Invocação do Mal 4: O Último Ritual – Um adeus nas mãos do diretor errado
Desde seu surgimento em 2013, criado pelo mestre do terror James Wan, chega ao fim a franquia de filmes Invocação do Mal, que na franquia original conta com quatro filmes e outros seis spin-offs. Todos os filmes compõem o universo que foi carinhosamente apelidado de “Invoca-verso” pelos fãs da franquia.
Confira o trailer de 'Invocação do Mal 4: O Último Ritual
O caso real que deu origem ao novo filme
Invocação do Mal 4: O Último Ritual leva esse nome não apenas por ser o último de sua franquia, mas também por ter sido de fato um dos últimos casos enfrentados pelo casal Ed e Lorraine Warren. O caso em questão é o da família Smurl, que aconteceu em meados da década de 80 na Pensilvânia e ganhou muita repercussão na mídia.

Os Smurl se mudaram para uma casa na Pensilvânia em meados de 1976 e passaram a viver uma vida tranquila nos primeiros anos. Porém, em 1985, as coisas começaram a mudar, principalmente quando um lustre caiu do teto e feriu uma das filhas. A partir daí, outros eventos estranhos começaram a acontecer na casa. Eles presenciaram acontecimentos que descreveram como sobrenaturais, como cheiros ruins, objetos que se moviam e agressões fantasmagóricas. Como no filme, o cachorro da família chegou a ser arremessado contra a parede por uma entidade. O pai, Jack Smurl, relatou que foi agredido sexualmente, mas essa cena é apresentada no filme de outra forma.
Desesperados, os Smurl chegaram a levar padres até a casa, mas não conseguiram exorcizar o local. Resolveram então apelar para programas de TV e jornais, na tentativa de chamar a atenção de alguém que conseguisse ajudá-los. Foi dessa forma que os Warren tomaram conhecimento do caso. Eles foram até a casa para ajudar a família e, com a investigação que fizeram, concluíram que quatro forças assombravam a moradia. Havia uma idosa, uma garota, um homem e um demônio que controlava todos os outros espíritos.
Após meses tentando combater as entidades, nem mesmo Ed e Lorraine Warren obtiveram êxito.
Um tempo depois, ainda em 1986, ano em que tudo isso aconteceu, incluindo a intervenção dos Warren, os Smurl alegaram que as coisas tinham melhorado, mas que ainda podiam ouvir batidas e ver sombras pela casa. Em 1988 eles se mudaram. A nova moradora alegou nunca ter visto ou ouvido nada de estranho na casa. Será que as entidades foram embora com a família?
Como um diretor pode afundar uma franquia bem consolidada

Para muitos, as expectativas para Invocação do Mal 4 já não eram as melhores. O antecessor, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021), já não tinha sido grande coisa, e o diretor do quarto filme é o mesmo, Michael Chaves.
Michael Chaves dirigiu outros filmes da franquia do ”Invoca-verso”. Além de Invocação do Mal 3, ele assumiu a direção de A Maldição da Chorona (2019) e A Freira 2 (2023). Ambos os filmes não tiveram uma boa recepção da crítica nem do público. Apesar de estar à frente de muitos projetos de terror, não quer dizer que ele leva jeito para a coisa. Ele parece apenas amigo ou próximo das pessoas certas, porque tudo o que faz se transforma em algo genérico e esquecível.
Começando por A Maldição da Chorona, o filme mostra um caso que se passa em Los Angeles na década de 1970. Uma assistente social cria seus dois filhos sozinha depois de ser deixada viúva. Ela começa a ver semelhanças entre um caso que está investigando e a entidade sobrenatural chamada Chorona. A lenda conta que, em vida, Chorona afogou seus filhos após um ataque de ciúmes e depois se jogou no rio, debulhando-se em lágrimas. Agora ela chora eternamente, indo atrás e capturando outras crianças para substituir seus filhos. A única ligação desse filme com o ”Invoca-verso” é o Padre Perez (Tony Amendola), o mesmo padre de Annabelle 1 e 2, tornando Chorona um subproduto de Invocação do Mal.
Depois tivemos A Freira 2, feito por duas razões. Primeiro pelo enorme sucesso que a Freira demoníaca fez, assim como a boneca Annabelle, portanto queriam surfar no hype. Segundo pelo argumento da conexão com Invocação do Mal 2, onde Valak apareceu para os Warren pela primeira vez.
Valak teria possuído Maurice (Jonas Bloquet). Dessa forma, o demônio ganhou o mundo e conseguiu cometer suas heresias. No longa-metragem, essa entidade é colocada como um ser que está sempre em busca de relíquias cristãs para se tornar cada vez mais poderoso e invencível. No filme, ele queria os olhos de Santa Luzia, que dariam o dom da clarividência. Essa habilidade é compartilhada por Irene (Taissa Farmiga) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) por serem descendentes de Santa Luzia, o que explica a ligação da Freira com Lorraine em Invocação do Mal 2.
O ponto é que, se você assistir aos três filmes: A Maldição da Chorona, A Freira 2 e Invocação do Mal 4, vai perceber que, apesar das boas premissas, elas não são bem desenvolvidas. Os três filmes seguem praticamente a mesma receita de coisas que amedrontam, dão medo ou susto e, no final, em poucos minutos, são resolvidas por Irene ou pelos Warren.
No quarto filme de Invocação, a situação piora. Os Smurl, que deviam ser o foco, como foi o caso dos Perron (Invocação do Mal, 2013) e dos Hodgson (Invocação do Mal 2, 2016), ficam em segundo plano e quase desaparecem da história. Os roteiristas Ian Goldberg, Richard Naing e David Leslie Johnson-McGoldrick criam um outro passado para os Warren para dar protagonismo a Judy (Mia Tomlinson), que em 1986 é uma jovem prestes a se casar. O filme então apresenta duas histórias paralelas, a novela Warren e o terror dos Smurl.
James Wan faz falta com toda sua criatividade
É praticamente unânime o sentimento de que as mãos de James Wan fazem falta na direção dos filmes. Ele dirigiu Invocação do Mal 1 e 2 e teve a sacada de explorar os casos paranormais investigados pelo casal Warren. Eles já eram conhecidos pela mídia e pelos curiosos pelo sobrenatural, mas jamais receberam a atenção que surgiu com o primeiro filme.

Invocação do Mal mistura documentação e dramatização de uma família atormentada por uma entidade maligna. Não são apenas jump scares acumulados. No filme, em vez de apenas assustar, você acompanha os personagens lidando com a situação. Isso é o que Michael Chaves não consegue fazer com a mesma eficiência.
James Wan aparece apenas como produtor executivo e até uma pontinha no final do filme. Ele ainda acredita na franquia e investe nela, mas sabe a hora de parar. Em Invocação do Mal 3 já ficou claro que esse momento tinha chegado. Como ele não encerrou ciclos, nos entregaram o quarto filme, que se fecha no padrão novela mexicana.
O que podemos considerar saldo positivo do filme
Os elementos ou alegorias demoníacas utilizadas são interessantes, apesar de pouco aproveitadas. No filme há o espírito de uma mulher que se assemelha a uma bruxa, um homem com um machado e uma entidade demoníaca que os usa como fantoches, mas que não aparece como a imagem cristã diabólica.

Há cenas bem interessantes, como a filha percebendo algo estranho na filmagem da sua primeira comunhão, o que culmina numa sequência de perseguição pelo espírito do homem. A cena da boneca que engatinha falando “mommy”, as manifestações com a mãe pela casa e, por último, a possessão de Judy são bons exemplos.
Isso mostra que o roteiro e a direção não foram dos melhores, porque o filme tem cenas e elementos que, somados a boas tomadas de decisão, fariam de Invocação do Mal 4 um excelente desfecho.
O adeus aos Warren em um ritual mal conduzido

Quando a franquia deveria entregar um desfecho à altura, fecha suas cortinas com uma trama bagunçada que mais parece um spin-off perdido do que a conclusão da saga dos Warren. O terror fica em segundo plano, os Smurl praticamente desaparecem e sobra uma novela familiar que ninguém pediu para ver. Quando um fã da franquia assiste a um filme de Invocação do Mal, espera receber a mesma experiência que os dois primeiros filmes.
James Wan sabia dosar tensão, suspense e emoção. Michael Chaves, por outro lado, confunde susto barato com atmosfera e transforma o que era uma marca registrada em um festival de clichês. A fotografia escura, os jumpscares previsíveis e a falta de impacto emocional fazem o filme parecer mais um título genérico de terror do catálogo de streaming.
No fim das contas, Invocação do Mal 4 não é apenas o encerramento da franquia, mas também sinaliza que o ”Invoca-verso” perdeu força há tempos. O problema não é dar adeus, toda saga precisa de um fim. O problema é dar adeus nas mãos erradas. Merecíamos muito mais do que esse último ritual mal conduzido.
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