.
Mais pontos a respeito são que esse gênero de amores, de descobertas, de inseguranças e de pequenos gestos, tem algo sagrado: ele nos permite descansar a mente. Em momentos de tantas narrativas carregadas, um filme como Amor Enrolado oferece refúgio.

Por exemplo, o primeiro ponto é a descompressão emocional, porque nos mergulha em dilemas adolescentes, mas não é confrontado com violência, mortes dramáticas ou crises existenciais pesadíssimas. É um tipo de entretenimento que abraça, sem sufocar, as emoções. E nos faz lembrar de nossas próprias experiências passadas (ou presentes, dependendo da idade).
O segundo é a reconexão com nosso interior, porque, mesmo para quem já passou dessa fase, assistir a uma protagonista jovem e vulnerável nos lembra como éramos ou como nossos amigos eram em nossa juventude. Voltamos à fase de transformação entre a infância e a idade adulta.

O terceiro é o alívio da complexidade narrativa. Em vez de múltiplas tramas entrelaçadas com transtornos, reviravoltas violentas e segredos terríveis, Amor Enrolado escolhe focar em um arco emocional simples e direto. Isso dá espaço para o espectador sentir, sem ter que ficar pensando em pistas ou signos escondidos.
O quarto é a doçura sem excesso de açúcar. Há ingenuidade, mas ela não é boba. As falhas são visíveis, o sofrimento verossímil, o amadurecimento ambíguo. Essa dosagem torna o romance meigo, mas crível.
Para quem busca algo leve, é reconfortante.

Escorregadas
Como nem tudo é perfeito (aliás, nada é), vai uma pequena lista dos defeitos do filme, coisas que poderiam melhorar a trama, mas que não impedem que quem assistir tenha uma experiência divertida.
Amor Enrolado não possui um enredo original. Ele não reinventa o gênero teen romântico e se apoia em fórmulas já bem conhecidas, como triângulos amorosos, insegurança estética, ajuda ao novo colega de classe e coisas do tipo. Não há tentativa de reinventar a roda ou adicionar algum toque mais ousado.

Possui a típica previsibilidade em momentos importantes. Por exemplo, certos arcos ficam óbvios, como a certeza de que o casal não será feliz antes de uma provação final. E você a vê chegando descaradamente.
Falta profundidade em certas relações secundárias. Aqui, confesso que fiquei um pouco decepcionada, porque alguns coadjuvantes ficam muito rasos, sem exploração, e eles poderiam ser melhor utilizados, especialmente o segundo e hilário casal da trama.
Mas, como dito anteriormente, isso não vai estragar a experiência de quem já souber esses detalhes antes de assistir ao filme.

Vale a Pipoca?
Amor Enrolado é simples na premissa, mas carrega sensibilidade sem forçar. Ele não pretende romper paradigmas, apenas trazer a experiência de um romance entre jovens.

Para quem quer escapar, por algumas horas, de tramas mais complexas, com certeza vale a pipoca. Mas, se você está cansado de mais do mesmo e do romance clichê sem nada de original em sua narrativa, é melhor escolher outro do catálogo.
E você, vai dar play em Amor Enrolado ou já se cansou desse gênero?

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